São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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Sócios da DNA negam ligação com esquema

JANAÍNA LEITE
ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Os publicitários Francisco Castilho e Margareth Freitas negaram ontem qualquer ligação com o esquema de repasse de recursos a políticos operado por Marcos Valério de Souza. Os dois são sócios de Valério na DNA. À Folha, demonstraram apreensão quanto ao futuro da empresa e se disseram envergonhados pelos problemas que respingaram na DNA.
"As pessoas estão com vergonha de dizer que trabalham aqui e, até há pouco tempo, a DNA era o sonho de consumo de dez entre dez publicitários. De uma hora para outra todo o trabalho foi jogado no lixo. Eu me pergunto: "Como assim?'", disse Margareth.
"Só o tempo vai dizer o que acontecerá com a DNA. Mas vamos lutar até o fim. Não tenho um patrimônio grande. Tenho de trabalhar", emendou Castilho.
Ambos, contudo, negam que se sintam traídos por Valério. Acreditam que ele não foi o responsável pela destruição de notas fiscais da DNA. "Seria o único motivo pelo qual ele poderia ser preso. Ele não faria isso", disse Margareth.
Apesar do voto de confiança, Castilho e Margareth querem a dissolução da sociedade com Valério o mais rápido possível. Os sócios ainda discutem como o contrato da empresa será desfeito.
A DNA nasceu em 1982 e é hoje a maior agência de Minas Gerais. Tem vários prêmios, até mesmo uma indicação em Cannes, e atende a órgãos públicos desde 1991. Por isso Castilho e Margareth querem manter a marca DNA.
Valério entrou na sociedade em 1998. Depois que as ligações dele com a cúpula do PT vieram à tona, a agência perdeu os contratos com Eletronorte (R$ 12 milhões), Ministério do Trabalho (R$ 15 milhões) e Banco do Brasil (R$ 200 milhões divididos com outras duas agências). Também ficou sem a conta das secretarias de Saúde e Meio Ambiente do governo de Minas (R$ 3,6 milhões).
Hoje são 87 funcionários em Belo Horizonte e cinco em Brasília; 34 foram demitidos na capital federal por conta do escândalo.
Castilho e Margareth também negaram ser apadrinhados do Grupo Opportunity, administrador da Telemig e da Amazônia Celular. As duas empresas são alvo das investigações por conta das lambanças contábeis de Valério. "Fomos contratados na época em que a canadense TIW era a gestora", disse Castilho. A Telemig e a Amazônia Celular fizeram créditos vultosos na conta da DNA.
Eles também negaram interferência nos negócios da DNA vinda do PT. "Nunca ouvimos o Valério falar do [ex-]ministro José Dirceu", disse Margareth.
Os publicitários sustentaram que era Valério quem cuidava das finanças da DNA e que não sabiam de saques feito por políticos nas contas da empresa.
Porém, saques destinados a petistas foram feitos nas contas da DNA. Em janeiro de 2004, por exemplo, um mensageiro -sob ordens do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato- pegou R$ 327 mil da conta da empresa no Banco Rural.
De acordo com o que Valério disse à PF, o destinatário seria o ex-presidente da Casa da Moeda Manoel Severino.


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