São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Presidente não comenta crise, que dissera em seu programa lhe deixar triste, em evento em Minas

Lula fala no rádio e silencia em visita a Belo Horizonte

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ignorou a maior crise política do seu governo e do seu partido, o PT, ontem em Belo Horizonte, terra do suposto operador do "mensalão" Marcos Valério de Souza, em discurso no auditório do Sesi Minas. No local havia ampla presença de petistas, que receberam o presidente aos gritos de "olê, olê, olá, Lula, Lula".
Quem falou por ele foi o prefeito Fernando Pimentel (PT), que revelou em discurso o que Lula lhe confidenciara nos bastidores. Segundo ele, Lula disse estar "com a alma forte e o coração sereno".
Também coube a Pimentel declarar "irrestrita solidariedade" ao governo Lula. "Vamos sair dessa melhores, mais comprometidos com a ética e com as questões sociais. Estamos todos no seu barco, confiamos no timoneiro."
O evento marcou o lançamento de um prêmio sobre os objetivos de desenvolvimento do milênio (metas para melhorar indicadores sociais até 2015). O discurso de Lula foi sempre no sentido de enaltecer os "avanços sociais" do seu governo, com destaque para o Bolsa Família.
A contenção do presidente contrastava com os ânimos da claque petista, que o aplaudiu no começo e no fim do evento.

Viagens
De manhã, no seu programa quinzenal de rádio, Lula havia falado somente sobre a crise. Apesar de falar da sua "tristeza" com a crise política e de uma suposta incapacidade para "encurtar" tal turbulência, o presidente afirmou que a sua onda de viagens pelos Estados tem causado um "certo nervosismo" em alguns setores da oposição. Mesmo assim, ele diz que seus deslocamentos vão continuar até para inaugurar "pontes" e "viadutos".
"Eu sei que, de vez em quando, isso [viagens] causa um certo nervosismo em alguns adversários meus, dizendo que eu estou andando, que eu estou fazendo campanha. Ora, meu Deus do céu, agora que eu estou viajando para inaugurar as coisas eles acham ruim? Eu vou continuar viajando, vou viajar muito daqui para a frente", disse.
Logo no início, disse estar, "neste momento, com uma certa tristeza porque o povo brasileiro não merece o que está acontecendo no Brasil". Sobre as investigações, o presidente afirmou que o governo está "fazendo a apuração que é possível fazer". E completou: "Todos nós nascemos no mundo para ser honestos, para ser éticos, para ser dignos. Se alguém falhou com isso, esse alguém tem que pagar".

Abin
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgou nota ontem negando que teria conduzido uma operação "pente-fino" nos gastos e na agenda do presidente. A nota diz que "carecem de fundamento matérias veiculadas pela mídia versando sobre suposta investigação realizada pela Agência Brasileira de Inteligência".
A informação, publicada pela Folha no domingo, foi apurada com assessores do presidente com acesso direto à operação. Segundo eles, foi realizada uma operação que envolveu a Abin e a Polícia Federal para vasculhar contas que poderiam envolver Lula com os negócios feitos pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
Segundo assessores, toda a investigação recebeu consentimento do presidente antes de ser realizada. Desde então, Lula estaria "tranqüilo" porque nada teria sido encontrado.


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