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CÚPULA DAS AMÉRICAS
Para Marco Aurélio Garcia, é hora de tomar a temperatura do continente após importantes mudanças
Encontro no México reúne 14 novos líderes
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
A foto tipo "álbum de família"
que os governantes das Américas
tirarão amanhã, como parte da
Cúpula de Monterrey, vai mostrar
14 rostos novos na comparação
com a Cúpula das Américas anterior, realizada faz apenas dois
anos e meio, em Québec.
Por isso, entre outras razões,
Marco Aurélio Garcia, assessor
internacional do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, diz que o encontro servirá, acima de tudo, para "medir a temperatura e a pressão no continente depois das importantes mudanças havidas".
Até o início do ano, a temperatura era amena e a pressão reduzida, mas declarações críticas de
funcionários norte-americanos
contra os presidentes Néstor
Kirchner (Argentina) e Hugo
Chávez (Venezuela) elevaram artificialmente a temperatura.
"Foram declarações inadequadas de subs de subs que só fazem
esquentar a cúpula", acredita
Garcia, aludindo a Roger Noriega,
de fato subsecretário de Estado
para Assuntos Interamericanos, e
a outro diplomata, ainda menos
graduado.
Kirchner foi acusado de levar a
Argentina para a esquerda, causando "desapontamento" em
Washington. Chávez, pior ainda:
estaria metido em uma conspiração anti-EUA com Fidel Castro, o
ditador cubano que é o único dos
35 mandatários americanos não
convidado para Monterrey, porque Cuba não é uma democracia.
Garcia falou antes de ser divulgada uma declaração de Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional, que não pode ser
chamada de sub, também atacando Chávez.
Paradoxalmente, será Lula, em
tese o mais esquerdista dos governantes americanos, quem funcionará como bombeiro. "Nós não
vamos subir o tom", antecipa
Marco Aurélio Garcia.
Seja como for, a pressão era forte no hotel Quinta Real até a tarde
de ontem, porque os diplomatas
que tentam fechar o documento
final não conseguiam superar os
temas mais delicados, como a
menção a fazer à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e a
linguagem no parágrafo relativo à
corrupção.
Terrorismo
A dificuldade básica é causada
pela diferença de prioridades. Os
Estados Unidos queriam aproveitar a cúpula para apresentar uma
frente americana no combate ao
terrorismo, que é sua prioridade
absoluta.
Mas não é essa a prioridade para
os países em desenvolvimento da
região (todos, menos Estados
Unidos e Canadá). Relata Marco
Aurélio Garcia:
"O terrorismo é de fato importante e grave, mas evidentemente
tem para nós um peso menor que
o problema da pobreza e da exclusão, que, por sua vez, tem peso
menor para europeus e norte-americanos".
O governo brasileiro teme que
haja "uma tentativa de transposição dos grandes temas de segurança internacional para a América Latina", diz o assessor de Lula.
Completa: "Não vejo que esses
temas estejam colocados aqui".
No fim da noite de sexta-feira
(já madrugada de sábado no Brasil), o temor de Garcia não se materializou.
Os negociadores fecharam o
texto relativo ao terrorismo, de
"forma adequada", na avaliação
da delegação brasileira. Ou seja,
dirá que os esforços para combater o terrorismo devem ser feitos
de acordo com os mecanismos já
existentes de cooperação, sem
criar nada novo.
E não figurará no abre da declaração, o que lhe daria peso maior.
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