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Delegado se diz "boi de piranha'
LUIZ MAKLOUF CARVALHO
da Reportagem Local
Afastado do cargo pelo ministro da Justiça, o delegado da
Polícia Federal Carlos Leonel
da Silva Cruz, 48, preso desde
28 de maio, disse que está sendo "o boi de piranha na perseguição que a Procuradoria da
República está movendo contra a Polícia Federal".
Cruz foi condenado, em primeira instância, por crime de
concussão (exigir vantagem
indevida em razão da função;
artigo 316 do Código Penal, pena de dois a oito anos).
Ele está respondendo processo recente sobre o mesmo crime e, também, a duas sindicâncias internas na PF por problemas disciplinares.
O delegado está no presídio
da Polícia Civil, na condição de
preso especial. O motivo formal da prisão é a acusação de
tentativa de concussão contra
um empresário -o que nega.
O motivo real, segundo ele
próprio, é a morte do delegado
da PF Alcioni Santana, em 28
de maio. "Tenho certeza de
que fui preso por causa da
morte do Alcioni", disse Cruz
à Folha. "O inquérito por extorsão foi só um pretexto."
Santana, delegado corregedor, foi um dos que conduziram as investigações sobre o
crime de concussão a que responde Cruz, remetendo as
conclusões ao Ministério Público, que ofereceu denúncia
criminal. "Não matei e não sei
quem mandou matar", disse
Cruz. "O Alcioni era meu amigo pessoal, ao ponto de ser o
padrinho de batismo do meu
filho mais novo." O batismo
foi em dezembro de 96.
Segundo Cruz, o relacionamento entre os dois envolvia
visitas às respectivas residências, cada qual com sua esposa.
"Tínhamos uma ótima relação", disse.
Cruz separou-se da segunda
mulher no ano passado. "Aí a
coisa esfriou um pouco, mas
continuamos amigos", afirmou. Segundo ele, o último
contato com Alcioni foi na véspera da morte, em um elevador
do prédio da Polícia Federal.
"Falamos sobre futebol",
disse o delegado afastado.
"Mesmo sabendo que ele tinha autorizado o caso da extorsão, nunca falei com ele sobre isso." A Folha apurou junto à PF de São Paulo que Cruz e
Alcioni não eram mais amigos.
O delegado afastado confirmou a realização de 19 sindicâncias internas contra ele nos
22 anos em que está na PF
-incluindo a que resultou na
condenação por concussão.
"Nada ficou provado", afirmou. "As outras foram por
problemas disciplinares."
Ele foi suspenso da função algumas vezes (não lembra
quantas), mas acha isso "normal". "Eu sou um homem de
ação e não um funcionário público da Polícia Federal."
"O que existe é uma campanha de perseguição contra
mim", disse. Argumenta, em
relação ao caso Alcioni, que
"ele tornou-se informante da
Procuradoria da República,
mantendo relação estreita com
alguns procuradores".
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