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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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OPERAÇÃO ANACONDA

Na corporação, delegados tinham carreira considerada exemplar

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Presos há dez dias, os delegados José Augusto Bellini e Jorge Luiz Bezerra (aposentado) distinguiram-se no passado por uma carreira considerada exemplar dentro da Polícia Federal. Nos anos 80, enquanto Bezerra participava de cursos no exterior patrocinados pela PF, Bellini gozava no Brasil da fama de policial "incorruptível" e "imbatível" nas investigações de tráfico de drogas.
Os dois são investigados por formação de quadrilha envolvendo juízes federais e estão presos na carceragem da Polícia Federal, em São Paulo.
Policial há cerca de 35 anos, Bellini conheceu a glória nos anos 80. Depois de uma passagem "brilhante", segundo colegas da PF, pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes, o delegado ganhou o apelido de Eliot Ness -agente norte-americano que combateu a máfia nos anos 30, conseguiu prender Al Capone e foi imortalizado no filme "Os Intocáveis".
Em 1988, em uma entrevista para a "Folha da Tarde", Bellini afirmou ter orgulho de sua fama de policial implacável. "Se há uma acusação que nunca vou aceitar é a de corrupção. Eu me orgulho de ser incorruptível."
Depois de afirmar que vivia com a mulher e os dois filhos em um apartamento de dois quartos financiado pelo extinto BNH, Bellini falou sobre a sedução exercida pelo poder econômico de criminosos: "Nós temos que ter uma excelente cabeça, porque a tentação é muito grande".

PC Farias
Enquanto Bellini vivia as glórias de sua carreira em São Paulo, Bezerra passava mais tempo no exterior. Com o patrocínio da PF, o delegado passou por treinamentos intensivos na SWAT -polícia de elite norte-americana- e participou de dezenas de cursos sobre repressão ao crime organizado em todo o mundo.
Em 1993, Bezerra coordenou as investigações para a prisão de PC Farias, amigo e tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Falhou na missão. PC, o homem mais procurado na época, fugiu e só iria ser preso na Tailândia, quase seis meses depois. Pressionado, Bezerra pediu demissão do cargo.
Deixou Alagoas e se mudou para Mato Grosso, onde assumiu como superintendente regional interino da Polícia Federal.
Hoje aposentado, Bezerra mora em Alagoas e é pai de três filhos. Ao ser preso em um flat, a polícia apreendeu cerca de US$ 42 mil que estavam com o delegado.



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