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Para ex-assessor de FHC, governo confunde marketing eleitoral e estratégia no período governamental
Lula deve solenizar fala, afirma Lavareda
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
A comunicação do governo Lula incorre num erro comum a gestões iniciantes, segundo o publicitário e sociólogo Antônio Lavareda: confunde marketing eleitoral
com comunicação nos períodos
de governo. "É como comparar
corrida de cem metros com uma
maratona", diz Lavareda, que assessorou Fernando Henrique
Cardoso em parte de seu governo.
Um exemplo do equívoco, afirma, foi a campanha para o Fome
Zero, que ele julgou precipitada.
Para Lavareda, a imagem do governo federal corre grande risco
se o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva virar cabo eleitoral de
Marta Suplicy (PT-SP) na campanha para a Prefeitura de São Paulo
no ano que vem.
Estrategista dos tucanos na situação, ele ataca as inserções do
PSDB na TV -erraram o "timing". Leia trechos da entrevista.
Folha - Qual a sua avaliação da
comunicação do governo Lula?
Antônio Lavareda - É muito cedo
para fazer essa avaliação. O importante a ser levado em consideração é que são bastante diferentes comunicação de governo e comunicação eleitoral. Frequentemente você observa que alguns
governos, sobretudo no início, as
suas equipes de comunicação se
equivocam porque adotam estilos
e estratégias de comunicação eleitoral. Do ponto de vista metafórico, era como se comparassem
uma corrida de cem metros e uma
maratona. O "timing" é diferente,
a seleção de mensagens também.
Folha - Esse fenômeno está acontecendo agora? Em que erraram?
Lavareda - Tudo ainda está começando. No quesito propaganda, a única coisa que eu vi que não
faria ou não aconselharia é a campanha do programa Fome Zero.
Quando foi feita, na forma que foi
feita e no estágio em que o programa se encontrava. Isso pode ser
um exemplo dessa confusão na
utilização de estilo e estratégia do
marketing eleitoral em período
governamental. Foi inadequado.
De qualquer forma, na comunicação de governo, a chamada "free
media" -a imprensa de uma forma geral- tem muito mais importância do que ao longo das
campanhas eleitorais.
Folha - O que sr. achou da escolha
das agências para a Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e
Gestão Estratégica)?
Lavareda - Esse modelo é um
avanço. Não conheço exatamente
o perfil das agências. Mas o que
vale chamar atenção é que a comunicação de governo não pode
ser vista como um mero exercício,
uma espécie de balé publicitário.
Precisa de ligação muito forte entre comunicação, administração e
política para produzir uma boa
comunicação governamental.
Folha - Como gerir esse carisma
de Lula, que é visto como trunfo?
Lavareda - Esse é o pilar central
de sustentação da imagem do governo. Esse carisma, esses atributos percebidos pela população. O
que aumenta bastante a responsabilidade da administração da
imagem pessoal do presidente. O
governo depende nesse primeiro
ano, basicamente, da imagem de
Lula e precisa zelar dela.
Folha - E tem zelado?
Lavareda - Às vezes me parece
que ela [a imagem de Lula] pode
ser submetida a arranhões.
Folha - Sob seus conselhos, Lula
falaria tanto de improviso?
Lavareda -Não. Falaria menos
sobre temas os mais diversos. O
discurso dele seria mais focado,
teria um cunho mais estratégico.
Seria mais zelado nos detalhes.
Ainda não há políticas públicas
valorizadas pela população. Nessa
situação, o presidente precisa ter
uma agenda de temas a abordar
mais reduzida, tem de solenizar
mais suas falas, não pode se expor
como tem se exposto. Tem que
valorizar ao máximo esses momentos em que fala à nação para
aproveitar esse capital incrível, essa ligação afetiva.
Folha - O imagem da era FHC teve
como âncora o Plano Real. O governo Lula tem algo do gênero?
