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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A LISTA DE VALÉRIO
Jader Kalid Antônio empregava dois policiais e um churrasqueiro que, segundo Marcos Valério, repassavam recursos para publicitário de Lula
Sacadores de Duda trabalhavam para doleiro
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
DA ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE
Pessoas ligadas ao doleiro Jader
Kalid Antônio, dono da Panorama Consultoria Financeira, de
Belo Horizonte, fizeram saques
em contas das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza e,
segundo o próprio Valério, repassaram os recursos a Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do publicitário Duda Mendonça.
As retiradas foram feitas pelos
policiais Luís Carlos Costa Lara e
David Rodrigues Alves e pelo
churrasqueiro Francisco Assis de
Novaes Santos e totalizaram R$
6,750 milhões.
A Folha confirmou com diferentes porteiros do edifício onde
funciona a Panorama Consultoria
Financeira, na rua professor Magalhães Drumond, 15, no bairro
Santo Antônio (região central de
Belo Horizonte), que Lara, Alves e
Novaes trabalhavam para Kalid
Antônio, o dono da consultoria.
Em entrevista ao jornal "O Estado de Minas", o doleiro negou
qualquer participação no esquema de pagamentos e afirmou não
conhecer os policiais ou Novaes.
Procurado em sua casa, no bairro Sion, Kalid Antônio não foi localizado. A informação dada à reportagem foi que o doleiro e a
mulher viajaram e não retornariam a Belo Horizonte nos próximos dias. A Panorama Consultoria Financeira está fechada desde
20 de julho, data do segundo depoimento do policial David Rodrigues Alves à Polícia Civil de
Minas Gerais.
Um processo que tramita na
Justiça de Minas Gerais desmente
a versão de Kalid Antônio de que
ele não conhece o churrasqueiro
Novaes. Uma ação contra Novaes
foi juntada a outro processo, este
contra a Unicash Factoring Representações Ltda., empresa de
Jader Kalid Antônio que foi fechada em 27 de maio de 2002 e funcionava no mesmo endereço da
Panorama Consultoria, criada 9
de julho de 2002. No processo,
Novaes -um misto de churrasqueiro, garçom e informante de
polícia- aparece como tesoureiro da Unicash.
O advogado de Novaes Santos,
Jair Ferreira de Resende, disse que
o churrasqueiro, em depoimento
à Polícia Federal, informou que
fazia as retiradas no Banco Rural
para um policial militar identificado apenas como Geraldo. Segundo o advogado, ele ganhava
R$ 80 por retirada "e nunca soube
o valor das retiradas ou para
quem era".
Lara e Alves sustentaram, em
depoimentos à Polícia Civil de
Minas Gerais, que o dinheiro retirado era entregue à SMPB e que
ganhavam "como seguranças"
para fazer os saques.
Valério e Simone Vasconcelos,
diretora financeira da SMPB,
apontaram como destinatários finais do dinheiro Duda Mendonça, Zilmar Fernandes da Silveira e
Antônio Kalil Cury, diretor financeiro da Duda Mendonça Associados. Este último recebia, segundo Valério, repasses por meio
do Banco Rural em São Paulo. Os
saques totalizaram R$ 15,5 milhões, de acordo com o publicitário mineiro.
Duda Mendonça, que nega ter
recebido o dinheiro, é o principal
publicitário ligado ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva -fez sua
campanha em 2002 e tem contratos com órgãos da administração
federal.
Transporte de valores
Num relatório do inquérito da
Corregedoria Geral da Polícia Civil, de 16 de dezembro de 2003, assinado pela delegada Margarida
Coelho, o churrasqueiro Novaes
diz que Jader Kalid Antônio, em
razão da amizade que tinha com o
detetive Lara, sempre que precisava transportar valores, o chamava
para acompanhá-lo nos saques.
O policial Lara é responsável
por saques que somaram R$ 600
mil. Os saques de Francisco de
Assis Novaes Santos, que totalizaram R$ 1,250 milhão, não aparecem na lista apresentada por Marcos Valério, mas constam da lista
do Banco Rural, liberada pela CPI
após quebra de sigilo bancário.
O inspetor de polícia David Rodrigues Alves, em depoimento à
Corregedoria da Polícia Civil de
Minas Gerais no dia 19 de julho,
disse que fazia as retiradas a pedido de "Cristiano Paes" (um sócio
de Valério se chama Cristiano
Paz) e não soube indicar para
quem o dinheiro era entregue. Alves sacou R$ 4,9 milhões.
No dia 20 pela manhã, no entanto, ele prestou novo depoimento à
corregedoria e disse ter sido apresentado a Cristiano Paz, presidente da SMPB, pelo doleiro Aroldo
Bicalho. Disse ainda que entregava os valores à gerente financeira
da SMPB, Geisa Dias, e à diretora
financeira, Simone Vasconcelos.
Bicalho foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Farol da
Colina, em agosto do ano passado, e sofre ação na Justiça Federal
por lavagem de dinheiro.
Advogados de Simone Vasconcelos pediram à CPI dos Correios
que o depoimento dela fosse dado
em uma sessão secreta. A justificativa dos advogados: eles esperavam mostrar que Alves, em uma
eventual acareação, não saberia
identificar Simone Vasconcelos, a
quem afirma que entregou os R$
4,9 milhões sacados por ele.
(JOSÉ MASCHIO, PAULO PEIXOTO, THIAGO GUIMARÃES E LAURA CAPRIGLIONE)
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