São Paulo, quinta, 10 de dezembro de 1998

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NOVO MANDATO
Presidente do partido defende queda dos juros e a privatização da estatal petrolífera e do Banco do Brasil
PFL pressiona pela venda da Petrobrás



ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília

O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, defende "um desmonte radical do Estado", com a privatização inclusive da Petrobrás e do Banco do Brasil.
Na sua opinião, um programa de privatização agressivo seria a melhor alternativa para driblar "a encruzilhada" do déficit fiscal e do déficit nas contas externas.
As duas outras saídas, que ele citou para descartá-las, seriam a emissão de moeda, que significaria a volta da inflação, e a liberalização do câmbio, que a seu ver geraria a perda de valor dos salários.
"Não há economia que se sustente com uma taxa de juros maior que 20% ao ano", reclamou Bornhausen durante jantar em sua casa, anteontem. O programa de estabilização do governo prevê que os juros ficarão, em média, em 21,9% no próximo ano.
A venda da Petrobrás e do Banco do Brasil já havia sido defendida pelo PFL na discussão do programa de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, como se trata de um tema polêmico, foi deixado de lado durante a campanha eleitoral.
FHC não descarta incluir as duas maiores empresas estatais no programa de privatização, que prevê a venda das empresas do setor elétrico no próximo ano.
² Conselho da Produção
Bornhausen insiste em que a criação do Ministério da Produção não deverá resolver a excessiva dependência da economia brasileira em relação ao capital externo. Ele propôs ao presidente a criação de um conselho da produção, com empresários de diferentes setores.
Citou como exemplos Jorge Gerdau Johannpeter (grupo Gerdau) e Paulo Cunha (Grupo Ultra). Além deles, participariam estrategistas como Eliezer Batista, ex-secretário de Assuntos Estratégicos (governo Collor) e colaborador do programa de governo de FHC.
"Com esse conselho, o ministro poderia ser qualquer um", comentou Bornhausen. Ele só exclui um nome: o do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros. "Isso seria inviável, não apenas politicamente", disse.
Naquele horário, Mendonça de Barros estava justamente reunido com FHC e um grupo de empresários no Palácio da Alvorada. Ligado ao PSDB, o ex-ministro era considerado certo no Ministério da Produção antes do episódio do grampo no BNDES.
Para o presidente do PFL, o Ministério da Produção embute dois outros problemas: "Em época de ajuste fiscal, não se cria ministério, extingue-se. Além disso, não se cria uma pasta para uma pessoa, como estava sendo feito".
Bornhausen insiste em que a idéia anunciada por FHC só teria sentido se abrangesse também o Ministério da Agricultura. "Para não virar um MICT (Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo) ampliado e só", disse.
O deputado Saulo Queiroz (PFL-MS), a seu lado, defendeu mecanismos específicos para estimular a produção: "Essa política monetarista vai acabar com as empresas, com os empregos".
Bornhausen aproveitou para elogiar o ministro Pedro Malan (Fazenda): "É um ministro sério. É uma sorte o Brasil ter um ministro como o Malan numa hora dessas".
O PFL já rejeitou a possibilidade de o vice-presidente Marco Maciel vir a ser ministro da Defesa. A pasta não se encaixa nos planos políticos do partido.
O que o partido quer é o futuro Ministério do Desenvolvimento Urbano, a ser criado no ano que vem, com o controle da CEF (Caixa Econômica Federal).
Outra crítica às mudanças em estudo no governo sobre o formato da Esplanada tem como alvo a possível transferência dos programas de irrigação do Ministério do Meio Ambiente, comandado pelo PFL.
Segundo Bornhausen, um empresário português decidiu investir em torno de US$ 100 milhões na produção de feijão na Argentina em 99. "E sabem por que ele optou pela Argentina, não pelo Brasil? Porque lá não tem MST", disse.



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