Lavareda - Não tem. E isso é uma
diferença importante. No primeiro ano do governo FHC, mesmo
nessa altura de seis, sete meses, o
governo já tinha entregado à população o Plano Real e essa é uma
diferença marcante. Lula é eleito
na expectativa de mudança. Ele
começa o mandato, tem que tomar medidas razoavelmente duras para a preservação da estabilidade, mas a população vai cobrar
-e já começa a cobrar- o cumprimento do prometido. E aí não
há nada visível no horizonte que
possa sugerir que o governo vai
dispor do seu primeiro grande
marco. O governo não tem apresentado até agora idéias mais originais na política social. É preciso
lembrar o seguinte: mudança é o
metro com o qual o governo precisaria avaliar cada uma das medidas e das ações que anuncia para a sociedade. Qual o conteúdo
de mudança? Porque é nisso que
as pessoas votaram. Por outro lado, se isso é fácil de ser verbalizado nas campanha, nota-se que é
muito difícil imprimir isso no cotidiano das administrações. É
muito difícil. Outro desafio é a
eleição municipal ano que vem.
Folha - O que é esse desafio? É um
risco Lula fazer campanha para
Marta Suplicy, em São Paulo?
Lavareda - É um ano especialíssimo. O ano de eleição municipal
é quando os governos podem dar
uma respirada. O foco da atenção
sai do governo federal e vai lá para
a base da sociedade. No governo
Fernando Henrique, em 96 [ano
de eleição municipal] a popularidade do governo sobe e tem seu
pico entre 96 e 97. O que permitiu
que o governo capitalizasse isso?
FHC se envolveu o mínimo possível -e foi cobrado por causa disso- com as campanhas municipais e pôde adquirir oxigênio para
alavancar a imagem do seu governo. Em 2000 novamente.
O desafio do governo Lula é
que, dada a natureza do PT, dos
quadros do ministério, do próprio estilo do presidente, tudo isso talvez faça com que o governo
se envolva demasiadamente com
as eleições municipais e, em vez
de ter esse momento privilegiado,
pode chegar a uma taxa mais do
que razoável de nacionalização do
pleito, um grande plebiscito de
avaliação do governo Lula.
Um governo federal de qualquer partido pode se beneficiar
mais se ele se distingue do pleito
municipal. O apoio do presidente,
principalmente no segundo turno, é muito importante, mas promover uma aproximação estreita
entre governo federal e candidatos locais pelo país pode tirar do
governo um respiro inestimável.
Folha - O senhor foi estrategista
do PSDB na situação. Qual a sua
avaliação da estratégia dos tucanos na oposição?
Lavareda -Ainda estamos todos
titubeantes. E aí é um aprendizado no campo do governo e da
oposição. Em geral, graças a Deus,
no campo da oposição os problemas são mais fáceis de serem administrados porque são, frequentemente, problemas no campo retórico. Vez por outra você ainda
vê adjetivações, alguns documentos que lembram a retórica do
MR8 [risos]... Mas tudo isso vai se
decantando e creio que a partir do
final desse ano a oposição vai ter
encontrado tanto o seu lugar como o tom correto.
O PSDB se marcou por estratégias diferenciadas. O candidato
[derrotado] José Serra [PSDB-SP], por exemplo, disse nos jornais: "Não vou torcer para que o
desemprego cresça no país para
que o governo Lula seja penalizado". Ao passo que você tem a propaganda do PSDB na televisão cobrando o governo, colocando a
questão do desemprego. Pode ser
discutida a eficácia desse tipo de
mensagem produzida pelo PSDB,
que se ausentou do poder há muito pouco tempo...
A população não percebe, como
eles provavelmente gostariam,
que o partido não tem nenhuma
responsabilidade no quadro de
desemprego atual. Ou seja, há determinadas mensagens para as
quais o timing é o mais importante. Ela pode ser usada dois meses,
três meses depois, com muito
mais eficácia
Folha - E o papel de FHC no PSDB?
O sr. falou de solenização da fala do
presidente. E a dos ex-presidentes?
Lavareda - A mídia tem assediado em demasia o ex-presidente e
acho que corre o risco de banalizar a importância da instituição
da ex-Presidência. Quem perde
não é só o PSDB, mas o país. Porque o papel institucional dele é
muito mais importante do que o
de mero militante, embora militante de luxo, do PSDB.
Folha - O sr. diz que há assédio,
mas ele tem aceitado falar ...
Lavareda - Ele é uma pessoa afável. Vejo isso como uma responsabilidade da mídia...
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