São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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COMBATE ÀS DROGAS
Primeira tentativa foi cancelada a pedido do senador
Chelotti tentará demitir afilhado de Tuma na PF pela segunda vez

da Sucursal de Brasília

O diretor-geral da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse ontem que sua "situação ficará complicada" se não conseguir demitir, pela segunda vez, o chefe da DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes), Marco Antônio Cavaleiro, afilhado político do senador Romeu Tuma (PFL-SP).
A exoneração de Cavaleiro foi publicada no "Diário Oficial" da União na última terça-feira. No dia seguinte, foi cancelada por interferência de Tuma, na condição de líder interino do governo, com o ministro Renan Calheiros (Justiça). O senador nega a interferência.
"Após quatro anos no cargo, tenho experiência para fazer modificações para melhorar a Polícia Federal", disse Chelotti à Folha. "Eu levei o pedido de demissão ao ministro e ele aceitou", acrescentou.
A demissão de Cavaleiro, segundo Chelotti, visa completar modificações que estão sendo feitas há quatro anos na DRE. Segundo ele, a divisão não deve mais fazer operações de repressão ao narcotráfico, ficando apenas encarregada de serviços de inteligência e de coordenação das operações.
"Quando eu assumi, a DRE tinha 60 policiais e 40 carros em Brasília, enquanto a superintendência do Acre não tinha nenhum carro e poucos agentes", disse Chelotti.
Para ele, os superintendentes da PF em Pernambuco, em Mato Grosso e no Amazonas sabem mais sobre traficantes de maconha e cocaína do que o chefe da DRE.
Cavaleiro contesta o diretor. "Trabalhamos do modo mais atual que se tem hoje no mundo. Se o setor está estagnado, é por decisão administrativa da direção", disse. Sobre a tentativa de exonerá-lo por parte de Chelotti, o chefe da DRE é enfático: "Não sou moleque. Não tenho nenhuma restrição quanto a sair, mas eu quero respeito".
A PF vem perdendo espaço no combate ao narcotráfico desde a criação, no ano passado, da Secretaria Nacional Antidrogas, ligada à Casa Militar da Presidência.
Cavaleiro é o principal desafeto do diretor da PF. No ano passado, suspeitando de supostos desvios na DRE, Chelotti instaurou uma investigação interna na divisão, inclusive infiltrando agentes.
Mas acabou tendo telefonemas grampeados pela própria DRE. A existência da fita -com conversas pessoais de Chelotti com uma agente infiltrada na DRE- foi "vazada", e o diretor da PF desistiu de continuar as investigações.
Mesmo com esse clima, Chelotti evitava tomar atitudes contra seu subordinado em razão das ligações de Cavaleiro com o senador Tuma, que já comandou a PF e até hoje mantém forte influência no órgão.
Na semana passada, antes de embarcar para Bahamas, onde foi investigar o caso do dossiê Caribe, Chelotti enviou para o Ministério da Justiça o pedido de exoneração de Cavaleiro, que foi assinado pelo secretário-executivo, Paulo Afonso Martins de Oliveira.
Quando voltou anteontem a Brasília, Chelotti já encontrou sua decisão anulada.
(ABNOR GONDIM e LUCAS FIGUEIREDO) ²


Colaboraram Denise Madueño e Luiza Damé, da Sucursal de Brasília



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