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BRASIL PROFUNDO
Listas da Defesa Civil e do Exército não batem
Municípios em estado de emergência estão sem receber água de carro-pipa
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Mesmo depois de ter o reconhecimento da situação de emergência pela União, 92 municípios que
sofrem com a seca no Nordeste,
norte de Minas Gerais e Espírito
Santo estão sem receber o abastecimento de água por meio de carros-pipa do governo federal.
Por outro lado, 201 municípios
que não tiveram a situação de
emergência atualizada e reconhecida por portarias do governo federal estão usufruindo do auxílio
do Exército, órgão responsável
pela distribuição dos carros-pipa
desde o ano passado.
O levantamento foi feito pela
Agência Folha ao comparar a lista
de onde já foi decretada situação
de emergência, divulgada pela Secretaria Nacional da Defesa Civil,
com a relação dos locais que estão
recebendo os carros-pipa.
A segunda lista deveria ser idêntica à da Defesa Civil: todos os
municípios que já tiveram reconhecida a situação de emergência
ou de calamidade pelo governo
federal, em decorrência da seca,
deveriam receber água. Até o fechamento desta edição, havia 133
municípios em emergência, mas
só 41 tinham o auxílio.
Até 2002, era o Ministério da Integração Nacional o único responsável pelo socorro à população atingida pela seca. A partir de
2003, o fornecimento passou a ser
feito em parceria com o Ministério Extraordinário da Segurança
Alimentar e pelo Exército.
Se, por um lado, a maioria dos
municípios que tem decretada a
situação de emergência reconhecida pelo governo federal não está
sendo atendida por carros-pipa,
por outro, a ajuda está chegando a
lugares onde as portarias de decretação da situação emergência
já não valem mais.
É o que ocorre no Piauí: apesar
de nenhum município ter o reconhecimento da situação de emergência pela União, o Exército leva
ajuda a 54 municípios no Estado.
Em Minas, o mesmo se repete: há
quatro municípios com situação
de emergência reconhecida, mas
74 estão recebendo carros-pipa.
Outro lado
A Secretaria Nacional da Defesa
Civil admite que muitas cidades
em que já foi decretada a situação
de emergência devido à seca estão
sem receber carros-pipa.
Para a coordenadora do departamento de respostas a desastres e
reconstrução da secretaria, Xênia
Garcia, muitas vezes um local deixa de ser atendido porque há uma
confusão entre o roteiro de atendimento apresentado pelo município, logo no início do processo
de decretação do estado de emergência, e o mapa que o Exército
julga ser o correto.
A vistoria que deveria ser feita
pelas coordenadorias estaduais
da Defesa Civil nos municípios,
que serviriam para verificar também os roteiros de atendimento,
nem sempre são feitas. Outro problema que atrasa a distribuição de
água é a própria disponibilidade
de carros-pipa nos locais.
Por outro lado, a coordenação
da Operação Pipa, no Coter (Comando de Operações Terrestres),
em Brasília, informou que todos
os ofícios remetidos pela secretaria estão sendo atendidos e responsabilizou a própria Defesa Civil, no caso de haver algum município com situação de emergência
decretada que não seja atendido.
Para ter o reconhecimento da
decretação da situação de emergência ou de calamidade pública,
o município tem de passar por
uma série de trâmites burocráticos, discriminados em um manual aprovado pelo Conselho Nacional de Defesa Civil.
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