São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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QUESTÃO AGRÁRIA

Trabalhadores foram assassinados e enterrados em fazenda investigada como suposto cemitério clandestino

Polícia identifica dois corpos de sem-terra no Pará

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

A polícia do Pará identificou ontem os corpos de dois trabalhadores sem-terra assassinados e enterrados em cova rasa em uma fazenda investigada como suposto cemitério clandestino no município de Novo Repartimento, no sudoeste do Estado.
"Os corpos estavam em decomposição e só foram localizados porque estavam com membros expostos na terra", disse o delegado Sílvio César Maués.
Com a confirmação, sobe para dez o número de trabalhadores rurais e sindicalistas ligados à questão agrária assassinados neste ano no Pará, segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra). O número já ultrapassa os índices registrados em todo o ano passado, quando ocorreram sete assassinatos no campo.
Segundo a Polícia Civil, pelo menos mais dez corpos podem ter sido enterrados na fazenda nos últimos anos por causa da disputa de terra. "Vamos precisar fazer uma varredura mais ampla na área para tentar localizar mais corpos", disse Maués.
Os corpos, que apresentam sinais de tortura, foram identificados por familiares no IML de Marabá como sendo dos sem-terra Valdivan Ferreira da Silva, 27, e de Valdir Sabino da Silva, 29.
A fazenda onde foram encontrados os corpos, denominada Abrolhos Verdes, pertencia ao Edward Lopes, o "Vadinho", preso na semana passada pela Polícia Federal acusado de ser mandante de assassinatos, grilagem e porte ilegal de armas. Ele negou à polícia o envolvimento com os crimes. Seu advogado não foi localizado ontem.

Desapropriação
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) iniciou neste ano o processo de desapropriação da área, que tem 63 mil hectares, para transformá-la em assentamento para cerca de 1.500 famílias.
Segundo a polícia, o fazendeiro teria montado uma milícia armada para proteger a área da possível invasão dos sem-terra. Há dois meses, os técnicos do Incra iniciaram a demarcação da fazenda em seis lotes.
As denúncias da existência de um cemitério clandestino na área partiram de dois sem-terra que teriam escutado gritos e disparos na fazenda no dia 23 de setembro.


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