São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2004

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CÚPULA DAS AMÉRICAS

Para Marco Aurélio Garcia, é hora de tomar a temperatura do continente após importantes mudanças

Encontro no México reúne 14 novos líderes

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

A foto tipo "álbum de família" que os governantes das Américas tirarão amanhã, como parte da Cúpula de Monterrey, vai mostrar 14 rostos novos na comparação com a Cúpula das Américas anterior, realizada faz apenas dois anos e meio, em Québec.
Por isso, entre outras razões, Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diz que o encontro servirá, acima de tudo, para "medir a temperatura e a pressão no continente depois das importantes mudanças havidas".
Até o início do ano, a temperatura era amena e a pressão reduzida, mas declarações críticas de funcionários norte-americanos contra os presidentes Néstor Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela) elevaram artificialmente a temperatura.
"Foram declarações inadequadas de subs de subs que só fazem esquentar a cúpula", acredita Garcia, aludindo a Roger Noriega, de fato subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, e a outro diplomata, ainda menos graduado.
Kirchner foi acusado de levar a Argentina para a esquerda, causando "desapontamento" em Washington. Chávez, pior ainda: estaria metido em uma conspiração anti-EUA com Fidel Castro, o ditador cubano que é o único dos 35 mandatários americanos não convidado para Monterrey, porque Cuba não é uma democracia.
Garcia falou antes de ser divulgada uma declaração de Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional, que não pode ser chamada de sub, também atacando Chávez.
Paradoxalmente, será Lula, em tese o mais esquerdista dos governantes americanos, quem funcionará como bombeiro. "Nós não vamos subir o tom", antecipa Marco Aurélio Garcia.
Seja como for, a pressão era forte no hotel Quinta Real até a tarde de ontem, porque os diplomatas que tentam fechar o documento final não conseguiam superar os temas mais delicados, como a menção a fazer à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a linguagem no parágrafo relativo à corrupção.

Terrorismo
A dificuldade básica é causada pela diferença de prioridades. Os Estados Unidos queriam aproveitar a cúpula para apresentar uma frente americana no combate ao terrorismo, que é sua prioridade absoluta.
Mas não é essa a prioridade para os países em desenvolvimento da região (todos, menos Estados Unidos e Canadá). Relata Marco Aurélio Garcia:
"O terrorismo é de fato importante e grave, mas evidentemente tem para nós um peso menor que o problema da pobreza e da exclusão, que, por sua vez, tem peso menor para europeus e norte-americanos".
O governo brasileiro teme que haja "uma tentativa de transposição dos grandes temas de segurança internacional para a América Latina", diz o assessor de Lula.
Completa: "Não vejo que esses temas estejam colocados aqui".
No fim da noite de sexta-feira (já madrugada de sábado no Brasil), o temor de Garcia não se materializou.
Os negociadores fecharam o texto relativo ao terrorismo, de "forma adequada", na avaliação da delegação brasileira. Ou seja, dirá que os esforços para combater o terrorismo devem ser feitos de acordo com os mecanismos já existentes de cooperação, sem criar nada novo.
E não figurará no abre da declaração, o que lhe daria peso maior.


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