São Paulo, domingo, 10 de junho de 2007

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Juiz é suspeito de cobrar salário de funcionário

Documentos e fitas de dossiê de Carreira Alvim, investigado na Operação Hurricane, apontam irregularidade contra o vice do TRF

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Um conjunto de 20 documentos e 11 fitas cassete apreendidos pela Polícia Federal na residência do juiz do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região José Eduardo Carreira Alvim sugere que o vice-presidente do órgão, Fernando Marques, teria ficado com parte do salário pago a um funcionário de seu gabinete.
Trata-se de Eledilson Proença Botelho, servidor originário da Câmara Municipal de Niterói, chefe-de-gabinete de Marques entre 19 de maio de 1999 e 6 de agosto de 2000. Botelho saiu do TRF um dia após deixar a chefia de gabinete do atual vice-presidente do tribunal, segundo dados do órgão.
Conforme os relatórios de análise da PF aos quais a Folha teve acesso, um dos documentos é uma "carta de Eledilson Proença Botelho, destinada ao [então] presidente do TRF 2ª Região Alberto Nogueira, denunciando o pagamento de parte de sua gratificação de chefia à filha do desembargador Fernando Marques -Fernanda Marques". Na ocasião, o salário de chefe-de-gabinete era R$ 5.186,45.
As fitas e documentos, parte de ação penal em tramitação no STF (Supremo Tribunal de Federal) e na Justiça Federal no Rio, foram apreendidos pela PF na Operação Hurricane.
Carreira Alvim é um dos denunciados sob a acusação de ter praticado os crimes de quadrilha e corrupção passiva.
A PF afirma que "os documentos (...) estão vinculados a diálogos interceptados [na investigação da Hurricane], nos quais Carreira pedia cooperação de Eledilson no sentido de reunir provas contra o desembargador [sic] Fernando Marque, provas estas relacionadas ao fato de que este desviaria parte da gratificação de chefia de funcionários do tribunal em benefício de sua filha".

Dossiês
Eledilson afirmou à Folha ter protocolado o documento na presidência do TRF e, recentemente, entregado cópia a Carreira Alvim, junto com fitas de conversas dele com Marques. O material comporia um dos dossiês que, segundo a PF, Carreira Alvim estaria montando contra colegas do TRF.
"Entreguei ao desembargador [sic] Carreira Alvim, que me solicitou o documento. Ele me procurou recentemente, disse que estava procurando provas, que tinha muita corrupção dentro do tribunal, estava juntando provas, porque queria acabar com a corrupção e agora me envolveu nisso", afirmou. "Eu confiei nele e entreguei nas mãos dele, entreguei tudo a ele. Confiei nele e depois fiquei sabendo daquele escândalo no jornal."
Eledilson não quis falar sobre como Marques teria cobrado parte de seu salário.
Para os policiais, Carreira Alvim -sabendo que era investigado-, pretendia usar as informações para alegar que ficou na mira da PF porque denunciaria supostas irregularidades de magistrados.


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