São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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FORA DO BRASIL
Promotores e policiais federais querem conhecer relações de Flávio Maluf com acusado de lavar dinheiro
FBI investiga ações de filho de Maluf

MARCIO AITH
enviado especial a Miami

Promotores norte-americanos e o FBI (a polícia federal dos EUA) investigam a ligação de Flávio Maluf, filho do ex-prefeito Paulo Maluf, com o empresário Oscar de Barros, preso em Miami sob a acusação de lavar dinheiro. O empresário é suspeito de ter fabricado e tentado vender, em 1998, o chamado dossiê Caribe para políticos brasileiros.
A Folha viu o original e obteve a cópia da intimação de uma investigação sigilosa que corre em Nova York revelando que, no dia 28 de janeiro passado, o FBI procurou, no escritório da Overland Advisory Services, empresa de Barros no centro de Miami, indícios que comprovariam a associação de Flávio com Barros.
Além de Flávio Maluf, a Justiça dos EUA investiga ainda qual é o relacionamento que o reverendo Caio Fábio d'Araújo Filho e o empresário Paulo Sérgio Rosa, também suspeitos de terem fabricado o dossiê Caribe, teriam com Oscar de Barros.
A intimação obtida pela Folha contém ainda os nomes de outras cinco pessoas e de dez empresas (veja quadro ao lado, com reprodução do documento e a tradução dos principais trechos).

Operação
A apreensão dos documentos na Overland ocorreu dois meses antes de Barros ser preso, no último dia 26, numa investigação paralela que corre em Miami sobre lavagem de dinheiro, possivelmente do narcotráfico, e que envolve outros dois brasileiros: José Maria Teixeira Ferraz, outro empresário preso em Miami, e James Degan, um ex-doleiro também suspeito de envolvimento no episódio do dossiê Caribe.
O dossiê é um conjunto de papéis sem autenticação que sugeria a existência de contas secretas no exterior do presidente Fernando Henrique Cardoso, do governador de São Paulo, Mário Covas, do ministro da Saúde, José Serra, e de Sérgio Motta, que foi ministro das Comunicações e morreu em abril de 1998.
Em 1998, foi o reverendo presbiteriano Caio Fábio quem levou a pessoas ligadas às candidaturas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Ciro Gomes (PPS) a proposta de divulgá-lo. Na época, ele disse ter recebido informações sobre o dossiê Caribe por parte de uma pessoa que o procurou para orientação espiritual e religiosa.
Paulo Sérgio Rosa, consultor de marketing em Miami, integra uma entidade que congrega empresários evangélicos e é amigo de Caio Fábio e do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Rosa é um dos suspeitos de ter fornecido o dossiê ao pastor Caio Fábio.

Apreensão
O FBI apreendeu ao menos três caixas com documentos e fotografias no escritório da Overland, na Avenida Brickell, no centro de Miami. Colheu ainda mais de 40 impressões digitais e exemplares de caligrafias.
Uma semana depois, Barros forneceu outros documentos para a investigação atendendo a pedido judicial.
O processo em Nova York está sendo conduzido por um "grand jury" na corte criminal federal Sul na cidade de Nova York. Ela é coordenada pelo promotor Steven R. Piekin.
Num "grand jury", jurados são encarregados de analisar provas e determinar se, com base nas informações que o FBI e a promotoria reuniram, o governo federal norte-americano deve ou não iniciar um processo criminal contra uma pessoa.
No caso de Barros, o que está em jogo é decidir se as provas obtidas pelo FBI (a polícia federal norte-americana) e pelo escritório da promotoria são suficientes para iniciar um processo por violação do "Foreign Corrupt Practice Act" -uma lei norte-americana da década de 70 que pune diretores de companhias dos EUA por subornarem ou tentarem subornar governos estrangeiros.

Conclusão
O "grand jury" ainda não terminou seus trabalhos e, portanto, Barros não é réu em Nova York. Muito menos o são Flávio Maluf, Rosa e Caio Fábio.
Barros é somente réu no processo que responde na Flórida por lavagem de dinheiro destinado ao tráfico de drogas, motivo pelo qual foi preso.
Enquanto o "grand jury" não conclui seus trabalhos em Nova York, a existência de uma investigação federal não pode ser divulgada, não consta dos cadastros públicos da corte e as autoridades (até os taquígrafos) que se pronunciarem a respeito estão sujeitos a um severo processo criminal.
Segundo apurou a Folha, o "grand jury" que investiga Barros teve início numa operação do FBI no começo de 1999.
A agência havia recebido, informalmente, num caráter de "cooperação", documentos fiscais, policiais e criminais do governo brasileiro sobre Barros e alguns de seus amigos.
Dependendo do rumo que as investigações tomarem em Nova York, o "grand jury" poderá também investigar a veracidade dos papéis e a existência das contas bancárias em paraísos fiscais mencionados no dossiê Caribe.
Embora tenha sido divulgado que a Polícia Federal brasileira descobriu que o dossiê Caribe foi falsificado, as autoridades policiais brasileiras não chegaram a uma conclusão sobre a origem e a veracidade dos papéis que o integram.


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