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OPERAÇÃO CONDOR
Entidades querem que João Paulo 2º interceda e ajude na abertura de arquivos militares no Cone Sul
Grupo vai ao papa para obter documentos
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma comissão internacional de
organismos ligados à defesa dos
direitos humanos irá ao Vaticano
para pedir ao papa João Paulo 2º
que interceda pela abertura de arquivos secretos sobre os antigos
regimes militares da América do
Sul.
A afirmação foi feita à Folha pelo professor Martín Almada, 63, o
responsável pela descoberta no
Paraguai, em 1992, do "Arquivo
do Terror", conjunto de duas toneladas de documentos que comprovam a existência da Operação
Condor.
Essa operação foi o sistema que,
nas décadas de 70 e 80, reuniu diversos governos militares sul-americanos para combater grupos oposicionistas, independentemente das fronteiras nacionais.
Almada chega amanhã ao Rio,
onde será um dos principais conferencistas da mostra internacional "Autoritarismo, repressão e
memória", promovida pelo Arquivo Público do Estado do Rio
de Janeiro.
Sua palestra está marcada para
as 19h de segunda-feira, no Museu da República, no Catete (zona
sul). A mostra começa amanhã e
vai até a sexta (leia texto abaixo).
Almada pretende falar também
sobre o que chama Operação
Condor 2, aliança sul-americana
para a repressão política que funcionaria ainda hoje, na sua opinião. Ele se baseia em atas de reuniões dos Exércitos de vários países em 1995.
Documentos
O grupo que se dirigirá ao Vaticano tem na coordenação comissões contra a impunidade criadas
na Espanha, na Argentina e no
Paraguai, esta presidida por Martín Almada. O objetivo é conseguir que o papa faça um apelo para a abertura de vários fundos de
documentação confidenciais:
1) do governo dos EUA, especialmente da CIA (Agência Central de Inteligência);
2) dos organismos repressivos
militares e policiais de cada país;
3) da Comissão de Direitos Humanos da ONU;
4) da Junta Interamericana de
Defesa;
5) da Comissão Interamericana
de Direitos Humanos;
6) e da Conferência de Exércitos
Americanos.
A papelada de órgãos pró-direitos humanos das Nações Unidas e
da OEA (Organização dos Estados Americanos) serviria para conhecer detalhes de vários episódios -hoje o acesso é vetado.
No caso da CIA, o pedido é de
ampliação da desclassificação de
documentos, abrangendo períodos mais amplos para consulta.
"Vamos ao papa para que ponha seus bons ofícios a serviço da
abertura de todos os arquivos",
disse Almada, dos Estados Unidos, onde é professor visitante da
Kansas State University. O principal objetivo do lobby é saber como ocorreram crimes como o desaparecimento de militantes políticos -só na Argentina, de 1976 a
1983, houve de 8.961 casos (reconhecimento oficial) a 30 mil (estimativa de várias entidades, entre
elas as Mães da Praça de Maio).
Os documentos também seriam
apresentados aos órgãos que analisam casos relativos à Operação
Condor e crimes contra os direitos humanos. Na Espanha e na
Argentina há juízes investigando
ações de governos militares.
No Chile, o ex-presidente Augusto Pinochet, líder do regime
militar (1973-89), pode ser julgado. No país, houve pelo menos
2.279 mortos naquele período.
No Brasil (regime militar de
1964 a 1985), restam 138 desaparecidos. Além deles, sumiram sete
militantes brasileiros de esquerda
na Argentina, cinco no Chile e um
na Bolívia.
Descoberta
Ex-preso político, Martín Almada descobriu em 1992, num prédio a 20 km de Assunção, o arquivo da polícia política da ditadura
(1954-89) do general Alfredo
Stroessner, com 8.369 fichas de
militantes (64 brasileiros), 10 mil
fotografias, relatórios policiais e
correspondência entre as Forças
Armadas do Cone Sul.
Hoje, Almada, o "caçador da
Operação Condor", é um "caçador" de "todos" os arquivos. Ele
espera para este ano que a CIA libere novos documentos sobre o
governo Stroessner, no qual o
próprio Almada foi torturado.
O professor não defende mais a
extradição do ex-ditador, que vive
no Brasil, para o Paraguai.
"O governo paraguaio é muito
ligado a ele. Gostaria que Stroessner fosse julgado e condenado pela Justiça brasileira por seus crimes contra os direitos humanos".
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