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Citado como fonte, fundador do PV diz que mandava recado ao "Império"
DA REPORTAGEM LOCAL
O escritor Alfredo Sirkis, 51,
fundador do PV (Partido Verde) e
hoje secretário de Urbanismo da
Prefeitura do Rio de Janeiro, foi
convidado "algumas vezes", com
outros ambientalistas, na década
de 90 pelo consulado dos Estados
Unidos no Rio para falar sobre
ambiente e, eventualmente, o
programa nuclear brasileiro.
Acabou sendo citado como fonte dos americanos num dos documentos liberados pelo governo
americano sobre o programa brasileiro. "Alfredo Sirkis, ativista da
área de meio ambiente e conselheiro da prefeitura [do Rio] em
assuntos ambientais, falando com
o cônsul-geral, expressou prazer
com a publicidade resultante da
liberação do estudo", diz o documento despachado em abril de
1994. Informava Washington que
estudo do TCU (Tribunal de Contas da União) indicava a necessidade de investimento de US$ 1,5
bilhão a US$ 2 bilhões para concluir as obras da usina Angra 2.
"Nós não éramos ingênuos a
ponto de acreditar que nunca usariam as conversas que tínhamos.
Mas eram informações acessíveis,
públicas. Também aproveitávamos para mandar uns recados para o "Império'", disse Sirkis.
Segundo o secretário, os contatos com o consulado, que ele descreve como parte de um esforço
maior do governo americano de
aproximação com a "comunidade", foram mais intensos durante
os dois mandatos do presidente
Bill Clinton (1992-2000). "Desde
quando Bush assumiu [em 2001],
não temos mais notícia desse tipo
de aproximação", disse Sirkis.
Para o secretário, o interesse
maior dos americanos sobre as
atividades brasileiras na área nuclear era certificar-se de que não
havia proliferação de armas atômicas no Brasil. O país é signatário de dois acordos nesse sentido.
Outro ambientalista citado no
relatório é o geólogo Ruy de Goes,
51, então no Greenpeace. Hoje ele
ocupa cargo de diretoria no Ministério do Meio Ambiente e tem
participado de discussões sobre a
questão nuclear no governo Lula.
Ele disse que, na época, nunca foi
procurado formalmente por autoridade americana. Um dos relatórios menciona reportagem de
jornal: "O coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace, Rui de Gois [sic], está ameaçando levar Furnas à Justiça, de
acordo com reportagens da imprensa. Gois alega que Furnas escondeu informações a respeito da
situação em Angra 1".
Um dos principais equívocos
dos relatórios, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, foi
a alegação de que a construção da
usina Angra 3 estava condicionada à demanda de energia elétrica
no país. O principal empecilho, na
avaliação dos técnicos, além das
pressões de ambientalistas, foi
mesmo econômico, de pura falta
de dinheiro. O relatório joga a
"necessidade" da obra para 2015,
caso a demanda fosse baixa ao
longo da década de 90. A Eletronuclear, estatal responsável pelas
usinas, em nota, disse desconhecer estudo que aponte essa data.
Mas também houve muitos
acertos, como o de que Angra 2
seria inaugurada ainda na gestão
de Fernando Henrique -o relatório diz que ela seria acabada no
final de 1998 ou início de 1999. A
usina entrou em operação em julho de 2000.
(RV)
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