São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Compadre de Lula repete Freud e vira empresário

Preso na semana passada, amigo do presidente trabalhou em campanhas do PT

Em depoimento à PF, Dario Morelli diz que se encontrou duas vezes neste ano com Lula em São Bernardo, sem conversar sobre política

CATIA SEABRA
FERNANDO BARROS DE MELLO

DA REPORTAGEM LOCAL

Pivô da nova crise que ronda o Planalto, o petista Dario Morelli Filho -compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva- foi contratado para fornecer carros à campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo de SP em 2006.
Pelos serviços, Morelli recebeu, de acordo com declaração ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral), R$ 187,6 mil entre agosto e outubro de 2006, em três pagamentos à empresa Dario Morelli Filho: um de R$ 57 mil, outro de R$ 65 mil e um terceiro de R$ 65.596,89.
À PF, Morelli afirmou que o serviço de locação de carros à campanha de Mercadante fez sua movimentação financeira subir de R$ 320 mil, em 2005, para R$ 661 mil no ano passado.
Disse que trabalhou em campanha de Lula, mas não precisou em qual. No depoimento, afirmou que conversou duas vezes neste ano com Lula, na casa do presidente em São Bernardo, sem tratar de política.
Atuante na coordenação da campanha, Morelli alugou os carros, segundo a assessoria do senador, por indicação do diretório estadual do PT. A assessoria de Mercadante diz que Morelli aluga, tradicionalmente, carros para as campanhas do PT, além de fornecer para o próprio diretório estadual.
Seu advogado, Milton Fernando Talzi, disse que, como militante do PT, Morelli prestou serviços para diferentes campanhas do partido. Segundo petistas, ele não só viabilizava carros mas também logística para candidatos. O presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, não quis se manifestar.
Além da empresa, criada em 2001, Morelli era, até a semana passada, funcionário da empresa de saneamento de Diadema, cidade administrada pelo PT. Contratado em 2002 e afastado após a Operação Xeque-Mate, Morelli tem salário de R$ 4.500. Segundo a prefeitura, era um funcionário atuante.
Mas, segundo assessoria do ex-deputado Roberto Gouveia, Morelli não comparecia à Assembléia Legislativa quando contratado para trabalhar, a pedido do PT, em seu gabinete. Morelli foi duas vezes contratado por Gouveia: na presidência da Alesp e como motorista.
Apelidado de "Chupisco" por amigos do PT, também foi segurança de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, na campanha de 1994. Sua trajetória se confunde com a de petistas que cresceram com o partido.
A exemplo de Morelli, Freud Godoy acumulou a função de assessor especial da Presidência com as atividades empresariais da família. Propriedade de Freud em sua composição original, a empresa de sua mulher é responsável pela segurança da portaria do Diretório Nacional do PT. Em 2004, a empresa Caso Sistema de Segurança atuou na campanha da prefeita Marta Suplicy à reeleição.
"A idéia deles é: Lula é nosso amigo. A amizade do bar em São Bernardo é levada a Brasília", afirma o professor Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos.
Até junho de 2003, quando já ocupava a diretoria da instituição, o presidente do Sebrae, Paulo Okamoto, era sócio-gerente da empresa Red Star, que fornecia brindes, como botons, ao PT. Em 2005, Okamoto teria apontado a empresa como fonte do dinheiro usado para cobrir uma dívida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no valor de R$ 29 mil.
Também em 2005, vieram à tona investimentos de R$ 5 milhões da empresa Telemar na produtora Gamecorp, do qual o Fábio Luís, o Lulinha, tornou-se sócio em 2003. Naquele mesmo ano, o irmão mais velho do presidente, Genival Inácio da Silva, ganhou as páginas por ter aberto um escritório para intermediar demandas de empresários com prefeituras do PT, estatais e empresas com o governo federal.
"O presidente veio muito de baixo, antes de fazer parte da elite. Tem relacionamentos com pessoas do seu meio e que não conseguiram ascender tanto. Essas pessoas podem até exibir um relacionamento e influência que não têm", diz Leôncio Martins Rodrigues, cientista político da USP.
Para o filósofo Roberto Romano, da Unicamp, dizer que é "amigo do Lula é salvo-conduto". "Apontar o dedo para o Lula seria pecado. Quando o líder não pode ser responsabilizado, a corte e seu entorno também não podem", afirma Romano.


Colaboração da Agência Folha e do enviado a Campo Grande


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