São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Policial apura crime financeiro desde anos 90

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável pela Operação Satiagraha, o delegado da Polícia Federal Protógenes Pinheiro de Queiroz investiga crimes financeiros desde meados dos anos 90. Ele conduziu em Foz do Iguaçu (PR) o primeiro inquérito que levou à criação, em 2003, da CPI do Banestado, em Brasília.
Queiroz foi coordenador do grupo montado em Foz pela Divisão do Crime Organizado e Inquéritos Especiais da PF para averiguar remessas estimadas em até R$ 120 bilhões para a filial do Banestado em Nova York. Por cerca de um ano, com uma equipe pequena e apenas um carro, Queiroz atuou num caso explosivo que ameaçava prender donos de bancos do Paraná, que, no entanto, diziam estar amparados por mudanças na legislação operadas pelo governo FHC (1995-2002).
Numa reunião tensa, em Brasília, Queiroz chegou a esmurrar a mesa ao cobrar de técnicos do Banco Central maior rigor no controle da remessa de capitais.
Depois que Queiroz deixou o caso em Foz, os peritos da PF Renato Barbosa e Eurico Montenegro e o delegado José Castilho conseguiram apreender nos Estados Unidos os arquivos do Banestado que, revelados pela imprensa, forçaram a criação da CPI no Congresso.
Queiroz atuou na delegacia de crimes fazendários de São Paulo até 2003, quando o delegado Paulo Lacerda assumiu o cargo de diretor-geral da PF. Lacerda tornou as grandes operações, com prisões em massa e uso ostensivo da interceptação telefônica, ações rotineiras na PF.
Logo Queiroz foi transferido para Brasília. Passou a liderar, de lá, as principais investigações de São Paulo. Presidiu os inquéritos que levaram às prisões do ex-governador Paulo Maluf e de seu filho, Flávio; do acusado de contrabando Law Kin Chong, numa cooperação com a CPI da Pirataria; e do indiciamento do ex-prefeito Celso Pitta, em 2006.
Em cinco anos, Queiroz firmou-se como um dos principais investigadores de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Sua atuação gerou atritos, velados e explícitos, com delegados de São Paulo. O clímax ocorreu em 2004, quando recebeu o aval de Lacerda para realizar em São Paulo uma operação sem conhecimento prévio da superintendência local.
Queiroz foi colecionando críticas de advogados dos investigados e de parte da imprensa, que enxergou privilégio a um repórter da Rede Globo que conseguiu acompanhar, em 2005, disfarçado de agente da PF, a prisão de Maluf. A PF abriu investigação interna sobre o fato.
Na mesma operação, advogados de Maluf acusaram Queiroz de ter tentado "subornar" o doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, principal acusador do ex-prefeito de São Paulo.
O indício era uma conversa do doleiro em que dizia que a suposta vantagem não seria "material". A acusação dos advogados nunca foi comprovada. Na época, Queiroz disse que o único "presente" que poderia dar ao doleiro seria uma delação premiada.


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