São Paulo, quinta, 9 de julho de 1998

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Delegado se diz "boi de piranha'

LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local

Afastado do cargo pelo ministro da Justiça, o delegado da Polícia Federal Carlos Leonel da Silva Cruz, 48, preso desde 28 de maio, disse que está sendo "o boi de piranha na perseguição que a Procuradoria da República está movendo contra a Polícia Federal".
Cruz foi condenado, em primeira instância, por crime de concussão (exigir vantagem indevida em razão da função; artigo 316 do Código Penal, pena de dois a oito anos).
Ele está respondendo processo recente sobre o mesmo crime e, também, a duas sindicâncias internas na PF por problemas disciplinares.
O delegado está no presídio da Polícia Civil, na condição de preso especial. O motivo formal da prisão é a acusação de tentativa de concussão contra um empresário -o que nega.
O motivo real, segundo ele próprio, é a morte do delegado da PF Alcioni Santana, em 28 de maio. "Tenho certeza de que fui preso por causa da morte do Alcioni", disse Cruz à Folha. "O inquérito por extorsão foi só um pretexto."
Santana, delegado corregedor, foi um dos que conduziram as investigações sobre o crime de concussão a que responde Cruz, remetendo as conclusões ao Ministério Público, que ofereceu denúncia criminal. "Não matei e não sei quem mandou matar", disse Cruz. "O Alcioni era meu amigo pessoal, ao ponto de ser o padrinho de batismo do meu filho mais novo." O batismo foi em dezembro de 96.
Segundo Cruz, o relacionamento entre os dois envolvia visitas às respectivas residências, cada qual com sua esposa. "Tínhamos uma ótima relação", disse.
Cruz separou-se da segunda mulher no ano passado. "Aí a coisa esfriou um pouco, mas continuamos amigos", afirmou. Segundo ele, o último contato com Alcioni foi na véspera da morte, em um elevador do prédio da Polícia Federal.
"Falamos sobre futebol", disse o delegado afastado. "Mesmo sabendo que ele tinha autorizado o caso da extorsão, nunca falei com ele sobre isso." A Folha apurou junto à PF de São Paulo que Cruz e Alcioni não eram mais amigos.
O delegado afastado confirmou a realização de 19 sindicâncias internas contra ele nos 22 anos em que está na PF -incluindo a que resultou na condenação por concussão. "Nada ficou provado", afirmou. "As outras foram por problemas disciplinares."
Ele foi suspenso da função algumas vezes (não lembra quantas), mas acha isso "normal". "Eu sou um homem de ação e não um funcionário público da Polícia Federal."
"O que existe é uma campanha de perseguição contra mim", disse. Argumenta, em relação ao caso Alcioni, que "ele tornou-se informante da Procuradoria da República, mantendo relação estreita com alguns procuradores".



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