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FORA DO BRASIL
Promotores e policiais federais querem conhecer relações de Flávio Maluf com acusado de lavar dinheiro
FBI investiga ações de filho de Maluf
MARCIO AITH
enviado especial a Miami
Promotores norte-americanos e
o FBI (a polícia federal dos EUA)
investigam a ligação de Flávio
Maluf, filho do ex-prefeito Paulo
Maluf, com o empresário Oscar
de Barros, preso em Miami sob a
acusação de lavar dinheiro. O empresário é suspeito de ter fabricado e tentado vender, em 1998, o
chamado dossiê Caribe para políticos brasileiros.
A Folha viu o original e obteve a
cópia da intimação de uma investigação sigilosa que corre em Nova York revelando que, no dia 28
de janeiro passado, o FBI procurou, no escritório da Overland
Advisory Services, empresa de
Barros no centro de Miami, indícios que comprovariam a associação de Flávio com Barros.
Além de Flávio Maluf, a Justiça
dos EUA investiga ainda qual é o
relacionamento que o reverendo
Caio Fábio d'Araújo Filho e o empresário Paulo Sérgio Rosa, também suspeitos de terem fabricado
o dossiê Caribe, teriam com Oscar
de Barros.
A intimação obtida pela Folha
contém ainda os nomes de outras
cinco pessoas e de dez empresas
(veja quadro ao lado, com reprodução do documento e a tradução
dos principais trechos).
Operação
A apreensão dos documentos
na Overland ocorreu dois meses
antes de Barros ser preso, no último dia 26, numa investigação paralela que corre em Miami sobre
lavagem de dinheiro, possivelmente do narcotráfico, e que envolve outros dois brasileiros: José
Maria Teixeira Ferraz, outro empresário preso em Miami, e James
Degan, um ex-doleiro também
suspeito de envolvimento no episódio do dossiê Caribe.
O dossiê é um conjunto de papéis sem autenticação que sugeria
a existência de contas secretas no
exterior do presidente Fernando
Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Mário Covas,
do ministro da Saúde, José Serra,
e de Sérgio Motta, que foi ministro das Comunicações e morreu
em abril de 1998.
Em 1998, foi o reverendo presbiteriano Caio Fábio quem levou a
pessoas ligadas às candidaturas
presidenciais de Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) e de Ciro Gomes
(PPS) a proposta de divulgá-lo.
Na época, ele disse ter recebido
informações sobre o dossiê Caribe por parte de uma pessoa que o
procurou para orientação espiritual e religiosa.
Paulo Sérgio Rosa, consultor de
marketing em Miami, integra
uma entidade que congrega empresários evangélicos e é amigo de
Caio Fábio e do ex-presidente
Fernando Collor de Mello. Rosa é
um dos suspeitos de ter fornecido
o dossiê ao pastor Caio Fábio.
Apreensão
O FBI apreendeu ao menos três
caixas com documentos e fotografias no escritório da Overland,
na Avenida Brickell, no centro de
Miami. Colheu ainda mais de 40
impressões digitais e exemplares
de caligrafias.
Uma semana depois, Barros
forneceu outros documentos para a investigação atendendo a pedido judicial.
O processo em Nova York está
sendo conduzido por um "grand
jury" na corte criminal federal Sul
na cidade de Nova York. Ela é
coordenada pelo promotor Steven R. Piekin.
Num "grand jury", jurados são
encarregados de analisar provas e
determinar se, com base nas informações que o FBI e a promotoria reuniram, o governo federal
norte-americano deve ou não iniciar um processo criminal contra
uma pessoa.
No caso de Barros, o que está
em jogo é decidir se as provas obtidas pelo FBI (a polícia federal
norte-americana) e pelo escritório da promotoria são suficientes
para iniciar um processo por violação do "Foreign Corrupt Practice Act" -uma lei norte-americana da década de 70 que pune diretores de companhias dos EUA
por subornarem ou tentarem subornar governos estrangeiros.
Conclusão
O "grand jury" ainda não terminou seus trabalhos e, portanto,
Barros não é réu em Nova York.
Muito menos o são Flávio Maluf,
Rosa e Caio Fábio.
Barros é somente réu no processo que responde na Flórida por lavagem de dinheiro destinado ao
tráfico de drogas, motivo pelo
qual foi preso.
Enquanto o "grand jury" não
conclui seus trabalhos em Nova
York, a existência de uma investigação federal não pode ser divulgada, não consta dos cadastros
públicos da corte e as autoridades
(até os taquígrafos) que se pronunciarem a respeito estão sujeitos a um severo processo criminal.
Segundo apurou a Folha, o
"grand jury" que investiga Barros
teve início numa operação do FBI
no começo de 1999.
A agência havia recebido, informalmente, num caráter de "cooperação", documentos fiscais, policiais e criminais do governo brasileiro sobre Barros e alguns de
seus amigos.
Dependendo do rumo que as
investigações tomarem em Nova
York, o "grand jury" poderá também investigar a veracidade dos
papéis e a existência das contas
bancárias em paraísos fiscais
mencionados no dossiê Caribe.
Embora tenha sido divulgado
que a Polícia Federal brasileira
descobriu que o dossiê Caribe foi
falsificado, as autoridades policiais brasileiras não chegaram a
uma conclusão sobre a origem e a
veracidade dos papéis que o integram.
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