São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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Citado como fonte, fundador do PV diz que mandava recado ao "Império"

DA REPORTAGEM LOCAL

O escritor Alfredo Sirkis, 51, fundador do PV (Partido Verde) e hoje secretário de Urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro, foi convidado "algumas vezes", com outros ambientalistas, na década de 90 pelo consulado dos Estados Unidos no Rio para falar sobre ambiente e, eventualmente, o programa nuclear brasileiro.
Acabou sendo citado como fonte dos americanos num dos documentos liberados pelo governo americano sobre o programa brasileiro. "Alfredo Sirkis, ativista da área de meio ambiente e conselheiro da prefeitura [do Rio] em assuntos ambientais, falando com o cônsul-geral, expressou prazer com a publicidade resultante da liberação do estudo", diz o documento despachado em abril de 1994. Informava Washington que estudo do TCU (Tribunal de Contas da União) indicava a necessidade de investimento de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões para concluir as obras da usina Angra 2.
"Nós não éramos ingênuos a ponto de acreditar que nunca usariam as conversas que tínhamos. Mas eram informações acessíveis, públicas. Também aproveitávamos para mandar uns recados para o "Império'", disse Sirkis.
Segundo o secretário, os contatos com o consulado, que ele descreve como parte de um esforço maior do governo americano de aproximação com a "comunidade", foram mais intensos durante os dois mandatos do presidente Bill Clinton (1992-2000). "Desde quando Bush assumiu [em 2001], não temos mais notícia desse tipo de aproximação", disse Sirkis.
Para o secretário, o interesse maior dos americanos sobre as atividades brasileiras na área nuclear era certificar-se de que não havia proliferação de armas atômicas no Brasil. O país é signatário de dois acordos nesse sentido.
Outro ambientalista citado no relatório é o geólogo Ruy de Goes, 51, então no Greenpeace. Hoje ele ocupa cargo de diretoria no Ministério do Meio Ambiente e tem participado de discussões sobre a questão nuclear no governo Lula. Ele disse que, na época, nunca foi procurado formalmente por autoridade americana. Um dos relatórios menciona reportagem de jornal: "O coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace, Rui de Gois [sic], está ameaçando levar Furnas à Justiça, de acordo com reportagens da imprensa. Gois alega que Furnas escondeu informações a respeito da situação em Angra 1".
Um dos principais equívocos dos relatórios, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha, foi a alegação de que a construção da usina Angra 3 estava condicionada à demanda de energia elétrica no país. O principal empecilho, na avaliação dos técnicos, além das pressões de ambientalistas, foi mesmo econômico, de pura falta de dinheiro. O relatório joga a "necessidade" da obra para 2015, caso a demanda fosse baixa ao longo da década de 90. A Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas, em nota, disse desconhecer estudo que aponte essa data.
Mas também houve muitos acertos, como o de que Angra 2 seria inaugurada ainda na gestão de Fernando Henrique -o relatório diz que ela seria acabada no final de 1998 ou início de 1999. A usina entrou em operação em julho de 2000. (RV)


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