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RIO DE JANEIRO
Secretário de Governo critica uso de termo, considerado "pejorativo"
Garotinho não cumpre "factóides"
DA SUCURSAL DO RIO
Radialista e publicitário, o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, gosta de lidar
com a mídia e criar fatos para
ocupar o noticiário. Mas nem
sempre o que aparece impresso
nos jornais como promessa do
governador sai do papel.
Ao ser eleito em 1998, Garotinho chegou a dizer que iria convidar o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PPS) para ser o seu secretário de Fazenda.
Nunca fez o convite a Ciro Gomes que, pouco depois, o próprio
Garotinho reconheceu que não
era para valer.
Na segunda-feira, o governador
disse que apresentaria emenda a
uma lei obrigando que 30% da remuneração paga aos detentos que
tenham sido condenados por homicídio seja repassada às famílias
das vítimas.
Advogados e parlamentares
disseram que a medida seria inconstitucional.
"É da natureza dele"
"É da natureza do Garotinho
criar "factóides". Não há um dia
em que esse menino não faça isso.
Ele gosta de ocupar espaço na mídia", critica o ex-governador
Marcello Alencar (PSDB), antecessor do pedetista.
"Ele é um fenômeno dos tempos atuais. É um homem do espetáculo e um comunicador de
grande força em uma sociedade
de espetáculo. E é um populista
nato", afirma.
Adversário de Garotinho nas
eleições de 1998, o petebista Cesar
Maia -que disputa a eleição para
prefeito do Rio- foi quem popularizou o termo "factóide".
Hoje, contudo, o ex-prefeito critica seu uso e o que ele considera
um desvirtuamento de seu conceito pela mídia como algo negativo. Ele afirma ter aposentado o
artifício, que o levou a ganhar a alcunha de "maluco" -por atos
como pedir um sorvete em um
açougue.
"Programa de rádio"
Embora tenha preferido não falar à Folha para a reportagem, Cesar Maia já reconheceu que o governador do Rio é um adepto do
"factóide".
"Ele governa como quem está
em um programa de rádio das 9h
às 12h. Ele tem que ficar se renovando para conquistar a audiência", disse, no início da campanha
eleitoral deste ano.
Alencar também vê em Garotinho o sucessor de Maia na exploração de "factóides". Admite, entretanto, que o atual governador é
hábil ao usá-los e que, com isso,
consegue se aproveitar de situações adversas.
"Ele é do tipo que consegue fazer do limão uma limonada", afirma o ex-governador.
Outro lado
Na ausência do governador
(que está em viagem particular), o
secretário de Governo, Fernando
William, faz sua defesa e rejeita o
uso dos "factóides".
Ele reconhece que, muitas vezes, o governador do Rio apresenta propostas e depois trabalha
junto à assessoria jurídica para saber se é viável.
"Ele lança uma idéia para a sociedade, para que a sociedade se
mobilize pela implantação ou
não. É algo democrático", afirma
William.
"O termo "factóide" é pejorativo", justifica ele, para rechaçar
seu uso pelo governador.
O próprio Aurélio, entretanto,
já incorporou a definição em sua
última edição. "Fato, verdadeiro
ou não, divulgado com sensacionalismo, no propósito deliberado
de gerar impacto diante da opinião pública e influenciá-la".
Sobre os projetos prometidos
por Garotinho, William diz que
vários estão em andamento.
O restaurante na Central do
Brasil com refeições a R$ 1 estaria
em fase de licitação.
O projeto de extensão do metrô
até a Barra da Tijuca estaria sendo
elaborado.
O programa Bolsa-Escola já estaria atendendo 6.000 famílias,
embora o governo reconheça que
o projeto de assistência social
Cheque-cidadão -coordenado
majoritariamente por pastores
evangélicos- tenha sido priorizado.
A regulamentação das vans está
sendo rediscutida.
"Muita coisa é recente e estamos
nos empenhando para viabilizar.
As coisas não saem com um estalar de dedos", diz William.
(LUIZ ANTÔNIO RYFF)
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