São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Postos da PF na divisa com a Colômbia estão com déficit de policiais mesmo após final da greve da categoria

Falta de agentes prejudica ação na fronteira

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TABATINGA (AM)

O efetivo da Polícia Federal nos nove Confrons (Postos de Controle de Fronteiras) próximos à Colômbia, área de prioridade no combate ao narcotráfico e possível trasbordamento da ação das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), continua deficitário mesmo 30 dias depois do término da greve da categoria.
Dos cerca de 80 profissionais que trabalham nos Confrons em sistema de rodízio, estão hoje nos postos apenas 20 agentes federais para fiscalizar uma extensão de 1.644 km de fronteira. "Sem agentes, não há fiscalização. A greve praticamente parou os postos na Amazônia", diz Fernando Rebouças, chefe da Operação Cobra (junção das sílabas iniciais de Colômbia e Brasil) da PF.
Ele afirma que os agentes começam a retornar aos postos a partir de sábado, mas diz acreditar que a falta de fiscalização já comprometeu a meta da PF de retirar, até 2006, o Brasil da lista da ONU (Organizações das Nações Unidas) de país com trânsito de droga da Colômbia para Europa e EUA.
Na segunda-feira, na base Anzol, o principal Confron coordenado pela Operação Cobra, só trabalhavam quatro dos dez agentes. Ontem, ficaram na base apenas três agentes, já que Aristides Meireles Filgueiras voltou para o Ceará, onde é lotado, depois de permanecer 30 dias na fronteira.
A greve dos agentes, escrivães e papiloscopistas da PF começou no dia 9 de março e acabou oficialmente em 10 de maio. Eles pedem o pagamento de salário equivalente a escolaridade de nível superior com base na lei 9.266/96, que tornou obrigatório o terceiro grau para ingressar na PF.
Saído da greve, Aristides Filgueiras chegou à base Anzol em 15 de maio, para cobrir dois policiais, um deles com 90 dias de trabalho. Nos dias 27, 28 e 29 de maio, trabalhou sozinho no posto: "A fiscalização ficou totalmente prejudicada. Durante a greve, a fiscalização praticamente parou".

Difícil acesso
A base Anzol fica na localidade de Palmeiras. O acesso a ela é por helicóptero ou barco. São duas horas e meia de viagem numa lancha a motor saindo de Tabatinga (1.105 km a oeste de Manaus), que faz fronteira com Letícia, onde as forças militares colombianas mantém uma brigada.
Nos últimos três anos, a Anzol foi responsável por 70% das apreensões de cocaína trazidas em embarcações por traficantes que utilizam os rios colombianos Putumaio e Caquetá como corredor para o Solimões, no Amazonas. São os agentes da PF que evitam, também, o contrabando de peixes, madeira e a biopirataria.
Nos 61 dias de greve, não ocorreram apreensões de droga. Os agentes da Anzol, que antes da greve chegavam a vistoriar em uma hora um barco com 300 passageiros, hoje só conseguem fazer a fiscalização por amostragem, gastando mais de três horas, o que dá brechas para os traficantes driblar a ação da polícia.
O agente Marcílio de Melo, que está na base Anzol desde 28 de maio e pertence ao Sindicato dos Agentes Federais do Amazonas, reconheceu que, com a greve, a fiscalização na fronteira ficou vulnerável, mas diz que a categoria tem o direito de fazer greve.
"Nós voltamos com indicativo de boa vontade para que fossem retomadas as negociações, mas o governo até agora não demonstrou nenhuma contraproposta plausível", disse ele.


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