São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008

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Tarso faz críticas à perda de foco da polícia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Justiça, Tarso Genro, afirmou ontem que o pedido de prisão e de busca e apreensão na casa da jornalista da Folha Andréa Michael resulta na "perda da centralidade" e pode prejudicar o objetivo do inquérito da Operação Satiagraha.
De acordo com o ministro, alguns nomes que surgiram na investigação são "coisas secundárias e que não têm a mínima importância para o desfecho" do caso, que tem como alvo crimes financeiros.
"Não conheço o processo nem o examinei tecnicamente, mas minha opinião é que inquéritos dessa natureza não podem perder a centralidade. O objetivo desse inquérito foi verificar crimes graves contra o sistema financeiro. Pelo que concluí, na manifestação da Procuradoria e do juiz, o pedido [de busca e apreensão e de prisão da jornalista] não tinha nenhum conforto. O que confirma, portanto, essa minha avaliação de que a perda da centralidade pode prejudicar o objetivo do inquérito."
A PF havia feito os pedidos, negados parcialmente pelo Ministério Público e totalmente pela Justiça, porque considerou que Michael havia divulgado dados sigilosos do inquérito a envolvidos na investigação. Na realidade, a jornalista havia publicado reportagem em 26 de abril adiantando quase todos os aspectos da investigação, baseada nos dados do inquérito, e foi procurada pelo advogado do Opportunity, Nélio Machado.
"Ele me procurou e conversamos. Todos os dados sigilosos que comentei com ele haviam sido extraídos do inquérito e publicados na reportagem, tudo era público", disse Michael. Machado questionou a informação alegando desconhecimento do inquérito. Michael então lhe passou o número do inquérito para que checasse por si mesmo. Em nota, a Folha afirmou que "cabe às autoridades competentes manter dados desse tipo em sigilo".

Exposição
Contrariado com a exposição na mídia da prisão do banqueiro Daniel Dantas, do megainvestidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o ministro pediu que a PF apure os procedimentos da ação em sindicância.
Segundo ele, houve violação do manual de operações da instituição, que prevê, entre outras coisas, a "não-execração" pública de detidos com exposição à mídia. A Rede Globo foi a única emissora a acompanhar as prisões de Nahas e Pitta, em São Paulo, e de Dantas, no Rio.
"Gostaria de pedir desculpas às empresas jornalísticas que não foram avisadas. Nenhuma deveria ser avisada, mas houve inclusive uma concorrência desleal. (...) Recebi várias reclamações de empresas de comunicação que se sentiram alijadas desse processo."
Tarso, contudo, elogiou a atuação da PF e classificou como "magnífico" o trabalho do delegado Protógenes Queiroz. Disse que não houve "espetacularização" por parte da corporação, como havia criticado o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, mas sim o "erro" de uma pessoa que permitiu a gravação das imagens.
Sobre as suspeitas de envolvimento no esquema de dois petistas, o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, o ministro declarou não ter "nenhum comentário a respeito", afirmando ser decorrência normal do inquérito.


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