São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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Gestões e Lula desmobilizam petistas no RS

ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Aquilo que costumava ser trunfo do PT em Porto Alegre virou, nestas eleições, uma preocupação: a tradicional ""maré vermelha" -bandeiras empunhadas pela militância e por simpatizantes que invadiam a cidade durante as campanhas e até revertiam votos- está em falta. Se, em outras eleições, sua existência era até crucial para a vitória, sua ausência, neste pleito, também pode ser decisiva, mas para a derrota.
A ausência de militantes nas ruas é um fato perceptível por quem acompanha a seqüência das eleições na capital gaúcha e pelos próprios petistas. O PT registra 21 mil militantes em Porto Alegre, segundo o partido.
O candidato do PT, Raul Pont, disputa a Prefeitura de Porto Alegre, no segundo turno, com o ex-senador José Fogaça (PPS), que formou uma frente para tirar do PT a administração municipal, após 16 anos seguidos de gestão.
""Isso [a ausência de militantes] está ocorrendo, mas se deve mais à exaustão das eleições a cada dois anos e à ausência de clareza nos projetos, o que deixa tudo muito confuso na cabeça do eleitor", disse o coordenador de comunicação petista, Felipe De Angelis.
Os dados são taxativos: segundo a própria organização da campanha de Pont, os comícios do partido costumavam reunir entre 30 mil e 40 mil pessoas em campanhas anteriores. Neste primeiro turno, teve entre 10 mil e 12 mil.
""Não é que diminuiu a militância. É que estamos mais espalhados. Antes, éramos mais concentrados em alguns bairros", disse a estudante Lídia González, 23, que empunhava bandeira anteontem.
Quem deixou de atuar atribui a ausência a várias causas. ""O principal é que esperávamos mudanças no governo Lula, e elas não vieram. Há desilusão. Contribui o fato de a prefeitura estar há tanto tempo com o PT e haver eleições freqüentes. As pessoas cansam. Ainda voto no PT. Só não faço campanha. Mas o governo Lula me decepcionou bastante", disse o médico Gabriel Finizola, 40.
O PPS está atento. Integrantes do partido dizem que a desmobilização petista pode ser o fato novo a eleger Fogaça. No PT, iniciaram-se contatos com sindicalistas, para que eles se empenhem mais na campanha de Pont.
Outro fato que comprova a desmobilização é o comportamento de partidos de esquerdas, tradicionalmente alinhados ao PT. O PSTU, diferentemente de outras eleições, vai se abster. O PCO chegou ao ponto de decidir que fará uma campanha pelo voto nulo.
Ministros gaúchos concordam, em parte, que haja desmobilização. Para Tarso Genro (Educação), houve "lentidão" na adesão da militância, o que já mudou, diz. "É uma campanha dura, com certo desgaste [pelos 16 anos de governo], mas com grande patrimônio acumulado." Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) afirmou que o grande número de candidatos diluiu a militância e que ela ficará mais aguerrida com a polarização no segundo turno.
Dirigentes petistas acham que uma das razões do "desânimo" é o desencanto com o ritmo lento das mudanças no âmbito federal.


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