São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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PF não afasta suspeita sobre ex-ministro

Participação de Silas Rondeau, cotado para reassumir Minas e Energia, em suposto esquema de propina não foi esclarecida

Investigação aponta que dinheiro estaria na bolsa de funcionária da construtora, e não em envelope levado ao ministério; defesa nega

Alan Marques-31.jul.2006/Folha Imagem
O presidente Lula com o então ministro Silas Rondeau em reunião de discussão do projeto do Biodiesel, no Palácio do Planalto

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O dinheiro que teria sido dado pela empreiteira Gautama ao ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau como pagamento de propina, de acordo com a investigação da Polícia Federal, foi ao ministério na bolsa da diretora financeira da construtora, Maria de Fátima Palmeira.
A informação desmonta a defesa do ex-ministro e do ex-assessor dele Ivo Almeida Costa, centrada na hipótese de que, para a PF, o dinheiro estava num envelope. Ambos alegam inocência baseando-se em uma perícia segundo a qual os R$ 100 mil não caberiam no envelope que estava nas mãos de Maria de Fátima ao entrar no ministério em 13 de março deste ano. No inquérito da PF, no entanto, não há menção sobre onde Maria de Fátima teria transportado a suposta propina, mas ao fato de ela estar com uma "bolsa grande a tiracolo".
A versão de que os R$ 100 mil estavam no envelope surgiu pela primeira vez com a divulgação, no programa de TV "Fantástico", das imagens do circuito interno de TV do ministério. Nas cenas, que constam do inquérito, a diretora da Gautama chega ao ministério com um envelope. Depois de passar um tempo na ala onde fica o gabinete de Rondeau, Maria de Fátima deixa o local sem o envelope, que em seguida aparece nas mãos de Ivo Almeida Costa.
A defesa do ex-assessor de Rondeau encomendou um laudo ao perito Ricardo Molina, que concluiu não ser possível colocar R$ 100 mil num envelope como o das imagens.
O advogado José Gerardo Grossi, que representa Rondeau, disse que, na verdade, Costa tinha em mãos um papel com o registro do encontro com Fátima e a informação de que ela foi tratar com ele sobre o gasoduto de Urucu (AM), uma obra da Petrobras na qual a Gautama tinha interesse.
Sobre a versão de que ela levaria na bolsa R$ 100 mil de propina, Grossi disse que só vai se manifestar se o Ministério Público oferecer a denúncia.
A PF sustenta que o valor teria sido repassado ao ministro pelo então assessor como pagamento por benefícios à Gautama na instalação de uma das etapas do programa Luz para Todos no Piauí, em 2006.
Na última semana, o governo deu sinais de que pretende reconduzir Rondeau ao ministério, por considerar que não há provas de que ele tenha cometido algo ilícito. O ministro Tarso Genro (Justiça) declarou que não "viu nenhum delito que pudesse ser imputado ou provado contra o ministro".
A PF seguiu todo o rastro do dinheiro, desde o saque na agência da Caixa Econômica Federal, em Salvador, até, segundo a investigação, ser entregue ao então assessor do ministro em 13 de março.
A defesa também argumenta que, se de fato houvesse dinheiro para ser entregue, a polícia teria efetuado flagrante.
Fontes da PF argumentam que o flagrante desmobilizaria toda a investigação, uma vez que a Operação Navalha não tinha como objetivo apurar a corrupção só no Ministério de Minas e Energia. Neste caso, a PF opta por fazer uma "ação controlada", o que significa que as prisões só são desencadeadas no final da investigação.
Outra dificuldade para o flagrante é que o dinheiro teria sido entregue na sala do então assessor do ministro, e a PF alega que não teria como fazer um flagrante no local.
Os investigadores afirmam que a PF não tem foto do ministro ou de seu assessor contando o dinheiro da propina, mas que há uma conjuntura de fatores que leva à conclusão de que houve o pagamento.
Numa agenda do empresário Zuleido Veras, dono da Gautama, no dia 13 de março, o mesmo da ida de Fátima ao ministério, há uma anotação: "Falar com o ministro Silas".
Os policiais também consideram que Rondeau se complicou no depoimento que prestou à ministra Eliana Calmon, do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele afirmou que não participou de nenhuma reunião com Zuleido, enquanto seu ex-assessor disse que o dono da Gautama esteve no ministério umas três vezes, uma delas com o ministro.
Policiais avaliam que a tese de que a PF estaria revendo sua versão sobre o ex-ministro é estimulada pela demora do Ministério Público de apresentar a denúncia sobre os acusados pela Operação Navalha.


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