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São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003

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JANIO DE FREITAS

A queda de Lula

A manchete camarada pôde ser a aprovação do governo Lula por 43% dos consultados pelo Datafolha, que o qualificaram como ótimo/bom. Já seria um mau sinal que a queda na aprovação absoluta de Lula, nos seus primeiros cem dias, fosse praticamente idêntica à de Fernando Henrique Cardoso em igual período: perdas, respectivamente, de 42% e 44% do índice inicial. Dado suficiente para acender o sinal amarelo no Planalto, não estivesse tão inflacionada a presunção presidencial -ela também em nível fernandiano.
Mas ninguém vota para ter um presidente "regular", logo, esse nível de resposta tem sentido negativo. O que arredonda em 50% do eleitorado a proporção dos insatisfeitos com o governo (7% "não sabem"). O sinal amarelo deveria passar a laranja-quase-vermelho.
O argumento, que se pressente, da normalidade de queda no início de governo não se sustenta. Há um fato concreto a negá-la: único -entre Collor, Fernando Henrique e Lula- a iniciar seu governo com um índice pessimista a seu respeito, nos cem primeiros dias Itamar Franco aumentou em quase 100% a sua aprovação popular, elevada de 18% para 34%.
Dois outros dados são expressivos. Mesmo que nem sempre se definam como decepcionados, são 45% convencidos de que Lula, nos cem dias, fez menos do que esperavam. E os 12% que lhe atribuem mais do que esperavam são, convenhamos, os que podem avaliar Lula com mais segurança: são a tal camada que figura nas estatísticas sociais e econômicas como a classe dos privilégios absolutos, que foi, de fato, a única para a qual o governo produziu ou anunciou medidas favoráveis.

Inquietações
Incluída na pesquisa para avaliar as preocupações do eleitorado, esta sondagem oferece uma verificação útil sobre meios de comunicação/opinião pública.
Apesar de se manter nas alturas, o desemprego decresceu na preocupação geral, ainda que continue sendo a mais alta desde o segundo ano do governo Fernando Henrique.
A violência, por sua vez, desde pelo menos setembro de 99 ascende como fator de inquietação, elevando-se ao segundo lugar. Nos últimos anos, violência e a preocupação que gera cresceram sempre. De meados de 2002 para cá, a violência cresceu como nunca, mas se deu uma dissociação sem precedente. A maior violência não se acompanhou, no mesmo nível, pela preocupação que causa.
A violência cedeu o lugar a uma nova e veloz estrela, que ocupava o último lugar nas inquietações aferidas em final de setembro de 2002: fome/miséria. Efeito da emergência do tema na imprensa e na TV, de início com a campanha eleitoral de Lula e, nos últimos meses, com o amplo espaço ocupado pelo Fome Zero.

Final
Quem diria, o "Estadão" sem os Mesquitas. E, em sua nota, culpam pelo novo destino do "Estadão" a realidade econômica criada pela política que apoiaram com ardor como nenhum outro na mídia.


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