São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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Pequenas capitais buscam poder central e vão para o PT

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As 26 capitais de Estado têm 27,5 milhões de eleitores, mas 80% deles estão nas dez maiores. Na parte de baixo da lista, alojam-se as cidades cuja tendência histórica tem sido de alinhamento ao governo federal. Não por acaso, neste ano, o PT conquistou a prefeitura de três dessas capitais periféricas: Macapá (AP), Rio Branco (AC) e Palmas (TO).
O prenúncio de que esse movimento poderia acontecer já foi sentido em 2000, quando o PT conquistou algumas capitais importantes, mas no meio do lote veio Aracaju -apenas o 19º eleitorado entre as 26. Neste ano, o PT manteve Aracaju.
As pequenas capitais se assemelham às médias cidades: quando há uma troca de guarda no poder central, todas se sentem atraídas para mudar também.
Nesta eleição, o PT passou a estar mais em pequenas e médias cidades e teve sua maior votação em disputas municipais: 16,3 milhões de votos, ou 17,15% do total dos votos válidos do país. O percentual é menor do que os 17,63% dos votos para prefeito obtidos pelo PSDB em 1996, no auge dos efeitos positivos do Plano Real.
É fácil notar que os petistas estão migrando de grandes centros para localidades de tamanho médio e/ou pequeno. Palmas, Macapá e Rio Branco têm, juntas, um total de 485.464 eleitores.
Para comparar, o PT perdeu no primeiro turno deste ano três importantes centros no interior paulista em que era governo: Campinas, Piracicaba e Ribeirão Preto. Somados, têm 1.262.191 eleitores -160% a mais do que as três capitais novas obtidas pelo partido.
Cientistas políticos dizem que a tendência das cidades menores e das capitais pequenas é mesmo seguir com o poder central. As capitais têm eleição direta para prefeito desde 1985. Nesses quase 20 anos, quando se observa os eleitos, percebe-se uma variedade de partidos. Mas é difícil encontrar algum que tenha sido franco opositor do governo federal.

Termômetro de crise
O quadro de partidos de capitais acaba servindo de termômetro de crises para o governo federal. De 1985 para cá, apenas no final do governo Sarney (1985-1990) e no governo Fernando Collor (1990-1992) as capitais periféricas se encheram de siglas de oposição à administração federal.
Estudioso dos resultados eleitorais do país, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos diz que "são poucos os municípios que podem manifestar independência ao governo federal". Quanto menor a cidade, maior a dependência de repasse de recursos. Entretanto, ele acha importante notar que houve um aumento bruto da presença do PT nas cidades. Por conseqüência, seria natural que algumas capitais fossem agregadas ao lote petista.
O também cientista político Leôncio Martins Rodrigues diz ser necessário avaliar "a biografia dos vencedores, conhecer as situações locais" antes de emitir um juízo de valor definitivo sobre as vitórias petistas. "A ida do partido para os grotões indica a nacionalização da sigla. Isso já está claro." Até aqui, o PT já conquistou 400 cidades no primeiro turno. Em 2000, ganhou em 187 municípios.
Para o sociólogo José Antônio Guimarães Lavareda Filho, a análise inicial que se pode fazer sobre a conquista petista em Macapá, Palmas e Rio Branco é que "foi um mal negócio ficar com essas três e perder prefeituras como a de Campinas".
Apesar de desdenhadas nacionalmente, essas capitais pequenas têm relevância na política local. Os 179.865 eleitores de Rio Branco representam só 0,15% do eleitorado brasileiro habilitado a votar para prefeito domingo passado. Mas equivalem a 46,4% dos votos do Estado do Acre. No Amapá, a capital tem um peso ainda maior. Os 193.475 eleitores que votam em Macapá equivalem a 58,9% do eleitorado daquele Estado.



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