São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Arquivos de ditaduras são tema de projeto

DA SUCURSAL DO RIO

Dos principais regimes militares sul-americanos recentes, só são conhecidos arquivos secretos significativos do Paraguai (1954-89) e do Brasil (1964-85).
Os únicos com acesso amplo ao público são os das polícias políticas do Rio e de São Paulo -no Paraguai, a Justiça ainda está com os papéis encontrados em 1992.
Na Argentina (1976-83), no Chile (1973-89) e no Uruguai (1973-84), há pouquíssimos documentos confidenciais conhecidos. Não se sabe se o resto foi destruído ou está escondido.
No mundo, são diversos os tratamentos dados aos arquivos de extintos serviços de segurança de Estado em antigos regimes repressivos.
Na Rússia, os arquivos do KGB, polícia política comunista da antiga União Soviética, são os "mais espetaculares, considerando repressão pura e simples".
Os documentos do KGB e da Stasi, polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, são os mais conservados do mundo, considerando regimes antidemocráticos.
"A possibilidade de trabalhar nos arquivos da Stasi é muito maior, devido aos meios, à disponibilidade, ao pessoal. Não há lugar melhor no mundo para pesquisar hoje que a Alemanha."
As informações e as análises são do historiador Antonio González Quintana, 42, coordenador dos Arquivos Militares da Espanha, órgão do Ministério da Defesa.
Quintana é uma das maiores autoridades mundiais no estudo de arquivos secretos de governos repressivos. Em 1994 e 1995, dirigiu o projeto sobre o tema desenvolvido pela Unesco, órgão ligado às Nações Unidas.
O pesquisador espanhol fará uma conferência às 10h30 de segunda-feira, sobre o tema "Arquivos e ditaduras no mundo contemporâneo", na mostra no Rio.
O projeto da Unesco analisou arquivos de cerca de 20 países, incluindo a ex-União Soviética, a antiga Alemanha Oriental, o regime de segregação racial da África do Sul, as ditaduras franquista (Espanha) e salazarista (Portugal), a Grécia e países sul-americanos.
"Não se tem idéia da importância dos arquivos até que os países se encontrem em processos de transição política. Isso tanto pela sua existência, como na Alemanha, como por sua inexistência, como no Chile."
No Brasil, os principais arquivos secretos, das Forças Armadas e do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações), nunca vieram a público. (MM)


Texto Anterior: Operação Condor: Grupo vai ao papa para obter documentos
Próximo Texto: Evento debate memória política
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.