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COMBATE ÀS DROGAS
Primeira tentativa foi cancelada a pedido do senador
Chelotti tentará demitir afilhado de Tuma na PF pela segunda vez
da Sucursal de Brasília
O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse ontem
que sua "situação ficará complicada" se não conseguir demitir, pela
segunda vez, o chefe da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes), Marco Antônio Cavaleiro, afilhado político do senador Romeu
Tuma (PFL-SP).
A exoneração de Cavaleiro foi
publicada no "Diário Oficial" da
União na última terça-feira. No dia
seguinte, foi cancelada por interferência de Tuma, na condição de líder interino do governo, com o ministro Renan Calheiros (Justiça). O
senador nega a interferência.
"Após quatro anos no cargo, tenho experiência para fazer modificações para melhorar a Polícia Federal", disse Chelotti à Folha. "Eu
levei o pedido de demissão ao ministro e ele aceitou", acrescentou.
A demissão de Cavaleiro, segundo Chelotti, visa completar modificações que estão sendo feitas há
quatro anos na DRE. Segundo ele,
a divisão não deve mais fazer operações de repressão ao narcotráfico, ficando apenas encarregada de
serviços de inteligência e de coordenação das operações.
"Quando eu assumi, a DRE tinha
60 policiais e 40 carros em Brasília,
enquanto a superintendência do
Acre não tinha nenhum carro e
poucos agentes", disse Chelotti.
Para ele, os superintendentes da
PF em Pernambuco, em Mato
Grosso e no Amazonas sabem
mais sobre traficantes de maconha
e cocaína do que o chefe da DRE.
Cavaleiro contesta o diretor.
"Trabalhamos do modo mais atual
que se tem hoje no mundo. Se o setor está estagnado, é por decisão
administrativa da direção", disse.
Sobre a tentativa de exonerá-lo por
parte de Chelotti, o chefe da DRE é
enfático: "Não sou moleque. Não
tenho nenhuma restrição quanto a
sair, mas eu quero respeito".
A PF vem perdendo espaço no
combate ao narcotráfico desde a
criação, no ano passado, da Secretaria Nacional Antidrogas, ligada à
Casa Militar da Presidência.
Cavaleiro é o principal desafeto
do diretor da PF. No ano passado,
suspeitando de supostos desvios
na DRE, Chelotti instaurou uma
investigação interna na divisão, inclusive infiltrando agentes.
Mas acabou tendo telefonemas
grampeados pela própria DRE. A
existência da fita -com conversas
pessoais de Chelotti com uma
agente infiltrada na DRE- foi
"vazada", e o diretor da PF desistiu
de continuar as investigações.
Mesmo com esse clima, Chelotti
evitava tomar atitudes contra seu
subordinado em razão das ligações
de Cavaleiro com o senador Tuma,
que já comandou a PF e até hoje
mantém forte influência no órgão.
Na semana passada, antes de embarcar para Bahamas, onde foi investigar o caso do dossiê Caribe,
Chelotti enviou para o Ministério
da Justiça o pedido de exoneração
de Cavaleiro, que foi assinado pelo
secretário-executivo, Paulo Afonso Martins de Oliveira.
Quando voltou anteontem a Brasília, Chelotti já encontrou sua decisão anulada.
(ABNOR GONDIM e LUCAS FIGUEIREDO)
²
Colaboraram
Denise Madueño e Luiza Damé,
da Sucursal de Brasília
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