São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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JANIO DE FREITAS

O controle perdido


A origem do descontrole e seus frutos não está na Polícia Federal. Está em decisões do próprio Lula

O PINGA-PINGA de informações que associam o nome de Lula ao irmão e ao compadre alcançados pela Operação Navalha, tão parecido com as intrigas políticas que se valem da imprensa, é a amostra, para uso externo, da perda de controle que atinge a Polícia Federal na sua primeira era de eficiência e prestígio. Tudo o que a liberação dosada pela PF proporcionou até agora - quase a mesma coisa com mudança irrelevantes - já era do seu conhecimento antes da divulgação inicial das gravações comprometedoras. Mas a origem do descontrole e seus frutos não está na PF. Está em decisões e autorizações do próprio Lula.
Só agora, passados três meses desde a confirmação de sua escolha para ministro da Justiça, Tarso Genro afirma, para todos os efeitos, a efetivação do delegado Paulo Lacerda no trabalho extraordinário que fez na PF, com o ex-ministro Marcio Thomaz Bastos. A politicagem típica do serviço público teve muito tempo para voltar ao predomínio na PF, com disputas não só pela direção geral. A PF, nesse sentido, voltou ao seu passado. E mesmo para o experiente Paulo Lacerda a recomposição da obra prejudicada tende a ser mais problemática do que foi criá-la.
Tanto mais que Tarso Genro já cometeu a imprudência de informar que, no final do ano, Paulo Lacerda reexaminará sua permanência. Está dada, pois, a indicação para a continuidade das disputas perturbadoras.
O antecedente desses erros é outro erro. Lula armou-se de dois articuladores políticos e não tem nenhum. Tarso Genro, na Justiça, continua fazendo tanta política partidária e governista quanto antes, quando foi articulador oficial sem êxito perceptível. Mares Guia, o novo articulador oficial, pode ser oficial, mas articulador nunca será, quando muito veicula cobranças de cargos e outras vantagens. Com isso, o Ministério da Justiça e sua Polícia Federal ganharam um político em lugar de um ministro e a articulação política permanece, desde o primeiro dia do primeiro mandato, como simples agência de intermediação de empregos mais conhecidos como bocas-ricas.
Como tempero para esse prato cheio, a Polícia Federal tem um motivo substancioso de desagrado com Lula, para não dizer o que parece existir de fato. Certa ou excessiva a reivindicação de aumentos e equiparações da PF, o fato é que o governo comprometeu-se a dar 30% de reajuste neste ano, e seguiu sua norma de não cumprir os compromissos. Fez outro, mas não resolveu o problema.
Os Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores foram as duas áreas em que o governo Lula representou inovação, e não mero espichamento do governo de Fernando Henrique Cardoso. A inovação está ameaçada de reduzir-se à metade.

No sangue
Mesmo com toda a onda feita a propósito de Genival Inácio da Silva, a Polícia Federal diz que esse irmão de Lula até recebia uns trocados, mas não cumpria as promessas feitas. Ah, explicam-me, então não é crime: é genético.


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