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BRASIL PROFUNDO
Postos da PF na divisa com a Colômbia estão com déficit de policiais mesmo após final da greve da categoria
Falta de agentes prejudica ação na fronteira
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TABATINGA (AM)
O efetivo da Polícia Federal nos
nove Confrons (Postos de Controle de Fronteiras) próximos à
Colômbia, área de prioridade no
combate ao narcotráfico e possível trasbordamento da ação das
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), continua
deficitário mesmo 30 dias depois
do término da greve da categoria.
Dos cerca de 80 profissionais
que trabalham nos Confrons em
sistema de rodízio, estão hoje nos
postos apenas 20 agentes federais
para fiscalizar uma extensão de
1.644 km de fronteira. "Sem agentes, não há fiscalização. A greve
praticamente parou os postos na
Amazônia", diz Fernando Rebouças, chefe da Operação Cobra
(junção das sílabas iniciais de Colômbia e Brasil) da PF.
Ele afirma que os agentes começam a retornar aos postos a partir
de sábado, mas diz acreditar que a
falta de fiscalização já comprometeu a meta da PF de retirar, até
2006, o Brasil da lista da ONU
(Organizações das Nações Unidas) de país com trânsito de droga
da Colômbia para Europa e EUA.
Na segunda-feira, na base Anzol, o principal Confron coordenado pela Operação Cobra, só trabalhavam quatro dos dez agentes.
Ontem, ficaram na base apenas
três agentes, já que Aristides Meireles Filgueiras voltou para o Ceará, onde é lotado, depois de permanecer 30 dias na fronteira.
A greve dos agentes, escrivães e
papiloscopistas da PF começou
no dia 9 de março e acabou oficialmente em 10 de maio. Eles pedem o pagamento de salário equivalente a escolaridade de nível superior com base na lei 9.266/96,
que tornou obrigatório o terceiro
grau para ingressar na PF.
Saído da greve, Aristides Filgueiras chegou à base Anzol em
15 de maio, para cobrir dois policiais, um deles com 90 dias de trabalho. Nos dias 27, 28 e 29 de
maio, trabalhou sozinho no posto: "A fiscalização ficou totalmente prejudicada. Durante a greve, a
fiscalização praticamente parou".
Difícil acesso
A base Anzol fica na localidade
de Palmeiras. O acesso a ela é por
helicóptero ou barco. São duas
horas e meia de viagem numa lancha a motor saindo de Tabatinga
(1.105 km a oeste de Manaus), que
faz fronteira com Letícia, onde as
forças militares colombianas
mantém uma brigada.
Nos últimos três anos, a Anzol
foi responsável por 70% das
apreensões de cocaína trazidas
em embarcações por traficantes
que utilizam os rios colombianos
Putumaio e Caquetá como corredor para o Solimões, no Amazonas. São os agentes da PF que evitam, também, o contrabando de
peixes, madeira e a biopirataria.
Nos 61 dias de greve, não ocorreram apreensões de droga. Os
agentes da Anzol, que antes da
greve chegavam a vistoriar em
uma hora um barco com 300 passageiros, hoje só conseguem fazer
a fiscalização por amostragem,
gastando mais de três horas, o que
dá brechas para os traficantes driblar a ação da polícia.
O agente Marcílio de Melo, que
está na base Anzol desde 28 de
maio e pertence ao Sindicato dos
Agentes Federais do Amazonas,
reconheceu que, com a greve, a
fiscalização na fronteira ficou vulnerável, mas diz que a categoria
tem o direito de fazer greve.
"Nós voltamos com indicativo
de boa vontade para que fossem
retomadas as negociações, mas o
governo até agora não demonstrou nenhuma contraproposta
plausível", disse ele.
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