São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Gomes da Silva nega ter disparado arma após sequestro de Daniel, mas 4 pessoas acusam pelo menos um tiro

Novas testemunhas contradizem empresário

EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

Com seus nomes mantidos sob total sigilo, quatro testemunhas que estavam num mesmo carro no dia do sequestro de Celso Daniel, em 18 de janeiro de 2002, apresentaram ao Ministério Público de São Paulo uma versão na qual fica indicado que o empresário Sérgio Gomes da Silva efetuou pelo menos um disparo de revólver minutos após a ação da quadrilha -o que é negado pelo amigo do prefeito de Santo André.
A versão de uma outra testemunha, cuja voz foi gravada pelo 190 da Polícia Militar, já havia trazido contradições aos relatos de Gomes da Silva.
Na denúncia dos promotores de Santo André, Gomes da Silva é acusado de ter contratado uma quadrilha e forjado o sequestro de Daniel -efetuando disparos com o objetivo de simular uma ação violenta dos sequestradores. Gomes da Silva e Daniel, encontrado morto a tiros dois dias depois, estavam juntos numa Pajero.
Com a morte do prefeito petista, o empresário, que está preso há um mês numa cadeia pública de Juquitiba (SP), poderia manter um suposto esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André, de acordo com os promotores.
A Agência Folha apurou que as testemunhas se dividiram em duplas para prestar depoimento, dados aos promotores em setembro e nunca revelados. Uma delas, que diz estar disposta a depor à Justiça, caso seja convocada, falou anteontem à reportagem.
Trafegando no sentido Santo André-São Paulo (a Pajero vinha no sentido contrário), a testemunha afirma ter ouvido um disparo de revólver no momento em que já estava na rua Antonio Bezerra (zona sul de SP), onde o prefeito foi retirado do carro pelos sequestradores.
Cerca de 20 segundos depois, se deparou com a Pajero parada no meio da rua. Ao lado do carro, havia apenas um homem [que, em depoimento, foi apontado por elas como sendo Gomes da Silva]. O trajeto da rua é repleto de subidas e descidas.
"Ouvi o tiro e após alguns segundos passamos ao lado da Pajero. Ela estava estacionada no meio da rua. O Sérgio estava muito nervoso, andava de um lado para o outro e apontava o revólver para todos os lados, inclusive para o nosso carro", disse a testemunha à Agência Folha.

Pajero isolada
Os ocupantes do carro disseram aos promotores não terem visto nenhum carro em fuga, que poderia ser dos sequestradores, e sim apenas a Pajero isolada na rua.
Imediatamente após cruzarem com Gomes da Silva, uma das testemunhas do carro telefonou duas vezes de seu telefone celular para o serviço de urgência da PM. A primeira ligação não completou. Na segunda, relatou o que havia visto e ouvido, sendo informada de que policiais já estavam se dirigindo ao local.
Conforme a Folha revelou no início de dezembro, outra testemunha, que mora nas proximidades do local do sequestro, telefonou ao 190 da PM minutos após a ação da quadrilha e declarou ter visto uma Pajero abandonada na rua e um único homem, ao lado do carro, com um revólver na mão. Durante o diálogo, dois disparos foram ouvidos e gravados pela PM. O homem com a arma foi identificado pela testemunha como sendo Gomes da Silva.
A pistola 380 que estava com Gomes da Silva foi apreendida. Uma perícia policial revelou vestígios de disparos recentes -o que engloba até dias anteriores. No local do sequestro, foi encontrado um cartucho de uma 9 mm.


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