São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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FORTALEZA

Candidato do PFL, adversário de Tasso Jereissati, quer voto de escolarizados e se diz "aberto a composições" para o 2º turno

Medo da violência foi explorado por pefelista

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Adversário da petista Luizianne Lins na disputa pela Prefeitura de Fortaleza, o ex-delegado da Polícia Federal Moroni Torgan (PFL), 48, tenta se afastar do rótulo de "xerife" para conquistar o voto dos mais escolarizados, apesar de ter usado o discurso do medo da violência como principal artifício para chegar ao segundo turno.
"Não serei um prefeito-xerife", diz, até porque o inquérito policial e todas as ações penais são feitas pelo governo do Estado. Mas afirma: "Fortaleza vai ganhar um prefeito e levar um técnico de segurança junto".
Sem contar com o apoio de partidos grandes até agora, Moroni reúne nanicos e agrega dissidentes de siglas como o PMDB para fechar seu programa de governo, inacabado até hoje.
"Estou aberto à esquerda, à direita, ao centro, à centro-esquerda, à centro-direita. Quem for melhor e tiver as melhores propostas, não for desonesto e for competente está sendo chamado a participar", disse.
"Mesmo integrantes do PT, aqueles mais ponderados, poderão pensar numa gestão plural e vir me apoiar. Apoios não são incondicionais, minha gestão será colaborativa, onde todos participam. Não sou radical, sou aberto a composições", afirmou, ao fazer um contraponto à sua rival.
Apesar de filiado ao PFL, um dos partidos mais conservadores do país, Moroni diz ser independente. "Já fui chamado de esquerda do PFL", disse.
Como padrinho político mais próximo, ele tem hoje o atual presidente da Transpetro, o ex-senador Sérgio Machado (PMDB). Nega, no entanto, que essa proximidade o faça mudar de partido após a eleição.

Segurança
Apesar de ser evangélico, membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias -mais conhecida como igreja dos mórmons- Moroni não usa o discurso religioso para ganhar eleitores.
No alto de seu 1,90 m de altura e 110 quilos (no começo da campanha eleitoral tinha 134 quilos, mas, com as caminhadas, já emagreceu quase 25), o candidato construiu toda sua história política no Ceará fincada no discurso da violência.
Gaúcho, Moroni chegou ao Ceará em 1983 para assumir a delegacia de polícia fazendária da Polícia Federal. Pouco depois, tornou-se chefe da delegacia de entorpecentes.
A fama como delegado o levou ao posto de secretário da Segurança Pública no primeiro governo do hoje senador Tasso Jereissati (PSDB), de 1988 a 1990.
Pelo PSDB e com as bênçãos de Tasso, ele conseguiu seu primeiro mandato como deputado federal em 1990 e, em 1995, assumiu o posto de vice-governador.
Em 1998, ele se elegeu deputado federal, ainda pelo PSDB. Depois disso, sua relação com Tasso acabou. Para o tucano, hoje os dois são adversários. Para Moroni, o que houve foi um esfriamento da relação provocado pelo ciúme dos que o cercam.
"Eu acho que os que ficam ao redor dele [Tasso] ficaram com medo de sombra, o que causou o afastamento. Talvez eles mesmos fizessem projeções sobre meu futuro político, mas eu nunca tive nenhuma angústia por cargos", afirma Moroni.
Apesar de negar o tempo todo a intenção de parecer um xerife, na reta final da campanha no primeiro turno, foram colocadas no ar imagens de Moroni interrogando, aos gritos, o narcotraficante Fernandinho Beira-Mar, na CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados. "Era para mostrar a competência e a coragem, não para falar sobre violência."
Moroni fala com orgulho dos títulos de cidadão cearense e fortalezense que guarda no currículo, mas admite que passa mais tempo em Brasília e que sua família mora lá. "Passo mais tempo em Brasília do que aqui, por causa da atividade parlamentar. Como passo mais tempo lá, não posso abandonar os meus filhos. O acompanhamento dos filhos pelos pais é fundamental e eu não abro mão disso." Moroni tem dois filhos adolescentes, um de 18 e outro de 15 anos.


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