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Ossada exumada em 2001 deve ser de militante italiano
Libero Castiglia foi o único estrangeiro que participou da guerrilha do Araguaia
Esqueleto foi recolhido no cemitério de Xambioá (TO) e apresentava características compatíveis com o italiano, que teve as mãos cortadas
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)
Indícios coletados por pesquisadores e parentes indicam
que um esqueleto exumado em
2001 no cemitério de Xambioá
(TO) pertenceu ao guerrilheiro
italiano Libero Giancarlo Castiglia, o Joca, único estrangeiro
que participou da guerrilha do
Araguaia nos anos 70.
Ainda não identificada, a ossada está em poder da Comissão de Mortos e Desaparecidos
da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência.
Antropólogos forenses do
Instituto Médico Legal de Brasília, levados a Xambioá pela
Comissão de Direitos Humanos da Câmara, fizeram a exumação. Na ocasião, eles recolheram mais seis ossadas.
O esqueleto indicado como
do italiano estava a 2 m de profundidade, em área vizinha ao
local onde foram desenterradas
as ossadas de Maria Lúcia Petit
e Bergson Gurjão Farias. Até
agora, Petit e Farias foram os
únicos guerrilheiros identificados pelo governo federal. Ela
foi exumada em 1991; Jorge, em
1996. Existem ainda cerca de
60 desaparecidos.
Desde a localização, a ossada
chamou a atenção dos especialistas. Além da profundidade
excessiva para enterros em
Xambioá (o padrão é de 1,70 m
sob a terra), o esqueleto tinha
braços para frente, como se tivessem sido amarrados. Faltavam os ossos das mãos, o que
indica uma separação do cadáver. Sobre os ossos, os antropólogos forenses recolheram uma
ceroula de lã italiana, roupa
inusual na região do Araguaia.
A suspeita é reforçada pelas
declarações do major Sebastião
Curió -que participou da repressão à guerrilha do então
clandestino PC do B-, de que
Joca teve as mãos decepadas.
A pesquisadora Myrian Alves
aponta a ossada sem mãos como sendo provavelmente de
Joca. Ele militou no movimento operário carioca nos anos 60
e foi um dos primeiros a ir para
o Araguaia. Está desaparecido
desde dezembro de 1973, quando tinha 29 anos.
Localizado pela Folha no interior do Estado do Rio, Wladimir Castiglia, 36, único parente
de Joca no Brasil, disse que
aguarda uma informação do
governo sobre a identificação.
Ele, que esteve em Xambioá
em 2001, disse que sempre esteve convencido de que aquele
esqueleto pertenceu ao tio.
Castiglia já cedeu sangue para o exame de DNA. Seu tio Antonio veio da Itália para ter
sangue coletado para ajudar na
identificação do irmão. Representante do governo brasileiro
também esteve na Itália há dois
anos para coletar sangue da
mãe de Joca, Elena Castiglia.
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