São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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Ligação entre Pitta e Nahas ajudou a repatriar US$ 1 mi

Dinheiro, segundo a Promotoria, teve origem nos supostos esquemas de desvios ocorridos na gestão do ex-prefeito

Megainvestidor teria sido o responsável por enviar o dinheiro desviado da prefeitura ao exterior, segundo ex-primeira-dama

CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A relação entre o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o megainvestidor Naji Nahas, agora acusados na Operação Satiagraha, não é nova. Ela foi o ponto de partida de uma investigação que conseguiu repatriar, dois anos atrás, US$ 1 milhão depositado em contas abertas em paraísos fiscais.
O dinheiro, de acordo com o Ministério Público Estadual, teria origem nos supostos esquemas de desvios de verbas de obras públicas durante a administração do ex-prefeito em São Paulo, entre 1997 e 2000. Naji Nahas seria o responsável por enviar o dinheiro ao exterior.
Tais afirmações foram feitas aos promotores paulistas pela ex-mulher de Pitta, Nicéa Camargo, no dia 11 de dezembro de 2001. Apesar de os dois acusados negarem veementemente o esquema, foi a partir desse depoimento que as autoridades brasileiras conseguiram rastrear o caminho de parte do dinheiro supostamente desviado e, por fim, repatriá-la.
O Ministério Público paulista diz que ainda não é possível relacionar o esquema denunciado por Nicéa ao desbaratado agora pela Polícia Federal.
As autoridades envolvidas na Operação Satiagraha, porém, não descartam a possibilidade de Pitta ainda estar resgatando quantias de suas supostas contas do exterior, já que foi visto mais de uma vez no escritório de Nahas para pegar dinheiro.
Entre 1999 e 2000, a ex-primeira-dama de São Paulo virou pelo avesso a vida do então prefeito, com diversas acusações de desvios de verbas públicas. Pitta chegou a ser afastado do comando da prefeitura durante 18 dias, mas conseguiu recuperar a cadeira por meio de recurso judicial.
Pitta chegou à prefeitura da maior cidade do país com o aval de seu antecessor, o hoje deputado Paulo Maluf (PP), de quem era secretário de Finanças. A atuação como auxiliar de Maluf rendeu a ele uma condenação na Justiça, que saiu este ano, por seu envolvimento no escândalo dos precatórios. Pitta conseguiu o direito de recorrer da sentença em liberdade.
Também no início do ano, o ex-prefeito foi condenado novamente, desta vez por fazer propaganda irregular durante sua gestão. A sentença, à qual ainda cabe recurso, o condenou a devolver R$ 13 milhões aos cofres municipais. Além disso, Pitta ainda responde a outras ações por supostas ilegalidades cometidas quando estava no comando do município.

"Consultor"
Depois que deixou a prefeitura, ele ainda tentou incursões na vida pública. Candidatou-se duas vezes para a vaga de deputado federal, a última delas pelo PTB, mas não se elegeu.
Pitta apresenta-se hoje como "consultor financeiro empresarial". Questionados ontem pela Folha, seus advogados não souberam dizer quais são os clientes do ex-prefeito. Durante alguns anos pós-prefeitura, ele trabalhou no mesmo escritório de um velho conhecido, o advogado Edvaldo Brito, secretário de Negócios Jurídicos durante sua administração.
A relação do ex-prefeito com megainvestidor nunca foi rompida. A proximidade entre eles pôde ser constada em 1996, um ano antes de o ex-prefeito assumir a cidade: ele foi ao casamento da filha de Nahas.
Aos 61 anos, Pitta tem hoje uma nova mulher, a empresária Rony Golabek, proprietária de loja que importa roupas.
Há dois anos, quando preparava sua candidatura à Câmara dos Deputados, o ex-prefeito declarou em entrevista: "Já paguei todos os pecados que uma pessoa pública pode pagar".


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