São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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SÃO PAULO/LEGISLATIVO

Dos 55 vereadores eleitos, 27 concentram votação em certas regiões da cidade; fenômeno é mais marcante nas zonas sul e leste

Voto de reduto elege 50% da Câmara paulistana

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO

Concentrar as promessas para os moradores de um só bairro ou defender os interesses de uma única região da cidade se mostrou uma tática eficaz dos vereadores eleitos no domingo passado em São Paulo. Entre os 55 que estarão na Câmara Municipal no próximo ano, 27 deles venceram muito em razão dos votos conquistados em seus redutos eleitorais.
Levantamento realizado pela Folha, com base nos resultados divulgados pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, mostra que a metade dos vereadores eleitos concentra seus votos em determinadas áreas do município. Alguns obtiveram outro tipo de fidelidade nas urnas, como é o caso de religiosos.
Há ainda o voto conquistado de forma espalhada por toda a cidade, como é o caso da apresentadora Soninha (PT) e do tucano José Aníbal, o vereador mais bem votado na capital (165.880). Os dois vão estrear na Câmara paulistana.
Apesar de o fenômeno existir em toda a cidade, as regiões leste e sul, os maiores colégios eleitorais de São Paulo, que somam, juntas, mais de 5 milhões de eleitores, são as que mais possuem redutos. Mais carentes, estão mais sujeitas a ações clientelistas.
Onze vereadores foram eleitos com votos obtidos de forma majoritária na zona leste, enquanto oito se concentraram na sul.
Segundo mais votado, o atual presidente da Câmara Municipal, Arselino Tatto (PT), obteve 70% dos seus 73.308 votos na zona sul. O percentual é revelado quando se somam os votos das zonas eleitorais nas quais o vereador ficou entre os cinco mais bem votados.
Com o mesmo critério, é possível ver que o tucano Gilson Barreto venceu com cerca de 77% dos seus votos vindos da zona leste.
O cientista político Rui Tavares Maluf vê a concentração de votos em redutos como conseqüência do tamanho da cidade. "O território é grande. É quase impossível se fazer conhecido no conjunto todo da cidade." A existência de redutos eleitorais, na sua opinião, é resultado da campanha de corpo-a-corpo de alguns candidatos, que, sem recursos, optam por se dedicar mais a certas áreas.
E o comum é essa dedicação não acabar com a vitória. Para manter a fidelidade, o vereador passa a legislar com um olhar especial para a região que o elegeu.
"Sou um vereador da cidade. Mas a tendência é ter, por ordem, um melhor relacionamento com a zonas leste e norte", diz Celso Jatene (PTB), que ganhou mais votos na região leste. "Na zona sul, o eleitor já tem para quem pedir, já tem seu vereador de confiança."
Dos 55 eleitos, apenas seis não ficam entre os cinco mais votados em nenhuma das 42 zonas eleitorais. Seus votos vêm de grupos, como o dos evangélicos. É o caso da Bispa Lenice (PV), que, apesar dos seus 45.295 votos, não ficou entre os mais bem votados em nenhuma área da cidade.


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