São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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ADVOCACIA
Criminalista afirma que seu caso mais importante será "o próximo"
Evandro espera pelo próximo caso

FERNANDA DA ESCÓSSIA
LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviados especiais a Vitória


Aos 88 anos, 68 de vida profissional, o criminalista Evandro Lins e Silva tem na ponta dalíngua a resposta quando perguntado sobre seu caso mais importante: "O próximo". Ele diz ter "o vício da defesa da liberdade".
Na quarta-feira, conseguiu outra vitória na defesa de José Rainha Jr., líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Em entrevista à Folha, o advogado se declara socialista e diz ser esse "o caminho".

Folha - O júri de José Rainha foi o último de sua carreira?
Evandro Lins e Silva -
Acredito que sim, não é? É muito difícil que haja uma causa de interesse nacional, porque só nesses casos é que sou procurado. É natural que hoje os advogados mais moços é que estejam defendendo as grandes causas. Mas nos casos que têm uma marca política e ideológica, em geral sou eu o lembrado.

Folha - O sr. classifica o julgamento de Rainha como político?
Lins e Silva -
O julgamento tinha na sua raiz o MST, que representa hoje uma força de propaganda, sobretudo, da reforma agrária. Segue a tradição que vem do século passado, quando se aboliu a escravatura. Rui (Barbosa), (Joaquim) Nabuco, Quintino Bocaiúva achavam que a simples libertação dos escravos não resolveria. Havia necessidade de uma reforma agrária para essa gente ter onde trabalhar, porque senão os escravos iriam vagar pelas estradas, como realmente aconteceu, e depois voltavam ao eito. O MST representa essa segunda parte da libertação dos escravos.

Folha - O sr. apóia o MST?
Lins e Silva -
Sou socialista. Não acredito nessa globalização, que não deu nenhum resultado brilhante. Ao contrário. Está aí o desemprego, a redução do desenvolvimento industrial e econômico do país, a perda do patrimônio nacional. Tudo que em um regime socialista não seria praticado.

Folha - Muitos consideram o socialismo fora de moda...
Lins e Silva -
Podem considerar fora de moda qualquer coisa que queiram. O caminho é exatamente esse. É o do socialismo. Só o Estado pode realizar de modo imparcial as aspirações do povo e da coletividade. Temos que pregar a intervenção do Estado na economia. Sou partidário disso.

Folha - O sr. foi muito criticado em um caso polêmico: a defesa de Doca Street (que assassinou Ângela Diniz em 1979).
Lins e Silva -
O problema do crime passional existe. Com a libertação da mulher da canga, que ela carregou durante milênios, isso perdeu um pouco a moda. Hoje em dia o passional é quase um crime de museu. Continuarei sustentando que a paixão desintegra a saúde mental do apaixonado.

Folha - Outro caso rumoroso foi o impeachment do presidente Fernando Collor.
Lins e Silva -
Não era possível ter na chefia do governo um homem que comandava uma verdadeira quadrilha e ofendia a moral, a ética e a dignidade do exercício da função pública.

Folha - E o que o sr. diria às pessoas que defendem a saída de FHC?
Lins e Silva -
Ainda não vi prova estrita de responsabilidade dele. Se diz, por exemplo, "comprou deputados para prorrogar o mandato". Cadê a prova disso? É vaga.

Folha - Qual é a sua opinião sobre FHC?
Lins e Silva -
Eu tive uma grande decepção com o governo.

Folha - Que causa o sr. gostaria de ter defendido?
Lins e Silva -
Eu tenho o vício da defesa da liberdade. Não escolho causas para defender alguém.


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