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COMENTÁRIO
O criminalista engoliu o ministro
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
Quem é Márcio Thomaz Bastos?
O ministro de Estado da Justiça
ou o advogado criminalista do governo? É o funcionário público
que tem por dever zelar pelo Estado de Direito e garantir o bom
funcionamento da Justiça? Ou é a
autoridade que usa o cargo indevidamente, protegendo alguns de
seus pares, o chefe do Estado e o
próprio governo de seus erros,
abusos e eventuais crimes? Sozinho diante do espelho é possível
que Márcio Thomaz Bastos não
saiba responder -quem sou eu?
Os fatos dizem por ele. Quem
estava reunido clandestinamente
no dia 23 de março, uma quinta-feira, na casa de Antonio Palocci
com o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso e o criminalista Arnaldo Malheiros, além, é claro, do
anfitrião, não era -não podia
ser- o ministro da Justiça. Mas
Thomaz Bastos estava lá. Era o
criminalista camarada em ação.
A versão do ministro, divulgada
anteontem por sua assessoria, dá
conta de que ele apenas apresentou Palocci a Malheiros e de que
este -"um dos maiores especialistas em direito penal do Brasil",
diz a nota- apenas discorreu sobre "alguns aspectos genéricos"
da violação de sigilo do caseiro.
Devemos também acreditar em
duendes daqui em diante.
O ministro -ou o criminalista?- não opera segundo a lógica
do convencimento. Importa menos que sua história seja verossímil e mais que seja eficaz para reduzir danos. Essa é a lógica dos
criminalistas: "o mensalão era só
caixa dois", "a violação é só vazamento", não tem pai nem mãe,
ocorreu por geração espontânea.
Como Thomaz Bastos irá olhar
daqui em diante para seus subordinados? Ele é o chefe da Polícia
Federal, que tem em Palocci o
principal suspeito pelo mando da
violação do sigilo. Mas agora ele
também é suspeito de ser cúmplice de Palocci, ou algo ainda pior.
Será ouvido pela PF? A decisão de
antecipar sua ida ao Senado parece não só tardia mas insuficiente
-mais um capítulo da mesma
política de redução de danos. O
criminalista engoliu o ministro.
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