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OPERAÇÃO ANACONDA
Procuradores suspeitam de vazamento de informações
DA REPORTAGEM LOCAL
Dias antes da busca e apreensão
de bens e documentos, houve vazamento, no Judiciário e na Polícia Federal, de informações sobre
a Operação Anaconda.
O MPF (Ministério Público Federal) tem indicações de que desembargadores e juízes do primeiro grau, inclusive denunciados, sabiam que magistrados estavam sendo investigados.
Pela reação de alguns acusados,
procuradores que acompanharam a apreensão perceberam que
eles haviam sido informados previamente da operação.
Para reduzir as especulações em
torno da apuração, as procuradoras da República que estão à frente das investigações, Ana Lúcia
Amaral, Janice Ascari e Luiza
Cristina Frischeisen, pedirão a
quebra do segredo de Justiça de
toda a investigação, limitando o
sigilo às contas bancárias e documentos sobre a movimentação financeira dos acusados.
As ações da Operação Anaconda são acompanhadas, passo a
passo, pelo procurador-geral da
República, Cláudio Fonteles.
O pedido de quebra de sigilo segue o entendimento firmado pela
ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, para quem
investigação envolvendo juízes
não pode ter sigilo.
O possível vazamento é atribuído pelo MPF à demora entre a primeira comunicação ao TRF, com
pedido de monitoramento de juízes federais, em agosto, e as decisões seguintes pela desembargadora Therezinha Cazerta.
A denúncia foi oferecida no dia
13 de outubro. O mandado de
busca e apreensão só foi aprovado
no dia 22. A Polícia Federal não
estava preparada para detonar a
operação imediatamente.
Foram precisos vários dias para
traçar a logística, que envolveu a
vinda para São Paulo de agentes
federais de vários pontos do país.
O decreto determinando a prisão temporária foi firmado no dia
29. O MPF tem informações de
que vários juízes de primeira instância sabiam, bem antes dessa
data, que colegas seus estavam
sendo investigados.
O assunto foi comentado em
reunião de juízes de primeiro
grau. Outros desembargadores
do TRF, além da relatora, possuíam cópias da denúncia.
Relatora avisada
Às 5h45 do dia 30, quando os
policiais chegaram ao apartamento do juiz Rocha Mattos, na rua
Maranhão, já havia um veículo,
sem identificação nas portas, com
equipamento de televisão. Situação igual foi encontrada nos 14
pontos de busca e apreensão.
A procuradora que acompanhou essa diligência imaginou
que fosse equipe da própria PF, e
pediu ao comandante para identificar as pessoas.
Informada de que eram jornalistas, telefonou na mesma hora
para a desembargadora relatora,
Therezinha Cazerta. Posteriormente, o mesmo relato foi feito à
presidente do TRF, desembargadora Ana Maria Pimentel, e ao
corregedor do tribunal, desembargador Baptista Pereira.
O porteiro do prédio de Rocha
Mattos informou, inicialmente,
que o apartamento estava fechado. Avisou ao síndico, que telefonou ao juiz.
Rocha Mattos, que estava no
apartamento de sua ex-mulher,
Norma Regina Emílio Cunha, autorizou o arrombamento -o que
seria feito, independentemente de
sua autorização.
Pela maneira como conversou
com a procuradora e com os policiais, Rocha Mattos aparentava
saber da operação. Segundo procuradores, ele estava calmo, mas
reclamou do fato de ter sido invadido o apartamento de sua ex-mulher, na presença do filho. Disse que a operação deveria ter sido
dirigida apenas a ele.
Na tarde da sexta-feira, a Folha
consultou o TRF, por meio de sua
assessoria de comunicação, sobre
eventual vazamento de informação no tribunal. A assessoria informou que o órgão só deverá se
manifestar, se o fizer, durante esta
semana.
À noite, em nota oficial sobre a
Operação Anaconda e a reunião
do Órgão Especial, o TRF informou que "a matéria tramita sob
segredo de justiça".
(FV)
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