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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE
Presidente não comenta crise, que dissera em seu programa lhe deixar triste, em evento em Minas
Lula fala no rádio e silencia em visita a Belo Horizonte
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ignorou a maior crise política do seu governo e do seu partido, o PT, ontem em Belo Horizonte, terra do suposto operador
do "mensalão" Marcos Valério de
Souza, em discurso no auditório
do Sesi Minas. No local havia ampla presença de petistas, que receberam o presidente aos gritos de
"olê, olê, olá, Lula, Lula".
Quem falou por ele foi o prefeito
Fernando Pimentel (PT), que revelou em discurso o que Lula lhe
confidenciara nos bastidores. Segundo ele, Lula disse estar "com a
alma forte e o coração sereno".
Também coube a Pimentel declarar "irrestrita solidariedade"
ao governo Lula. "Vamos sair
dessa melhores, mais comprometidos com a ética e com as questões sociais. Estamos todos no seu
barco, confiamos no timoneiro."
O evento marcou o lançamento
de um prêmio sobre os objetivos
de desenvolvimento do milênio
(metas para melhorar indicadores sociais até 2015). O discurso de
Lula foi sempre no sentido de
enaltecer os "avanços sociais" do
seu governo, com destaque para o
Bolsa Família.
A contenção do presidente contrastava com os ânimos da claque
petista, que o aplaudiu no começo
e no fim do evento.
Viagens
De manhã, no seu programa
quinzenal de rádio, Lula havia falado somente sobre a crise. Apesar de falar da sua "tristeza" com a
crise política e de uma suposta incapacidade para "encurtar" tal
turbulência, o presidente afirmou
que a sua onda de viagens pelos
Estados tem causado um "certo
nervosismo" em alguns setores da
oposição. Mesmo assim, ele diz
que seus deslocamentos vão continuar até para inaugurar "pontes" e "viadutos".
"Eu sei que, de vez em quando,
isso [viagens] causa um certo nervosismo em alguns adversários
meus, dizendo que eu estou andando, que eu estou fazendo campanha. Ora, meu Deus do céu,
agora que eu estou viajando para
inaugurar as coisas eles acham
ruim? Eu vou continuar viajando,
vou viajar muito daqui para a
frente", disse.
Logo no início, disse estar, "neste momento, com uma certa tristeza porque o povo brasileiro não
merece o que está acontecendo no
Brasil". Sobre as investigações, o
presidente afirmou que o governo
está "fazendo a apuração que é
possível fazer". E completou: "Todos nós nascemos no mundo para
ser honestos, para ser éticos, para
ser dignos. Se alguém falhou com
isso, esse alguém tem que pagar".
Abin
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgou nota ontem negando que teria conduzido
uma operação "pente-fino" nos
gastos e na agenda do presidente.
A nota diz que "carecem de fundamento matérias veiculadas pela
mídia versando sobre suposta investigação realizada pela Agência
Brasileira de Inteligência".
A informação, publicada pela
Folha no domingo, foi apurada
com assessores do presidente
com acesso direto à operação. Segundo eles, foi realizada uma operação que envolveu a Abin e a Polícia Federal para vasculhar contas que poderiam envolver Lula
com os negócios feitos pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Segundo assessores, toda a investigação recebeu consentimento do presidente antes de ser realizada. Desde então, Lula estaria
"tranqüilo" porque nada teria sido encontrado.
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