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Conduta de delegado divide cúpula da PF
Policial teria desrespeitado normas, como não prestar contas do andamento da investigação; ação quase foi suspensa
Delegado teria dito que agiu com receio de que as informações estratégicas da ação pudessem vazar e prejudicar toda a operação
LEONARDO SOUZA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Operação Satiagraha, apesar de considerada um sucesso
pelo governo, dividiu a Polícia
Federal pela forma como o delegado responsável Protógenes
Queiroz conduziu as investigações. Ele chegou a requisitar
agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para auxiliá-lo nos trabalhos que culminaram com a prisão do banqueiro Daniel Dantas.
A cúpula da PF avalia que
Queiroz desrespeitou algumas
normas de conduta, como não
prestar contas do andamento
da investigação, não fornecendo sequer informações básicas
que permitissem estruturar a
parte logística da operação. Por
pouco, a ação da PF não foi suspensa na véspera.
A pessoas próximas, Queiroz
alega que tomou tais medidas
por receio de que informações
estratégicas pudessem vazar e
prejudicar a operação. Por ter
sido feriado ontem em São Paulo, a Folha não conseguiu contatar o delegado.
Um dos integrantes da cúpula da PF, designado para acompanhar a ação em São Paulo,
disse a Queiroz que a operação
poderia ser abortada se ele não
passasse coordenadas mínimas, como os nomes dos alvos
dos mandados de prisão. Foi só
na noite de segunda que ele informou a cúpula dos detalhes.
O uso de agentes da Abin, por
exemplo, não era do conhecimento da chefia da Polícia Federal nem do Ministério da
Justiça, que reprovou a prática,
embora ela seja legal.
A presença de agentes da
Abin nas investigações foi registrada em pelo menos um
episódio, ocorrido no dia 27 de
maio, quando o carro de Humberto Braz, assessor de Dantas
e com prisão decretada, foi seguido nas ruas do Rio quando
levava um filho para a escola.
O motorista de Braz suspeitou ser seguido e acionou a divisão anti-seqüestro da polícia
do Rio. Ao ser abordado, um
homem dentro do veículo, um
Astra, se identificou como tenente Marcos, a serviço da
Abin. Acabou liberado.
No mesmo dia, Humberto
Braz encontrou-se em Brasília
com o publicitário Guilherme
Sodré, que trabalha para o banqueiro, a quem relatou o episódio ocorrido no Rio.
Sodré, alvo de mandados de
busca e apreensão da PF em
São Paulo e Brasília, partilhou
a informação com o senador
Heráclito Fortes (DEM-PI),
político aliado do banqueiro
Daniel Dantas no Congresso.
No dia seguinte, Heráclito
recebia em seu gabinete o diretor-geral da Abin, delegado
Paulo Lacerda, a quem relatou
o caso. Inicialmente, Lacerda
negou a atuação de agentes da
Abin na investigação da PF.
Um dia depois, em 29 de
maio, Lacerda voltou a entrar
em contato com o gabinete do
senador. Dessa vez, teria admitido que um agente da Abin seguiu o carro, mas que teria sido
um engano. O policial estaria
atrás de um russo.
A admissão da presença de
um agente da Abin no caso
ocorreu depois que Sodré também acionou o ex-deputado
petista Luiz Eduardo Greenhalgh, contratado por Dantas.
Greenhalgh teria questionado o Palácio do Planalto sobre a
atuação de agentes da Abin em
possível monitoramento de diretores do Opportunity no Rio.
Só então veio a confirmação,
mas com a ressalva de que teria
sido um engano. A Folha também tentou falar com o ex-deputado, mas não o localizou.
Ontem, a Abin disse que
"sempre que solicitada, havendo a possibilidade, disponibiliza servidores para atuar com
órgãos parceiros do governo".
Não comentou o caso específico da operação.
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