São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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RIO DE JANEIRO
Secretário de Governo critica uso de termo, considerado "pejorativo"
Garotinho não cumpre "factóides"

DA SUCURSAL DO RIO

Radialista e publicitário, o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, gosta de lidar com a mídia e criar fatos para ocupar o noticiário. Mas nem sempre o que aparece impresso nos jornais como promessa do governador sai do papel.
Ao ser eleito em 1998, Garotinho chegou a dizer que iria convidar o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PPS) para ser o seu secretário de Fazenda.
Nunca fez o convite a Ciro Gomes que, pouco depois, o próprio Garotinho reconheceu que não era para valer.
Na segunda-feira, o governador disse que apresentaria emenda a uma lei obrigando que 30% da remuneração paga aos detentos que tenham sido condenados por homicídio seja repassada às famílias das vítimas.
Advogados e parlamentares disseram que a medida seria inconstitucional.

"É da natureza dele"
"É da natureza do Garotinho criar "factóides". Não há um dia em que esse menino não faça isso. Ele gosta de ocupar espaço na mídia", critica o ex-governador Marcello Alencar (PSDB), antecessor do pedetista.
"Ele é um fenômeno dos tempos atuais. É um homem do espetáculo e um comunicador de grande força em uma sociedade de espetáculo. E é um populista nato", afirma.
Adversário de Garotinho nas eleições de 1998, o petebista Cesar Maia -que disputa a eleição para prefeito do Rio- foi quem popularizou o termo "factóide".
Hoje, contudo, o ex-prefeito critica seu uso e o que ele considera um desvirtuamento de seu conceito pela mídia como algo negativo. Ele afirma ter aposentado o artifício, que o levou a ganhar a alcunha de "maluco" -por atos como pedir um sorvete em um açougue.

"Programa de rádio"
Embora tenha preferido não falar à Folha para a reportagem, Cesar Maia já reconheceu que o governador do Rio é um adepto do "factóide".
"Ele governa como quem está em um programa de rádio das 9h às 12h. Ele tem que ficar se renovando para conquistar a audiência", disse, no início da campanha eleitoral deste ano.
Alencar também vê em Garotinho o sucessor de Maia na exploração de "factóides". Admite, entretanto, que o atual governador é hábil ao usá-los e que, com isso, consegue se aproveitar de situações adversas.
"Ele é do tipo que consegue fazer do limão uma limonada", afirma o ex-governador.

Outro lado
Na ausência do governador (que está em viagem particular), o secretário de Governo, Fernando William, faz sua defesa e rejeita o uso dos "factóides".
Ele reconhece que, muitas vezes, o governador do Rio apresenta propostas e depois trabalha junto à assessoria jurídica para saber se é viável.
"Ele lança uma idéia para a sociedade, para que a sociedade se mobilize pela implantação ou não. É algo democrático", afirma William.
"O termo "factóide" é pejorativo", justifica ele, para rechaçar seu uso pelo governador.
O próprio Aurélio, entretanto, já incorporou a definição em sua última edição. "Fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo, no propósito deliberado de gerar impacto diante da opinião pública e influenciá-la".
Sobre os projetos prometidos por Garotinho, William diz que vários estão em andamento.
O restaurante na Central do Brasil com refeições a R$ 1 estaria em fase de licitação.
O projeto de extensão do metrô até a Barra da Tijuca estaria sendo elaborado.
O programa Bolsa-Escola já estaria atendendo 6.000 famílias, embora o governo reconheça que o projeto de assistência social Cheque-cidadão -coordenado majoritariamente por pastores evangélicos- tenha sido priorizado.
A regulamentação das vans está sendo rediscutida.
"Muita coisa é recente e estamos nos empenhando para viabilizar. As coisas não saem com um estalar de dedos", diz William.
(LUIZ ANTÔNIO RYFF)


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