São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Alckmin agiu como "delegado de porta de cadeia", diz Lula

Petista se queixa da falta de "nível" e afirma ter vivido um de seus dias mais tristes

"O cidadão é o samba de uma nota só. Ele pegou tudo que é matéria de jornal e resolveu transformar no programa dele", diz Lula


PEDRO DIAS LEITE
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia após sofrer intensos ataques de Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro debate do segundo turno, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva buscou sair da defensiva. Segundo ele, o embate "foi um dos dias mais tristes" que já viveu como político, porque pensou não estar diante de um candidato, mas sim "na frente de um delegado de porta de cadeia".
Surpreendido pelo tom agressivo do tucano, Lula mostrou nervosismo nos dois primeiros blocos do debate, quando Alckmin questionou a origem do "dinheiro sujo" apreendido com petistas para comprar um dossiê contra o PSDB.
Em evento de campanha com cerca de 30 cantores evangélicos no Palácio da Alvorada, organizado pelo senador Marcelo Crivella (PRB), ele criticou o tucano: "Confesso a vocês que ontem foi um dos dias mais tristes que eu vivi como político. Já debati com Ulysses Guimarães, com Brizola, com Mario Covas, com Aureliano Chaves, com Afif, com Collor, com Serra, com Ciro Gomes, com Garotinho, com Jânio Quadros, com Franco Montoro. Tinha um nível político assimilável no debate. [Ante]ontem, eu pensei que não estava na frente de um candidato, pensei que estava na frente de um delegado de porta de cadeia", disse o presidente.
Lula acusou o tucano de bater na tecla da corrupção para fugir do debate sobre programa de governo: "Por que os nossos adversários não querem discutir política econômica? Por que eles não querem discutir política social? E vocês que viram o debate ontem perceberam que o cidadão é o samba de uma nota só. Ele pegou tudo que é matéria de jornal e resolveu transformar no programa dele".
E prosseguiu: "Aquela velha sanfona quebrada que só faz o mesmo som é o que eles estão fazendo a campanha inteira".
Lula disse que possivelmente é "o único brasileiro que governou este país nos últimos anos que tem autoridade de falar em corrupção" porque "eles não tiveram, não tiveram. Porque é fácil não sair corrupção no jornal: é só engavetá-las".
E achou Alckmin "pedante": "Vocês perceberam que tinha dois projetos. O nosso, que representa os anseios da maioria da população, e outro, que representa o jogo de interesse dos grupos que tradicionalmente mandam no Brasil desde que Cabral aqui pôs os pés. Aquele grupo de interesse arrogante, pedante, aquelas pessoas que falam com o nariz em pé", disse.
"Confesso a vocês que foi triste, para mim e para minha mulher. Eu imaginava que o debate político pudesse fluir para ele dizer as coisas que ele queria dizer. O povo não quer ver candidato ficar xingando um ao outro, o povo quer saber o seguinte, o que é que vai fazer para melhorar a minha vida."
Sobre política econômica, disse: "Resolvemos fazer a nossa politicazinha feijão com arroz com bife acebolado, que todo mundo gosta e ninguém reclama. Pode querer mais um bife, menos cebola, mas todo mundo gosta de comer."


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