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COMUNICAÇÕES
Doze pedidos de concessão já foram autorizados pelo presidente e estão tramitando no Congresso
Governo deve criar 180 emissoras de TV
OTÁVIO CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério das Comunicações
deve transformar em concessionárias de televisão 180 retransmissoras educativas que hoje
atuam com licenças precárias. As
concessões serão gratuitas, válidas por 15 anos e renováveis.
Os processos deverão estar concluídos até maio do ano que vem.
Entre os potenciais beneficiários
estão fundações ligadas a políticos, igrejas e grupos privados de
rádio. Doze pedidos de concessão
já foram autorizados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e estão sendo analisados pelo
Congresso Nacional.
As novas concessões estão sendo dadas com base no decreto
3.541, assinado pelo presidente e
pelo ministro das Comunicações,
Pimenta da Veiga, em 6 de maio.
Um decreto de igual teor, assinado em maio de 1998 por FHC e pelo ex-ministro das Comunicações
Luiz Carlos Mendonça de Barros,
já previa essa possibilidade.
O novo decreto prorrogou por
mais um ano (até maio de 2001) o
prazo dado pelo decreto anterior
para que as repetidoras enviassem a documentação exigida pelo
Ministério das Comunicações.
100% local
O decreto permite a transformação de retransmissoras mistas
de televisão educativa, figura criada por portaria durante o governo
do presidente José Sarney (1985-90), em geradoras regionais.
Em tese, elas poderão ocupar
toda a grade de programação com
produção local, quando hoje estão obrigadas a retransmitir pelo
menos 85% da programação gerada pelas chamadas cabeças-de-rede, como a TV Cultura, de São
Paulo, e a TV Educativa, do Rio.
Além disso, o decreto permite
que novas fundações recebam
concessões onde houver canal de
geradora disponível. Com a concessão de geradora em seu poder,
as atuais retransmissoras -que
hoje podem gerar no máximo
duas horas de programação por
dia- poderão chegar a 100% de
produção local, desde que tenha
um caráter educativo, e retransmiti-la para as cidades vizinhas.
Poderão também captar recursos com publicidade institucional, embora continuem proibidas
de anunciar produtos.
O próprio Ministério das Comunicações admite que a mudança pode ser um atrativo para grupos políticos e religiosos.
""Todo o sistema de radiodifusão tem ligação com política, não
há como não ser assim", admitiu
Paulo Minicucci, secretário nacional de Radiodifusão do Ministério
das Comunicações: ""O que nós
estamos fazendo é criar meios para evitar o uso da política na programação das emissoras".
Promessa esquecida
A concessão dessas emissoras
contraria promessa feita na primeira gestão do governo FHC. No
dia da posse, em 1995, o então ministro Sérgio Motta afirmou que
não haveria mais distribuição gratuita de canais de TV, os quais
passariam a ser concedidos por
meio de licitações públicas.
Contudo hoje existem 300 pedidos de concessão de geradoras
educativas na Secretaria Nacional
de Radiodifusão. Segundo Minicucci, 12 foram aprovados, 120 devem ser negados e 168 estão em
estudo, podendo ser autorizados.
O governo dispensou licitações
para TVs educativas. Os interessados precisam apenas registrar
uma fundação e enviar a documentação ao ministério. Depois
de aprovados pelo ministério e
pela Presidência, precisam de
aprovação por maioria simples
no Congresso Nacional. Como há
políticos governistas envolvidos e
este é um ano de eleições municipais, o ministério não prevê dificuldades na aprovação.
Políticos
Os pedidos existentes no ministério revelam indícios de influência política, sobretudo em Minas
Gerais, Estado do ministro Pimenta da Veiga (Comunicações),
que conta com o maior número
das tais retransmissoras mistas.
É o caso da Fundação Educacional e Cultural João Soares Leal Sobrinho, que administra a Rádio e
TV Imigrantes, em Teófilo Otoni
(MG). A emissora é controlada
por Luís Leal, ex-prefeito e deputado federal pelo PMDB. Ele já teve a concessão autorizada pelo
presidente da República.
