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QUESTÃO AGRÁRIA
Trabalhadores foram assassinados e enterrados em fazenda investigada como suposto cemitério clandestino
Polícia identifica dois corpos de sem-terra no Pará
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
A polícia do Pará identificou ontem os corpos de dois trabalhadores sem-terra assassinados e enterrados em cova rasa em uma fazenda investigada como suposto
cemitério clandestino no município de Novo Repartimento, no sudoeste do Estado.
"Os corpos estavam em decomposição e só foram localizados
porque estavam com membros
expostos na terra", disse o delegado Sílvio César Maués.
Com a confirmação, sobe para
dez o número de trabalhadores
rurais e sindicalistas ligados à
questão agrária assassinados neste ano no Pará, segundo dados da
CPT (Comissão Pastoral da Terra). O número já ultrapassa os índices registrados em todo o ano
passado, quando ocorreram sete
assassinatos no campo.
Segundo a Polícia Civil, pelo
menos mais dez corpos podem
ter sido enterrados na fazenda nos
últimos anos por causa da disputa
de terra. "Vamos precisar fazer
uma varredura mais ampla na
área para tentar localizar mais
corpos", disse Maués.
Os corpos, que apresentam sinais de tortura, foram identificados por familiares no IML de Marabá como sendo dos sem-terra
Valdivan Ferreira da Silva, 27, e de
Valdir Sabino da Silva, 29.
A fazenda onde foram encontrados os corpos, denominada
Abrolhos Verdes, pertencia ao
Edward Lopes, o "Vadinho", preso na semana passada pela Polícia
Federal acusado de ser mandante
de assassinatos, grilagem e porte
ilegal de armas. Ele negou à polícia o envolvimento com os crimes. Seu advogado não foi localizado ontem.
Desapropriação
O Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária)
iniciou neste ano o processo de
desapropriação da área, que tem
63 mil hectares, para transformá-la em assentamento para cerca de
1.500 famílias.
Segundo a polícia, o fazendeiro
teria montado uma milícia armada para proteger a área da possível invasão dos sem-terra. Há dois
meses, os técnicos do Incra iniciaram a demarcação da fazenda em
seis lotes.
As denúncias da existência de
um cemitério clandestino na área
partiram de dois sem-terra que
teriam escutado gritos e disparos
na fazenda no dia 23 de setembro.
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