São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRANSIÇÃO

Dirceu prefere ministério e divide bancada petista

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A resistência do presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP), em ser candidato a presidente da Câmara abriu um racha na bancada do partido e na cúpula petista. Segundo a Folha apurou, Dirceu prefere integrar o governo a disputar a presidência da Câmara, apesar de não descartar esta última possibilidade.
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, também acha mais útil ter Dirceu no governo. Espécie de curinga, Dirceu é cotado para Casa Civil, o posto que mais deseja, mas também é lembrado para a Justiça e até para Fazenda.
A tendência de Dirceu pelo ministério criou um problema no PT. Com exceção dele, não há nome consensual na bancada nem avaliação pacífica de que o partido deva brigar pelo cargo. Ciente da preferência de Dirceu, o líder petista na Câmara, João Paulo Cunha (SP), articula intensamente para ocupar o cargo. Obstáculos: 1) Lula e a cúpula petista avaliam que falta densidade política a João Paulo para o posto; 2) seria uma candidatura de risco, já que um nome mais fraco do que o de Dirceu incentivaria a oposição a ter um candidato forte.
Diante dessas dificuldades, Lula tende a querer negociar a Câmara com eventuais partidos aliados e até mesmo com legendas adversárias, como o PSDB. A idéia inicial é obter apoio para quatro reformas que seriam feitas em dois anos: tributária, previdenciária, trabalhista e política. Antes da eleição, Lula disse ao presidente da Câmara, o tucano Aécio Neves, que negociaria a Câmara. Dirceu também admitiu a possibilidade.
Todavia a bancada e parte da cúpula petista acham que Lula não pode abrir mão do cargo. Na bancada, a disputa é a seguinte: parte está integrada ao projeto de João Paulo para ser a alternativa a Dirceu, mas setores aventam outros nomes, como Patrus Ananias (MG), Sigmaringa Seixas (DF) e Jorge Bittar (RJ). Estes três têm menos força do que João Paulo.
Em relação a uma eventual negociação, o PT lidaria com um PSDB ainda magoado, apesar de Fernando Henrique Cardoso e a cúpula tucana terem decidido na quinta-feira fazer oposição light.
Entre os adversários do PT, há três possíveis candidatos: o tucano Arnaldo Madeira (SP), líder do governo FHC na Câmara, o pefelista Inocêncio Oliveira (PE), líder do seu partido na Casa, e o peemedebista Michel Temer (SP), que já presidiu a Câmara.
A candidatura de Madeira é uma tentativa do PSDB de atrair o PFL e o PPB para um bloco a fim de disputar as presidências da Câmara e do Senado. A postulação de Inocêncio é um velho desejo do deputado que enfrenta resistência dentro do próprio PFL. A candidatura de Temer também tem suas complicações. Há um acordo fragilíssimo entre PT e PMDB, segundo o qual os petistas fariam a presidência da Câmara e os peemedebistas, a do Senado.
A chance de Temer seria fazer com que a preferência de Dirceu pelo ministério e as divergências no PT levassem Lula a propor uma troca de Casas. Temer presidiria a Câmara. E Aloizio Mercadante (PT), o Senado. Lula, porém, teria de jogar contra a candidatura de José Sarney no Senado, e os aliados a Temer teriam de persuadir Renan Calheiros (AL) a desistir de disputar no PMDB com Sarney, algo nada fácil.



Texto Anterior: Janio de Freitas: Duas carências
Próximo Texto: FHC e Lula falam sobre falta de privacidade
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.