Em Formiga (MG), reduto eleitoral de Pimenta da Veiga, a concessão (também já autorizada por
FHC) foi para a Fundação Integração do Oeste de Minas. O presidente é Mozart Arantes, vice-prefeito na última legislatura na
chapa do atual prefeito, Eduardo
Bras Almeida (PSDB).
Em Ubá, a TV educativa local é
administrada por uma fundação
presidida por Daniel Coelho, filho
do deputado federal Saulo Coelho
(PSDB-MG), que até a semana
passada ocupava o cargo de ouvidor da Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações), órgão que
fiscaliza as emissoras de TV.
Divinópolis
A retransmissora educativa da
cidade de Divinópolis, também
em Minas Gerais, está em nome
da Fundação Jaime Martins, criada pelo pai do deputado federal
Jaime Martins Filho (PFL). Ele
confirma que encaminhou a documentação com o pedido de
concessão ao ministério, mas declara não possuir vínculo com a
administração da entidade.
O deputado diz que não tira
proveito político ou financeiro da
TV: ""Pago o aluguel do meu próprio bolso e fizemos uma campanha na cidade para levantar recursos e manter a emissora funcionando", afirmou.
Martins Filho diz estar convencido de que a vinculação com rádio e televisão mais prejudica do
que beneficia os políticos, pelo
menos nas cidades onde existem
várias emissoras em funcionamento. ""Elas nos vêem como concorrentes", justifica.
Em pelo menos duas cidades
mineiras, as retransmissoras são
ligadas aos prefeitos: a de Três Corações e a de Lambari.
Entre os 12 pedidos de concessão já autorizados pelo governo,
pendentes apenas de aprovação
pelo Congresso, está o da Fundação Radiodifusão Rodesindo Pavan, do Balneário de Camboriú
(SC). O nome da fundação é uma
homenagem ao pai do prefeito
Leonel Pavan (PDT), membro do
conselho curador da entidade.
No Piauí, o deputado estadual
Guilherme Xavier Oliveira (PL)
possui uma retransmissora mista
educativa na cidade de Regeneração que, pelo decreto, pode ser
transformada em geradora.
São Paulo
No Estado de São Paulo, cerca
de 70 retransmissoras educativas
entraram com pedido de concessão de geradora no Ministério das
Comunicações. Diversamente do
que ocorre em Minas, os pedidos
vêm, em sua maioria, de grupos
de comunicação privados.
O presidente da Aesp (Associação das Emissoras de Rádio e TV
de São Paulo), Orlando José Zovico, é o maior exemplo dessa situação. Ele é proprietário de uma rede de sete rádios no interior do
Estado, atua há 38 anos no setor e
tem uma retransmissora mista
educativa na cidade de Limeira.
O empresário conta que entrou
com o pedido de concessão em
nome da Fundação Orlando Zovico (uma homenagem ao pai),
criada especialmente para esse
fim e que pretende ter em sua grade de programação pelo menos
três horas diárias de produção local. A retransmissora, por enquanto, está registrada em nome
da Rádio Jornal do Povo Ltda.
Há outros casos de retransmissoras ligadas a grupos de comunicação privados em São Paulo:
Bertioga (Rádio Costa Norte), Birigui (Associação Sabioni de Comunicação), Sorocaba (Rede Metropolitana), Diadema (Antena
Um) e Guarulhos (Rádio Líder).
Orlando Zovico diz que, até o
momento, não percebeu reação
negativa por parte das emissoras
comerciais à transformação das
retransmissoras em geradoras.
Embora minoritários, os políticos também estão presentes nos
processos oriundos de São Paulo.
A retransmissora de Mogi-Guaçu
(SP) tem como sócios três políticos do PSDB: o prefeito da cidade,
Walter Caveanha, o presidente
municipal do partido, Mário Vedovelho Filho, e o vereador Elias
Fernandes de Carvalho.
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