São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMENTÁRIO

O criminalista engoliu o ministro

FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL

Quem é Márcio Thomaz Bastos? O ministro de Estado da Justiça ou o advogado criminalista do governo? É o funcionário público que tem por dever zelar pelo Estado de Direito e garantir o bom funcionamento da Justiça? Ou é a autoridade que usa o cargo indevidamente, protegendo alguns de seus pares, o chefe do Estado e o próprio governo de seus erros, abusos e eventuais crimes? Sozinho diante do espelho é possível que Márcio Thomaz Bastos não saiba responder -quem sou eu?
Os fatos dizem por ele. Quem estava reunido clandestinamente no dia 23 de março, uma quinta-feira, na casa de Antonio Palocci com o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso e o criminalista Arnaldo Malheiros, além, é claro, do anfitrião, não era -não podia ser- o ministro da Justiça. Mas Thomaz Bastos estava lá. Era o criminalista camarada em ação.
A versão do ministro, divulgada anteontem por sua assessoria, dá conta de que ele apenas apresentou Palocci a Malheiros e de que este -"um dos maiores especialistas em direito penal do Brasil", diz a nota- apenas discorreu sobre "alguns aspectos genéricos" da violação de sigilo do caseiro. Devemos também acreditar em duendes daqui em diante.
O ministro -ou o criminalista?- não opera segundo a lógica do convencimento. Importa menos que sua história seja verossímil e mais que seja eficaz para reduzir danos. Essa é a lógica dos criminalistas: "o mensalão era só caixa dois", "a violação é só vazamento", não tem pai nem mãe, ocorreu por geração espontânea.
Como Thomaz Bastos irá olhar daqui em diante para seus subordinados? Ele é o chefe da Polícia Federal, que tem em Palocci o principal suspeito pelo mando da violação do sigilo. Mas agora ele também é suspeito de ser cúmplice de Palocci, ou algo ainda pior. Será ouvido pela PF? A decisão de antecipar sua ida ao Senado parece não só tardia mas insuficiente -mais um capítulo da mesma política de redução de danos. O criminalista engoliu o ministro.


Texto Anterior: Acuado pela crise, Bastos quer agora antecipar ida ao Senado
Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: Atrás de Lula, oposição inflama crise, diz Tarso
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.