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CELSO PINTO
O mercado na retranca
A forte retração do mercado
internacional de capitais pegou a Sabesp na contramão. A
empresa de água e saneamento
do Estado de São Paulo está
autorizada a lançar US$ 300
milhões em bônus no mercado
internacional, mas não consegue.
É mais um exemplo, expressivo, das dificuldades que o Brasil e outros países emergentes
estão enfrentando, desde o final de maio, para levantar recursos no mercado internacional. As emissões de bônus virtualmente sumiram, com raras
exceções, em geral em mercados europeus. A própria Petrobrás, mais conceituado tomador brasileiro, não conseguiu
lançar US$ 250 milhões em bônus.
A Sabesp tinha uma autorização para lançar até US$ 500
milhões em bônus internacionais neste ano, explica o diretor-financeiro, Paulo Galletta.
No ano passado, antes da crise
de outubro, a Sabesp havia
lançado, com sucesso, US$ 275
milhões em bônus com prazo
de oito anos.
Depois da crise, contudo, o
mercado complicou. Para facilitar a vida dos tomadores, no
final do ano passado o Banco
Central reduziu de três para
um ano o prazo mínimo para
contratação de recursos externos.
A Sabesp foi a primeira empresa a reabrir o mercado
usando o prazo de um ano. Como estava muito difícil lançar
bônus, a Sabesp acabou contratando um empréstimo sindicalizado de US$ 100 milhões,
fechado em janeiro. Em março,
a Sabesp montou outro empréstimo sindicalizado de US$
275 milhões, também com prazo de um ano.
Em fevereiro, contudo, o BC
elevou o prazo mínimo de um
para dois anos. As operações de
um ano só valiam se contratadas até o final de fevereiro e
trazidas para o país até o final
de março.
Hoje, embora a Sabesp tenha
autorização para captar até
US$ 300 milhões em bônus externos, não há quem queira fazer a operações pelo prazo de
dois anos. Só há bancos interessados em operações de até
um ano.
A Sabesp precisa do dinheiro
para completar seu programa
de investimentos neste ano, estimado em US$ 1 bilhão. A intenção é encerrar o governo
cumprindo a meta de 100% de
água tratada, já completada,
85% de coleta de esgotos (hoje
está em 79%) e 60% de esgoto
tratado. A meta é factível até
dezembro, diz Galletta, mas
precisa um equacionamento financeiro.
Na semana passada, o BC
baixou a Resolução 2515 apertando mais um pouco as estatais: elas só serão autorizadas a
captar recursos externos para
refinanciar dívidas vincendas,
melhorando o custo e o prazo.
O dinheiro captado tem que ficar numa conta vinculada,
com esse objetivo.
A intenção é evitar o aumento do endividamento das estatais que, pelo critério do FMI,
usado pelo Brasil, engorda o
déficit público. Este não seria,
contudo, um obstáculo para a
Sabesp, que tem uma dívida
global de R$ 3,5 bilhões e usaria os US$ 300 milhões para
melhorar o perfil de parte da
dívida.
Não se pode dizer, também,
que a Sabesp é um tomador
duvidoso. A empresa passou
por uma revolução nos últimos
anos. Saltou de um prejuízo,
em 94, para o quarto maior
lucro entre as empresas brasileiras em 97, pelo critério da
"Exame". Seu endividamento
de R$ 3,5 bilhões é pequeno em
relação ao seu patrimônio líquido de R$ 9 bilhões.
Mais do que isso, a Sabesp
gera US$ 1,1 bilhão em fluxo
líquido de caixa por ano. Como
sua previsão de investimentos,
a partir de 99, é em torno de
US$ 600 milhões ao ano, durante cinco anos, existirá caixa
disponível para reduzir a dívida ou investir em novos negócios. Galletta acha que a Sabesp deveria se associar, minoritariamente, a um grupo privado e disputar a privatização
do setor no Brasil.
As ações da Sabesp, que chegaram a R$ 350 no pico do ano
passado, hoje estão em torno
de R$ 150, um tombo de 57%
provocado pela saída de investidores externos. Os planos de
buscar um sócio privado estratégico para 15% do capital foi
reduzido para 5% do capital
(ou US$ 500 milhões), em razão da retração do mercado
externo.
A Sabesp vinha sendo uma
história de sucesso no mercado
e continua sendo um bom risco. Mesmo assim, se o mercado
externo não melhorar, ou o BC
voltar a autorizar emissões por
um ano, a Sabesp vai ter que
cortar despesas e reduzir investimentos.
PS - Saio de férias por duas
semanas, espero que embalado
pelo penta.
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