São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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Politização de bancos gera insatisfação

Denúncias reacendem pressão por privatização de instituições estaduais e federais; PT é contra mudança

SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dez anos depois do lançamento do Proes -programa de socorro financeiro aos bancos estaduais que consumiu R$ 62 bilhões dos cofres públicos para sanear essas instituições-, as recentes denúncias de desvio de dinheiro envolvendo o BRB (Banco de Brasília) e a Nossa Caixa mostram que a ingerência política não acabou e reacenderam na área econômica o movimento pela privatização desses bancos.
A tese, porém, esbarra no PT, que sempre foi contra a privatização. Na contramão dessa corrente, inclusive, o partido e as demais siglas aliadas ao governo têm conseguido aumentar o loteamento das instituições controladas diretamente pela União, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. A repolitização dos bancos federais gera insatisfações entre os servidores concursados.
No BB, um grupo de funcionários enviou uma carta anônima ao ministro Guido Mantega (Fazenda) pedindo que ele revisse a indicação de Milton Luciano dos Santos para a vice-presidência de Varejo e Distribuição -atribuída ao presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Ele foi condenado a dois anos de prisão por uma operação de crédito feita em 1991 e considerada irregular, mas a pena foi substituída por trabalho comunitário e, em seguida, suspensa porque o crime já havia prescrito. Mantega não se manifestou sobre o assunto, e o BB considera o caso encerrado.
Na Caixa, a disputa política extrapolou as indicações dos nomes e chegou às atribuições de cada um para evitar fortalecimento de alguns aliados e enfraquecimento de outros.
Enquanto nos bancos federais a preocupação é que o loteamento político abra espaço para maior ingerência do controlador a ponto de comprometer o resultado da instituição ou, ainda, favorecer aliados, nos bancos estaduais a situação está mais avançada.
No BRB, graças às relações com o ex-presidente da instituição Tarcísio Franklin de Moura, o ex-governador Joaquim Roriz conseguiu descontar um cheque de R$ 2,23 milhões do BB. Um esquema desvendado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Distrito Federal desviava recursos do banco por meio de contratos sem licitação com a Asbace, a associação dos bancos. O Ministério Público investiga esquema parecido no paulista Nossa Caixa.
Depois do escândalo, o governador do DF, José Roberto Arruda, foi negociar com o Banco Central a venda do BRB. O banco é um dos seis que permaneceram sob controle estadual depois da onda de intervenções, liquidações e privatizações desencadeada com o Proes, a partir de 1997, e foi o único que, na época, não recebeu dinheiro do governo federal para ser saneado.
A proposta inicial do governador do DF era transformar o BRB num banco de fomento para financiar investimentos no Centro-Oeste. O BC, no entanto, não vê com simpatia essa idéia e prefere a venda. O tema é considerado delicado no governo porque mexe com bandeiras do PT. Na Fazenda, alguns secretários preferem a privatização dos bancos estaduais remanescentes, mas temem a repercussão negativa.


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