São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

Canal do Saber era de Chalita, diz sucessora

Maria Lucia Vasconcelos, secretária de Educação da gestão Lembo, cancelou programa ao saber que antenas não foram entregues

Ela diz que fundação paga projetos, mas que secretário tem que acompanhá-los; Chalita diz que equipamento já estava sendo entregue


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Maria Lucia Vasconcelos, secretária da Educação do Estado de São Paulo entre abril de 2006 e julho de 2007, cancelou o programa Canal do Saber em novembro de 2006, após a identificação de um rombo gerado pelo projeto. O canal reproduziria programas educativos de TVs para os alunos e professores das escolas estaduais.
Vasconcelos assumiu a secretaria quando Claudio Lembo (DEM) tornou-se governador de São Paulo, com a saída do tucano Geraldo Alckmin para concorrer à Presidência. Secretário da Educação durante a gestão Alckmin, Gabriel Chalita também deixou o cargo.
A ex-secretária de Lembo diz que toda a implementação do projeto foi feita na gestão de Chalita. Afirma ainda que decidiu cancelar o canal após descobrir o montante não entregue de antenas e receptores.
Chalita diz que, na sua gestão, as entregas eram feitas.
A Folha revelou no sábado que a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), órgão ligado à pasta da Educação, identificou um rombo de R$ 4,08 milhões, fruto de contrato assinado para fornecimento de antenas parabólicas.
Entre os citados a devolver o valor aos cofres públicos está o ex-diretor Milton Dias Leme, que disse ter sido convidado para o cargo por Chalita.
A fundação assinou, em janeiro de 2006, contrato para fornecimento de 5.500 antenas e 5.500 receptores para implementar nas escolas estaduais o projeto Canal do Saber.
Em 27 de abril de 2006, após a saída de Chalita, houve um aditamento de mais 1.375 antenas e 1.375 receptores. Ele também foi autorizado por Leme, segundo sindicância. Tudo deveria ser entregue até 3 de julho de 2006. Leme foi exonerado em maio de 2006.
Segundo levantamento da FDE, foram pagas, mas não entregues, 3.233 antenas e 4.695 receptores. Apesar da contratação total de 6.875 antenas e 6.875 receptores, São Paulo tinha cerca de 5.300 escolas. Vasconcelos explica que os projetos da secretaria são pagos pela FDE, que tem presidente e diretores próprios. Mas diz que os secretários têm que acompanhar a execução.

 

FOLHA - Qual a relação FDE e Secretaria de Educação?
MARIA LUCIA VASCONCELOS
- Embora a gestão seja independente, a FDE é uma executora das ações da secretaria. A secretaria passa recursos para a FDE. Não dá para dizer que não tem relação. Como secretária, eu seria legalmente responsável pelas coisas que eu assino, e a FDE, se tiver irregularidades, pelas deles. Estou falando legalmente, mas, moralmente, não dá para dizer que não sabe.

FOLHA - Por que a sra. decidiu cancelar o Canal do Saber?
VASCONCELOS
- Assumi em abril e fui conhecer todos os projetos. Fui informada da possibilidade de falar com as escolas pelo canal, porque me disseram que ele levava as imagens que a gente produzisse. Ora, quis falar com as escolas. Só então me informaram que nem todas estavam equipadas. As coisas foram sendo esclarecidas. Não vi sentido em continuar a produção de programas e o custo de transmissão. Produzia e não tinha condição de aproveitar. Por que continuar com aluguel de satélite?

FOLHA - O aditivo de mais 1.375 antenas e receptores foi assinado em 27 de abril, pelo ex-diretor Milton Leme, na gestão da sra.
VASCONCELOS
- De fato. Mas a solicitação do aditamento foi feita no dia 23 de março e no dia 24 foi solicitada a autorização prévia ao Planejamento e à Fazenda, para ver se o dinheiro estava disponível. Portanto, todas as ações já estavam decididas. Se eu assumo em abril, há um tempo para conhecimento. Era uma ação em curso. O projeto é da gestão anterior.

FOLHA - Quando foi suspenso?
VASCONCELOS
- Em novembro. O canal não estava instalado. Fomos informados que a empresa que fabricava as antenas não fabricaria mais. Instauramos os procedimentos. A opção foi não investir mais em algo que não tínhamos como colocar em um prumo adequado.

FOLHA - A FDE é autônoma em compras como essa das antenas?
VASCONCELOS
- Ela responde pelo contrato. Porém, não posso dizer que como secretaria desconhecesse o assunto. É um programa da secretaria. Há gestores que delegam e não acompanham. Não sei como agia o secretário anterior.

FOLHA - Por que ex-diretor Milton Leme foi exonerado em maio?
VASCONCELOS
- Foi uma troca de pessoas, para atender melhor o ritmo da nova gestão.


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