São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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BRASIL PROFUNDO

24 petistas governarão cidades dos grotões do país, área considerada estratégica pela cúpula; PFL elegeu 94 prefeitos, campeão entre dez siglas

PT é nono em ranking de eleitos no semi-árido

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Na região brasileira mais pobre, o semi-árido nordestino (que incluiu parte de Minas Gerais e do Espírito Santo), as eleições mostraram que o PT foi o nono colocado entre dez legendas em número de prefeitos eleitos. O Fome Zero -a política social que recebeu o status de programa abre-alas do governo Lula- começou a ser implantado na área.
O levantamento feito pela Agência Folha usou como amostragem o cadastro de julho deste ano do programa de abertura de cisternas (reservatório para acumular águas de chuva em casas) do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Nele estão 474 municípios do semi-árido, distribuídos em 11 Estados -o governo considera também nessa condição cidades do agreste (região de solo ruim, próxima ao sertão).
O PT elegeu 5% dos prefeitos dessas cidades (24 cidades), contra quase 20% do PFL (94), que tem tradição nos rincões. As outras duas siglas que mais elegeram foram o PMDB, com 67 (14,1%), e o PSDB, 66 prefeitos (13,9%).
O resultado reforça o pensamento de historiadores e cientistas políticos desfilados na análise do resultado do primeiro turno, segundo o qual o PT, apesar de ganhar feição nacional, ainda tem dificuldades no Brasil profundo. PT e PSDB seriam essencialmente urbanos. As eleições nas 474 cidades (9,98 milhões de habitantes) lembram a síntese, apesar de o PSDB ter tido desempenho igual ao do PMDB. O que diferencia as siglas é que a votação dos peemedebistas é mais bem distribuída pelos 11 Estados, enquanto 45% dos prefeitos tucanos eleitos (30) estão no Ceará, onde o grupo do senador Tasso Jereissati está no poder há quase 18 anos.
A influência aparece também no caso do PPS do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), outra liderança do Ceará, onde estão concentrados 52% dos prefeitos eleitos pela legenda (22 de 42).
A peso da liderança local é vista também na Bahia do senador pefelista Antonio Carlos Magalhães. Em que pese ACM ter perdido força em Salvador -passou com dificuldades para o 2º turno-, o PFL ficou com 33% das prefeituras na área analisada.
O PT concorreu com 121 candidatos próprios nessas cidades. Obteve melhor desempenho no semi-árido mineiro: dez prefeitos. No geral, o partido considerou "satisfatório" o resultado.
Segundo Romênio Pereira, vice-presidente nacional do PT e coordenador das campanhas nos grotões, a Direção Nacional avaliou como "muito importante" o trabalho na área, tendo em vista 2006, eventual disputa pela reeleição do presidente Lula. As pequenas cidades representam um terço do eleitorado. "Quem tem projeto para disputar com a gente [a Presidência] é o PSDB. E quem é o principal aliado dele? O PFL, forte nos grotões. Basta ver o os votos dos deputados federais do PFL."


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