São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INTELIGÊNCIA

Por ordem de Lula, agência mudou principal foco de investigação

Abin prioriza cenário internacional

IURI DANTAS
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Voltado historicamente para investigação de ameaças internas, o setor de inteligência brasileiro mudou o foco para o cenário internacional, basicamente a América do Sul, por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Balanço parcial sobre a produção da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), divulgado ontem, mostra que a maior parte (28,34%) dos despachos encaminhados a Lula neste ano diziam respeito à conjuntura internacional. Há cinco anos, a maioria era sobre questão fundiária e segurança pública, que hoje está em segundo lugar com 22,14%.
Ao todo, Lula recebeu 307 relatórios da Abin, de janeiro até o dia 31 de agosto, o que representa cerca de 40% da produção da agência, segundo estimativa de seu diretor-geral, Mauro Marcelo de Lima e Silva, 44. Em terceiro lugar na lista dos relatórios enviados ao presidente aparecem os que abordavam a atuação de serviços de inteligência estrangeiros (8,15%).
Apesar disso, a Abin não aumentou os agentes no exterior. Há apenas dois escritórios da agência fora do Brasil -na Argentina e nos EUA. Segundo o diretor de Planejamento da agência, José Athos Irigaray, as informações são obtidas por "fontes" no exterior, notícias da imprensa e envio de analistas a outros países para levantamento de questões pontuais. O diretor-geral da Abin afirma que 80% dos dados são provenientes de fontes públicas.
No Brasil, a Abin recebe informações de agentes de serviços de inteligência estrangeiros, registrados no corpo diplomático do país. Representantes brasileiros se encontram com colegas em Brasília, com número mínimo de pessoas presentes e registro em ata.

Café da manhã
Quase dois meses depois de assumir o cargo, Silva recebeu ontem jornalistas da mídia impressa para um café da manhã e uma espécie de "city tour" pelas dependências da Abin em Brasília. Estão previstos novos encontros para rádios, TVs e correspondentes estrangeiros no Brasil.
A reunião ocorreu no auditório do bloco J, um andar abaixo do arquivo de cerca de 2,2 milhões de páginas contendo informações sobre grupos subversivos à ditadura militar -produzidas pelo extinto SNI (Serviço Nacional de Informação)-, a atuação de movimentos como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a violência urbana.
Na palestra de abertura, que durou 1h40, Silva disse que mudou 70% dos ocupantes de cargos de chefia. As mudanças na cúpula da Abin foram importantes devido à crise de identidade que a agência enfrenta. Não há nenhum militar em posto de comando, uma reivindicação dos funcionários contratados -a maioria do pessoal.
"O público de universitários, aprovado em concursos, tem divergências culturais com militares do extinto SNI que ainda estão na Abin", disse.
Silva relatou ainda que, segundo informações recebidas pela Abin, funcionários de operadoras de telefonia estão sendo cooptados para a prática de grampos ilegais.


Texto Anterior: Declaração foi "infeliz", dizem procuradores
Próximo Texto: Visita à agência incluiu sobrevôo de helicóptero
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.