São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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NACIONAL

Petistas lideraram em número de votos em 13 Estados e tucanos, em outros 13; PV cresceu e PP, PFL, PDT e PTB perderam força

Estados mostram nova divisão entre PT e PSDB

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O mapa da votação do primeiro turno dividido para cada um dos 26 Estados mostra com clareza a nova divisão geopolítica nas cidades brasileiras. Fica explícita a já conhecida polarização entre PT e PSDB nos grandes centros, mas também surgem novidades até aqui não muito evidentes:
1) PV - o movimento verde, onda recorrente na Europa Ocidental há quase duas décadas, parece que agora começa a fincar raízes mais sólidas no Brasil. Cresceu 111,83% de 2000 para 2004. Os candidatos verdes a prefeito tiveram 1.364.285 votos. Trata-se ainda de uma sigla nanica, mas teve 53,5% mais seguidores do que o PC do B, sigla que ostenta dois ministérios no governo Lula;
2) Esquerdas - continuam em baixa os partidos tradicionais de esquerda. O PC do B foi o mais bem sucedido, com um aumento de 132,24% dos votos que seus candidatos receberam para prefeito neste ano na comparação com 2000. O problema é que a base de comparação era mínima. Os 889.065 votos do último dia 3 representam só 0,93% do total de votos válidos no país.
O trotskista PSTU também cresceu, mas segue como nanico. Seus 183.562 votos equivalem a 0,19% total do país;
3) Perdedores - quatro siglas tradicionais saem desta eleição com menos votos do que em 2000: PFL, PP, PDT e PTB. O PFL é o maior derrotado, com 1,739 milhão de votos a menos (uma queda de 13,4%).
Ocorre que o PFL está na oposição ao governo Lula. Era esperado que sofresse um pouco. Chama a atenção na lista de derrotados é o PP e o PTB, que se alinharam ao Planalto. Ambos foram ladeira abaixo. O PP teve queda de 10,4% em seus votos. O PTB, de 9,45%.
O PDT, hoje na oposição a Lula, enfrentou sua primeira eleição sem seu fundador e maior líder, Leonel Brizola (morto em junho último). Até que não fez feio: a queda nas urnas só foi de 0,8% na comparação com 2000;
4) Prona - o fenômeno comandado pelo deputado federal Enéas Carneiro (SP) mostra que seu prazo de validade começa a chegar a um ponto de estagnação. Em 2002, Enéas teve, sozinho, 1.573.642 votos para deputado federal. Agora, uma brutal desidratação: apenas 221.141 votos para os candidatos a prefeito do Prona no país inteiro -o equivalente a 0,23% do total apurado. Uma queda de 6,02% sobre o ano 2000.
Os números usados nesta reportagem se referem ao total apurado dos votos no primeiro turno do último dia 3. O TSE divulgou os dados com a ressalva de que não constam da soma total os 3.110 votos de São Sebastião da Bela Vista (MG), cuja apuração não foi liberada. Como é uma quantidade pequena de votos, não altera as grandes tendências já detectadas.
Por enquanto, não adianta falar em número de cidades conquistadas pelos partidos. Em 44 municípios haverá segundo turno. Nessas cidades estão cerca de um quarto dos eleitores brasileiros.
O que conta do ponto de vista político é o número de votos recebidos e os eleitores governados. Já é possível ter uma noção do que as urnas disseram no que diz respeito aos votos obtidos.

PT X PSDB
A Folha montou um quadro com todas as votações do PT e do PSDB para prefeito em cada um dos 26 Estados. O resultado mostra com clareza o avanço petista.
Em 2000, o PT só tinha mais votos para prefeito que o PSDB em seis Estados: Acre, Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Agora, o Brasil está dividido ao meio: em 13 Estados os petistas estão à frente dos tucanos e vice-versa.
Sobre essa polarização, vale registrar que o PT está na frente do PSDB hoje nos três Estados da região Sul, mas perdeu São Paulo. Os petistas tiveram 25,34% dos votos válidos para prefeitos paulistas, contra expressivos 31,83% dos tucanos nesse que é o maior eleitorado do país.
Os tucanos perderam a dianteira para o PT em Estados do Centro-Oeste e do Norte. Os candidatos a prefeito do PSDB também ficaram com menos votos que os petistas em Minas Gerais, Estado governado pelo tucano Aécio Neves -que tem sido citado dentro de sua agremiação como exageradamente leniente no trato com o governo federal.

Campeões do voto
O PT teve 16,3 milhões de votos para prefeito, o maior número obtido por uma agremiação na eleição deste ano -17,15% do total. O PSDB veio em seguida, com 15,8 milhões de votos (16,54%).
A história é diferente quando se observa a disputa em cada um dos 26 Estados brasileiros. Petistas só são os campeões de votos em cinco Estados: Acre, Amapá, Minas Gerais, Sergipe e Tocantins. Não é muito, mas é um avanço na comparação com 2000, quando o PT conseguia ser hegemônico em três unidades da Federação: Acre, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Como se observa, o PT só conseguiu se manter na frente no Acre. Faz jus à anedota que circula há anos em Brasília: o Acre não é mais um Estado, mas uma ONG petista. Também fica evidente que a sigla do presidente Luiz Inácio Lula da Silva segue em marcha batida para o interior. Perdeu São Paulo e conquistou áreas de menor relevância política no Norte e no Nordeste.
O PSDB aparece neste ano como o campeão de votos para prefeito em cinco Estados: Ceará, Paraíba, Piauí, Rondônia e São Paulo. Há quatro anos, eram oito os Estados onde o tucanos receberam mais votos: Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará, Piauí, Roraima e Sergipe. Nenhum partido em 2000 venceu em mais Estados que o PSDB.
Nesta eleição, o campeão de votos na divisão por Estados é o PMDB. Conseguiu hegemonia em oito deles: Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.



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