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JANIO DE FREITAS
A queda de Lula
A manchete camarada pôde ser a aprovação do governo Lula por 43% dos consultados pelo Datafolha, que o qualificaram como ótimo/bom. Já seria um mau sinal que a queda na
aprovação absoluta de Lula, nos
seus primeiros cem dias, fosse
praticamente idêntica à de Fernando Henrique Cardoso em
igual período: perdas, respectivamente, de 42% e 44% do índice
inicial. Dado suficiente para
acender o sinal amarelo no Planalto, não estivesse tão inflacionada a presunção presidencial
-ela também em nível fernandiano.
Mas ninguém vota para ter um
presidente "regular", logo, esse
nível de resposta tem sentido negativo. O que arredonda em 50%
do eleitorado a proporção dos insatisfeitos com o governo (7%
"não sabem"). O sinal amarelo
deveria passar a laranja-quase-vermelho.
O argumento, que se pressente,
da normalidade de queda no início de governo não se sustenta.
Há um fato concreto a negá-la:
único -entre Collor, Fernando
Henrique e Lula- a iniciar seu
governo com um índice pessimista a seu respeito, nos cem primeiros dias Itamar Franco aumentou em quase 100% a sua aprovação popular, elevada de 18%
para 34%.
Dois outros dados são expressivos. Mesmo que nem sempre se
definam como decepcionados,
são 45% convencidos de que Lula, nos cem dias, fez menos do
que esperavam. E os 12% que lhe
atribuem mais do que esperavam são, convenhamos, os que
podem avaliar Lula com mais segurança: são a tal camada que figura nas estatísticas sociais e
econômicas como a classe dos
privilégios absolutos, que foi, de
fato, a única para a qual o governo produziu ou anunciou medidas favoráveis.
Inquietações
Incluída na pesquisa para avaliar as preocupações do eleitorado, esta sondagem oferece uma
verificação útil sobre meios de
comunicação/opinião pública.
Apesar de se manter nas alturas, o desemprego decresceu na
preocupação geral, ainda que
continue sendo a mais alta desde
o segundo ano do governo Fernando Henrique.
A violência, por sua vez, desde
pelo menos setembro de 99 ascende como fator de inquietação,
elevando-se ao segundo lugar.
Nos últimos anos, violência e a
preocupação que gera cresceram
sempre. De meados de 2002 para
cá, a violência cresceu como
nunca, mas se deu uma dissociação sem precedente. A maior violência não se acompanhou, no
mesmo nível, pela preocupação
que causa.
A violência cedeu o lugar a
uma nova e veloz estrela, que
ocupava o último lugar nas inquietações aferidas em final de
setembro de 2002: fome/miséria.
Efeito da emergência do tema na
imprensa e na TV, de início com
a campanha eleitoral de Lula e,
nos últimos meses, com o amplo
espaço ocupado pelo Fome Zero.
Final
Quem diria, o "Estadão" sem
os Mesquitas. E, em sua nota,
culpam pelo novo destino do "Estadão" a realidade econômica
criada pela política que apoiaram com ardor como nenhum
outro na mídia.
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