São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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Berzoini sinaliza apoio a cassações

Sergio Lima/Folha Imagem
Berzoini discursa na Câmara sobre possíveis punições a deputados do PT envolvidos no escândalo


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, sinalizou ontem pela primeira vez que o partido poderá apoiar a cassação de seus próprios deputados envolvidos no esquema de financiamento irregular patrocinado pelo publicitário Marcos Valério de Souza.
"Se tivermos de apoiar a punição nesta Casa de integrantes do nosso partido, não teremos dificuldades com isso, desde que a apuração seja justa e seja garantido amplo processo de direito e defesa", afirmou Berzoini, que é deputado, em discurso de 25 minutos da tribuna da Câmara.
Ele evitou usar a palavra "cassação" no seu discurso, optando pelo termo genérico "punição", que, em tese, pode significar também suspensão do mandato ou advertência. São hipóteses consideradas pouco prováveis entre os parlamentares, no entanto.
Da mesma forma, disse Berzoini, o PT apoiará qualquer decisão da Justiça Eleitoral, desde que "justa e proporcional". "Se tivermos de acompanhar na Justiça Eleitoral qualquer tipo de posicionamento para responsabilizar aqueles que erraram, também vamos defender a justa e proporcional responsabilização", declarou.
No meio da maior crise política de sua história, o PT internamente já aceita que terá de punir duramente ao menos uma parte dos seus filiados, independentemente do que decidirem a Câmara dos Deputados e a Justiça.
A luta do partido no momento é para fazer uma gradação nesses delitos, de forma a poupar ao menos uma parcela de seus deputados. Entre os implicados estão o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (SP), o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP) e o ex-líder do partido na Casa Paulo Rocha (PA).
Desde a semana passada os filiados do partido relacionados às denúncias estão sendo convocados a apresentar suas explicações. Até agora já o fizeram os deputados João Paulo, João Magno (MG) e Paulo Delgado (MG).
À Folha, Berzoini afirmou que o partido aplicará penas mais duras a deputados e filiados que tenham apresentado explicação "nebulosa". Ele não quis nomear quem seriam, mas há consenso no partido de que se enquadram na categoria o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o deputado Josias Gomes (BA), suspeito de ter usado dinheiro em benefício próprio. Eles podem ser expulsos.
Outros filiados que apresentam explicação "convincente" -ou seja, de que usaram dinheiro de Valério por orientação de Delúbio, para saldar dívidas de campanha- receberiam punição mais branda, como advertência. Neste caso entrariam João Paulo e Delgado, por exemplo.

Delúbio
O chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, Luiz Gushiken, afirmou não acreditar que o PT irá poupar seu ex-tesoureiro Delúbio Soares. "Eu não acho que haja por parte do PT a intenção de proteger o sr. Delúbio. Pelo contrário, acho que o partido vai ser bastante rigoroso", afirmou ontem, em entrevista à rádio Eldorado.
Segundo Gushiken, ex-ministro da Secom, o PT "vive um drama" por precisar, ao mesmo tempo, punir rigorosamente quem cometeu crimes e ser "justo".
"O PT não vai ser condescendente com ninguém." Ele defendeu ainda que os fundos de pensão, área em que é bastante ligado, sejam alvo de investigação. "Os fundos de pensão, como são entidades de arrecadação de muitos recursos, devem ser objeto de investigação." O ex-ministro disse não haver a possibilidade de alguém "de fora ou do governo" manipular os fundos de pensão.


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