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CONTAS PÚBLICAS
Associações de municípios de 18 Estados avaliam que 2.314 prefeituras não têm dinheiro para cobrir benefício
Prefeitos não têm recursos para pagar 13º
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
Mais de 40% dos 5.565 municípios do Brasil terão dificuldades
para pagar o 13º salário de seus
servidores. Um levantamento feito pela Agência Folha com associações de municípios de 18 Estados indica que 2.314 prefeituras
estão sem dinheiro em caixa para
bancar o benefício na íntegra.
Grande parte desses municípios
tem menos de 10 mil habitantes e
depende quase exclusivamente de
repasses feitos pelo governo federal. Nessas cidades, a prefeitura é
um importante gerador de empregos e renda. O atraso no pagamento do 13º do funcionalismo
desaquece toda a economia local.
A principal justificativa dada
pelos prefeitos para o não-pagamento do 13º é a queda acumulada no FPM (Fundo de Participação dos Municípios) neste ano. O
FPM transfere 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda e IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) para os municípios.
Segundo cálculo da Secretaria
do Tesouro Nacional, o FPM teve
queda real estimada em 7% nos
nove primeiros meses de 2003 em
relação ao mesmo período do ano
passado. Historicamente, o último trimestre do ano tem um aumento do FPM. Neste ano, no entanto, a previsão do Tesouro Nacional é que o mês de novembro
tenha um aumento no FPM de 1%
em relação a outubro e que o repasse de dezembro seja 2% inferior ao repasse do mês anterior.
"O custo dos insumos para as
atividades básicas das prefeituras,
como remédios, energia elétrica e
alimentos, aumentaram acima da
inflação. O déficit dos municípios
está no custeio", disse o prefeito
de Cambé (PR), José do Carmo
(PTB), presidente da ABM (Associação Brasileira de Municípios).
A queixa dos prefeitos é que,
além da redução do FPM, houve
um aumento dos gastos das prefeituras. O salário mínimo, valor
pago a boa parte do funcionalismo das pequenas prefeituras, teve
aumento de 20% neste ano.
Levantamento feito na última
semana de outubro pela Associação dos Municípios do Paraná
mostrou que 90% dos 399 municípios paranaenses não têm recursos para pagar o 13º. "O Paraná tem imagem de Estado rico,
mas temos uma região muito pobre. Apenas 16% dos municípios
não dependem prioritariamente
do FPM. Todos os outros têm
mais de 50% das receitas proveniente do repasse", disse Joarez
Henrichs (PFL), prefeito de Barracão (PR) e presidente da AMP.
Em julho, a Associação Mato-grossense de Municípios informou ao Tribunal de Contas do Estado que as prefeituras teriam dificuldades para pagar o 13º deste
ano. "Estamos preocupados com
o pagamento do 13º desde o início
do ano, quando começou a queda
no FPM. Quando falta dinheiro,
os prefeitos não podem ser penalizados", disse Ezequiel Fonseca
(PP), prefeito de Reserva do Cabaçal (MT) e presidente da AMM.
Ele avalia que 30% dos municípios não devem pagar o benefício.
Para o especialista em tributação municipal Amir Khair, a saída
para os municípios é criar um sistema arrecadação própria com recolhimento do IPTU (Imposto
Predial e Territorial Urbano) e do
ISS (Imposto sobre Serviços).
"O município tem obrigação de
desenvolver sua receita própria.
Essa questão de dizer que não
consegue, eu ponho um pouco
em dúvida. Tem muito município
pequeno que desenvolve suas receitas próprias mais rapidamente
que os grandes", disse Khair: "Cobrar IPTU é desgastante politicamente para o prefeito".
Para o prefeito José do Carmo
(PTB), a cobrança do IPTU só seria possível se o país estivesse
crescendo. "Os economistas estão
corretos em apontar a cobrança
do IPTU e do ISS como alternativa, mas como fazer isso em um
cenário de retração da economia e
com desemprego em 14%?"
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