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Elio Gaspari
Queiroz expôs o festim do Orçamento
Um quilômetro de estrada deveria custar R$ 1,6 milhão, mas querem que a Viúva pague R$ 10 milhões
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ESTÁ NA MESA do deputado José Pimentel, relator do Projeto de Lei
Orçamentária para 2008 o ofício
(nº 253/2007), assinado pelo deputado
Giovanni Queiroz (PDT-PA). Ele denuncia 16 casos de previsão de obras com
custos estimados muito, mas muito acima do que a lei permite. Dizer que o
contubérnio de parlamentares com
empreiteiros, prefeitos e palácios estouram os preços do mercado, é pouco.
Queiroz demonstra que se pretende gastar somas muito acima dos valores de
referência que a própria lei determina.
Em casos excepcionais, essas despesas
deveriam ser "devidamente justificadas,
em relatório técnico circunstanciado",
mas nem isso fizeram. Querem avançar
na Bolsa da Viúva sem nem sequer oferecer uma explicação.
Aos fatos:
O custo de referência para a construção de estradas listadas na proposta de
Orçamento é de R$ 1,76 milhão por quilômetro. No mercado, cobra-se menos
que a metade, mas deixa pra lá.
O quilômetro do trecho Esteio-Sapucaia (RS), na BR-448, está orçado em
R$ 10 milhões. Quase seis vezes acima do
valor de referência.
A adequação de estradas tem como valor indicativo o preço de R$ 1,6 milhão
por quilômetro. No acesso rodoviário ao
porto de Itajaí (SC), querem gastar R$ 10
milhões por quilômetro. Há outras seis
despesas com estouros parecidos.
Para a construção de ferrovias, adotaram um padrão de R$ 4,75 milhão por
quilômetro. O presidente da Valec, empresa estatal, informa que trabalha com
R$ 3 milhões por quilômetro, mas deixa
pra lá.
No Contorno Ferroviário de Minas
Gerais, querem pagar R$ 10 milhões,
mais que o dobro do valor de referência.
No ramal de Barra Mansa, o quilômetro
está orçado em R$ 8,7 milhões.
Giovanni Queiroz achou outra gracinha: a Procuradoria Geral do Trabalho,
em Brasília, tem 476 servidores. Seu edifício-sede ocupará 110 mil metros quadrados, ou 235 metros quadrados por
funcionário.
A quem interessar possa: antes de se
desqualificar uma denúncia de Giovanni
Queiroz, é bom lembrar que nos anos 90
foi ele quem levantou o véu da roubalheira da construção do prédio da Justiça
do Trabalho em São Paulo. Aquela que
levou o juiz Lalau para a cadeia. Queiroz
já conseguiu baixar em 80% o preço do
quilômetro de estradas vicinais no Pará.
O deputado ensina que o ovo da serpente
está na Comissão do Orçamento do Congresso.
A COMISSÃO DE ÉTICA ATOLA BIOGRAFIAS
A Comissão de Ética Pública do governo federal decidiu
que o ministro do Trabalho,
Carlos Lupi, precisa optar entre o acesso ao cofre da Viúva
e a presidência do PDT. O comissariado sindical, acompanhando o doutor, reagiu atacando a comissão e seu presidente, o ex-ministro Marcílio
Marques Moreira.
Talvez Lula possa fazer com
esse cenáculo o que o general
Ernesto Geisel fez com a Comissão de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana. Ele sabia
o que acontecia nos porões da
ditadura, concluiu que a
CDDPH era uma palhaçada
inútil e determinou que ela
não voltasse a se reunir. (Em
1971, os doutores arquivaram
o processo para investigar a
morte do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado no
DOI do Rio.)
O general foi tratar do fim
da tortura por outros meios e,
quando deixou o governo, ela
estava extinta nas guarnições
militares.
Lula conhece a ética de seu
governo. Se não puder acabar
com a comissão, pode advertir seus ocupantes de que correm um terrível risco biográfico. O ex-ministro Sepúlveda
Pertence aceitou integrá-la.
Se algum dia ele perceber que
há uma luzinha vermelha acesa debaixo dos seus pés, deverá suspeitar de que está iluminado como algumas imagens de São Jorge de salas de espera enfeitadas com bonitos espelhos.
AVISO AMIGO
Pelo andar da carruagem,
o aparelho burocrático-financeiro que as centrais
sindicais estão montando
poderá ser o principal item
da olimpíada de escândalos
da campanha eleitoral de
2010.
MADAME NATASHA
Madame Natasha nasceu
analfabeta. Nunca aprendeu matemática e tem horror à ciência. Ela compreende o mau desempenho dos
estudantes brasileiros de 15
anos que, num exame internacional aplicado em 57
países, ficaram ao lado da
Colômbia, acima apenas do
Quirguistão, do Qatar e da
Tunísia. Lendo a explicação
da secretária de Educação
de São Paulo, doutora Maria
Helena de Castro, para o desastre ocorrido nas provas
de leitura, Natasha resolveu
conceder-lhe uma de suas
bolsas de estudo. Ela disse o
seguinte:
"Essa é uma macrocompetência, básica para que os
alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico". Madame
acredita que ela quis dizer o
seguinte: "Quem não sabe
ler não consegue aprender".
CPMF
A semana terminou com a
oposição contando 34 votos
contra a prorrogação da
CPMF. Ela precisa de 33.
NA MÃO DELE
Hugo Chávez já deu sinais
de que pretende diluir a essência do resultado do plebiscito que mandou ao lixo
sua reforma constitucional.
Ele tem mandato até 2013.
Tomara que chegue até lá.
Depende dele.
POESIA PURA
Quem tiver computador e 12
minutos disponíveis, pode ver o
filme brasileiro "Laços", vencedor de um certame internacional do YouTube disputado por
3.500 vídeos. É poesia, beleza e
inteligência. O filme foi produzido pela carioca Adriana Falcão e estrelado por sua filha
Clarice (18 anos), com Célio
Porto (17 anos). "Laços" dura só
6 minutos e é surpreendente.
Visto de novo, adoça a emoção.
PAPEL FURADO
Depois do "Fome Zero" e do
"Primeiro Emprego", o programa "Papel Passado" é o maior
fracasso de Nosso Guia na área
social. Em 2003, o governo prometeu que nos três anos seguintes regularizaria a posse
dos imóveis de 450 mil famílias
que vivem em áreas urbanas.
Passaram-se quatro anos e apenas 100 mil famílias receberam
as devidas escrituras, conforme
revelaram os repórteres Carolina Brígido e Paulo Marqueiro.
Delas, 21 mil foram atendidas
pela iniciativa do prefeito de
Manaus, Serafim Correa. O
programa federal já gastou
R$ 40 milhões. Deles, só R$ 2
milhões em Manaus. Correa espera bater a marca das 30 mil
escrituras no próximo ano.
FRANCIS SEM BRILHO
Está quase pronto o livro de
memórias do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Nele,
conta como ajudou a construir
a estampa do jornalista Paulo
Francis para a televisão. A certa
altura, bateu-se no problema
dos óculos do futuro comentarista e do reflexo que lançariam
para as câmeras. Tirá-los, nem
pensar, mas ele reconhecia que
não precisava ler. Saía tudo de
improviso. Costa levou-o a uma
loja e, por muitos anos, Francis
apareceu na TV com óculos
sem lentes. Mais tarde, passou
a usar vidros sem brilho nem
grau.
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