São Paulo, quinta-feira, 09 de julho de 2009

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Ossada exumada em 2001 deve ser de militante italiano

Libero Castiglia foi o único estrangeiro que participou da guerrilha do Araguaia

Esqueleto foi recolhido no cemitério de Xambioá (TO) e apresentava características compatíveis com o italiano, que teve as mãos cortadas


SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)

Indícios coletados por pesquisadores e parentes indicam que um esqueleto exumado em 2001 no cemitério de Xambioá (TO) pertenceu ao guerrilheiro italiano Libero Giancarlo Castiglia, o Joca, único estrangeiro que participou da guerrilha do Araguaia nos anos 70.
Ainda não identificada, a ossada está em poder da Comissão de Mortos e Desaparecidos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência.
Antropólogos forenses do Instituto Médico Legal de Brasília, levados a Xambioá pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, fizeram a exumação. Na ocasião, eles recolheram mais seis ossadas.
O esqueleto indicado como do italiano estava a 2 m de profundidade, em área vizinha ao local onde foram desenterradas as ossadas de Maria Lúcia Petit e Bergson Gurjão Farias. Até agora, Petit e Farias foram os únicos guerrilheiros identificados pelo governo federal. Ela foi exumada em 1991; Jorge, em 1996. Existem ainda cerca de 60 desaparecidos.
Desde a localização, a ossada chamou a atenção dos especialistas. Além da profundidade excessiva para enterros em Xambioá (o padrão é de 1,70 m sob a terra), o esqueleto tinha braços para frente, como se tivessem sido amarrados. Faltavam os ossos das mãos, o que indica uma separação do cadáver. Sobre os ossos, os antropólogos forenses recolheram uma ceroula de lã italiana, roupa inusual na região do Araguaia.
A suspeita é reforçada pelas declarações do major Sebastião Curió -que participou da repressão à guerrilha do então clandestino PC do B-, de que Joca teve as mãos decepadas.
A pesquisadora Myrian Alves aponta a ossada sem mãos como sendo provavelmente de Joca. Ele militou no movimento operário carioca nos anos 60 e foi um dos primeiros a ir para o Araguaia. Está desaparecido desde dezembro de 1973, quando tinha 29 anos.
Localizado pela Folha no interior do Estado do Rio, Wladimir Castiglia, 36, único parente de Joca no Brasil, disse que aguarda uma informação do governo sobre a identificação. Ele, que esteve em Xambioá em 2001, disse que sempre esteve convencido de que aquele esqueleto pertenceu ao tio.
Castiglia já cedeu sangue para o exame de DNA. Seu tio Antonio veio da Itália para ter sangue coletado para ajudar na identificação do irmão. Representante do governo brasileiro também esteve na Itália há dois anos para coletar sangue da mãe de Joca, Elena Castiglia.


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