São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ A VIOLAÇÃO DO SIGILO

Após revelação de que se reuniu com Palocci, ministro tenta evitar convocação por CPI

Acuado pela crise, Bastos quer agora antecipar ida ao Senado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pretende pedir hoje ao Senado, por ofício, que seja ouvido o quanto antes sobre sua participação na estratégia de defesa jurídica do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda), investigado por participação na violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
Ele tomou essa decisão depois da revelação pela edição desta semana da revista "Veja" de que se reuniu com Palocci, na casa do ex-ministro, uma semana depois da violação do sigilo.
Bastos enviou ofício semelhante, na semana passada, ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas sem sugerir data para o depoimento, que estava previsto para depois da Páscoa. Renan afirmou ontem que convocará hoje uma reunião dos líderes da Casa para discutir uma data.
"Na semana passada, defendi que ele se antecipasse para evitar essa fermentação", disse. Ainda assim, ele não garante que irá se empenhar nas negociações para que Bastos vá ao Congresso antes do feriado. "Acho que temos que combinar isso com os líderes."
Líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) conta ter recomendado ao ministro que não antecipasse o depoimento para "não alimentar o noticiário". "Mas o quadro mudou", ponderou Chinaglia.
Segundo petistas, o ministro tem se queixado de Palocci, a quem atribui a tentativa de compartilhar a culpa pela violação.
Ontem, Chinaglia e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), se dedicaram à defesa do ministro. "Até surgir o culpado na sua real dimensão, aconteceram reuniões, aconteceram contatos. A responsabilidade tem nome: Palocci e Mattoso. Se eles tivessem falado, vocês acham o quê? O Márcio, na hora em que vislumbrou a hipótese, avisou o Lula", frisou Chinaglia.
Por volta do meio-dia de ontem, o ministro telefonou a Mercadante informando a decisão de antecipar a audiência. "Minha disposição é a de esclarecer o mais rapidamente", disse o ministro, segundo Mercadante.
A Folha apurou que a tendência é Renan propor aos líderes que Bastos fale ao plenário da Casa, e não na CPI dos Bingos, onde poderia ser bombardeado por perguntas dos senadores da oposição. No plenário, Bastos contará com o apoio da bancada governista e do próprio Renan.
"Ele [Bastos] tem que se antecipar. Os fatos se sucedem com tanta rapidez que, se ele deixar para depois da Semana Santa, ficará tarde demais", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), da CPI.

Reunião
A situação de Bastos se complicou no final de semana. A "Veja" revelou que ele se reuniu com Palocci e Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, quatro dias antes de Mattoso depor à Polícia Federal.
A data da reunião poderia indicar uma estratégia para combinação dos depoimentos e da linha de defesa dos dois principais suspeitos pela violação. Até então, Mattoso não havia dito à PF ter entregue a cópia do extrato da conta do caseiro nas mãos de Palocci.
A reunião ocorreu no último dia 23 e teve a participação do advogado Arnaldo Malheiros.
Malheiros confirmou ter sido indicado por Bastos para assumir a defesa de Palocci. O contrato acabou não sendo fechado.
O advogado disse que o ministro da Justiça se ofereceu para apresentá-lo a Palocci. Quando Malheiros chegou à casa, Bastos já estava lá, com Palocci e Mattoso. Segundo ele, a parte da reunião da qual participou durou meia hora.
O Ministério da Justiça confirmou a reunião, mas negou que Bastos tenha articulado a estratégia de defesa de Palocci e Mattoso.
A estratégia de Bastos acabou desarmando a oposição no Senado, que articulava convocá-lo para um depoimento na CPI dos Bingos. A intenção era votar, na reunião de amanhã, requerimento do senador Arthur Virgílio (PSDB-AM). Tanto que o governo já negociava transformar a convocação em convite.
"Vamos aguardar porque se o ministro estiver mesmo disposto a falar para o Congresso está aí uma grande oportunidade, como convidado", disse Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI.
Para o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN), "esses novos detalhes acrescentam a necessidade da presença dele no Congresso". "Ele não virá como condenado, mas virá como suspeito."
(RUBENS VALENTE, SHEILA D'AMORIM, SÍLVIO NAVARRO E CATIA SEABRA)


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