UOL

São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPERAÇÃO ANACONDA

OUTRO LADO

Assessoria nega que Ciro Gomes conheça policial

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, disse, por meio de sua assessoria, que nunca teve nenhum tipo de contato -nem por telefone nem pessoal- e também não conhece o agente da Polícia Federal Cesar Herman Rodriguez.
Em três diálogos, registrados em escuta telefônica realizada pela PF com autorização judicial, em setembro de 2002, Rodriguez conversa com um interlocutor chamado Aloisio. Acusado de ser um dos principais operadores de uma suposta organização criminosa com ramificações em toda a estrutura do Estado, o agente pede cópias de documentos que interessariam a Ciro Gomes, afirmando que teria se encontrado com o irmão do ministro e que se reuniria com o próprio.
A assessoria informou ainda que, como Ciro, seu irmão Lucio Gomes, o principal articulador de sua campanha à Presidência, não conhece o agente Rodriguez.
Os diálogos constam do Auto Circunstanciado Número 18, assinado pelo delegado Claudio Nogueira em 9 de junho de 2003. O relatório, obtido pela Folha, de 176 páginas, revela uma rede de corrupção que atua em toda a administração pública.

Cotia
Falando em nome do prefeito de Cotia, Joaquim Pedroso (PSDB), o consultor jurídico da prefeitura, Francisco Festa, negou que seu chefe tivesse encomendado à suposta organização, por meio do juiz Casem Mazloum, o monitoramento do telefone de sua mulher à época, Simone Oliveira.
"O prefeito não conhece o juiz Mazloum. Acho que isso tem razões políticas. Até porque eles se separaram amigavelmente."
A delegada da PF Maria das Graças Malheiros Monteiro, de Santarém, confirmou ter recebido ligação do delegado aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva.
"Ele me procurou porque eu era a delegada chefe na época [julho de 2002]. Ele veio aqui, e eu o encaminhei para quem presidia o inquérito", declarou Monteiro, sem dar detalhes sobre os interesses de Silva, a quem chamou de "colega". "Tudo que eu tinha a dizer já informei ao Departamento de Polícia Federal."
O delegado da PF Deuselino Valadares dos Santos, chefe da delegacia da PF em Araguaína (TO), disse à Folha que não conhece e nunca foi procurado pelo delegado aposentado Silva.
Pelos diálogos, Deuselino seria contatado para a suposta quadrilha, que queria sua ajuda para conseguir informações sobre o frigorífico Free Norte, de quem pretendiam cobrar uma dívida.
"Não fui [procurado]. E, se fosse, prenderia [os intermediários] em flagrante", afirmou o delegado, que, em um de seus inquéritos, indiciou os donos do Free Norte por documentação falsa.
Os proprietários do frigorífico, Rogério e Renato Menezes, não responderam aos recados deixados pela reportagem.
O delegado da PF Mario Luiz Vieira, que, segundo os diálogos reproduzidos no relatório da Operação Anaconda, teria usado de suas funções de servidor para beneficiar a empresa Cotrel (nome fantasia da Cooperativa Tritícula Erechim Ltda.), foi transferido de Passo Fundo para Porto Alegre há cerca de quatro meses.
Na tarde da sexta-feira, por três vezes a Folha tentou entrar em contato com Vieira em seu novo gabinete, na capital gaúcha. Em todas as tentativas, o telefone chamou, mas ninguém atendeu.
O gerente de produção da Cotrel, José Dalmulin, citado nas gravações como contato da suposta quadrilha com a empresa, não respondeu aos recados deixados pela reportagem.

Kroll
Eduardo Sampaio, presidente da Kroll no Brasil desde 1998, afirmou que o delegado aposentado Bezerra da Silva mentiu ao dizer a agentes que recrutava profissionais da PF para atuar em espionagem econômica e política para a empresa. "Não conheço esse cidadão. Nunca tinha visto o seu nome até uma semana atrás [quando se tornou pública a suposta participação do delegado aposentado na Operação Anaconda]", disse Sampaio.
A Folha não localizou em Brasília José Marques Ferreira, que seria, conforme a PF, um ex-policial civil do Distrito Federal conhecido como Mineirinho. O telefone residencial de Ferreira oferecido pelo serviço de informações esteve ocupado durante toda a tarde e a noite de sexta.

Juízes
Os juízes federais João Carlos da Rocha Mattos, Ali Mazloum e Casem Mazloum negaram as acusações e afirmaram serem vítimas de uma "armação". Os advogados de quatro dos outros oito presos também afirmaram à Folha que seus clientes são inocentes e que a Justiça está dificultando o acesso ao processo.
Em São Paulo, o ministro Márcio Thomaz Bastos disse que os acusados ainda não foram condenados e que o direito de defesa deve ser respeitado. Quando questionado sobre se houve cerceamento de defesa, disse: "Não tenho notícia. Acho que o direito de defesa é uma coisa importante e tem de ser preservado, ao mesmo tempo que o direito de investigação e de punição do Estado".


Texto Anterior: "Bico" para empresa deflagrou apuração
Próximo Texto: Mato Grosso: Desembargadores são acusados de corrupção
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.