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Elio Gaspari
A CVM quer abrir a caixa-preta das S.A.
As empresas de capital aberto não precisam esconder a remuneração
de seus diretores
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A ASSOCIAÇÃO Brasileira de Companhias Abertas, a Abrasca, está condenando uma proposta da Comissão de Valores Mobiliários para que as
companhias que oferecem ações à choldra revelem a remuneração de seus diretores e conselheiros. Atualmente essas
cifras são transmitidas dentro de uma
caixa-preta onde entram salários, bônus
e vantagens diversas.
O presidente da Abrasca, Antonio Castro, despreza a iniciativa: "Essa divulgação é mais um tema de curiosidade do
que de necessidade para os acionistas".
Falso. Em primeiro lugar porque o sistema atual destina-se muito mais a esconder do que a revelar. Quando mistura
conselheiros e diretores, equipara empresas onde os conselhos têm remunerações quase simbólicas com firmas de
origem familiar nas quais os herdeiros-conselheiros às vezes remuneram-se
acima dos padrões das diretorias-executivas (a turma que carrega o piano).
Ademais, a caixa-preta mandada à
CVM não discrimina as diversas modalidades de remuneração. Salário é uma
coisa, bônus é outra e opção de compra
de ações, muito outra. Essa distinção é
obrigatória nos Estados Unidos, e as
grandes empresas brasileiras listadas
nos pregões americanos cumprem a exigência sem reclamar. Lá, as empresas
americanas identificam nominalmente
apenas os embolsos de seus três principais executivos.
A má vontade da Abrasca diante do interesse da CVM servirá sobretudo para
demonizar os executivos brasileiros das
empresas de capital aberto. (As de capital fechado podem fazer o que acham
melhor, pois não captam dinheiro na
Bolsa.) Numa época em que o mundo está enraivecido com os US$ 34,4 milhões
embolsados por Richard Fuld um ano
antes de quebrar o Lehman Brothers, fica a impressão de que algo semelhante
acontece em Pindorama. Nem de longe.
Num chute, pode-se supor que haja no
Brasil dez megaexecutivos com salários
acima de R$ 100 mil mensais e bônus em
torno de R$ 15 milhões anuais. Talvez
haja 500 diretores com bonificações de
R$ 1 milhão. (Ficam fora dessa estimativa os afortunados que trabalharam na
festa das aberturas de capital.)
A CVM abriu uma audiência pública
para discutir seu projeto e a conversa irá
até 30 de março. O texto da proposta está no sítio da instituição, indo-se ao botão "Audiência pública" e dele ao item
"Normas", lá, é o primeiro da lista. Se a
Abrasca tiver sugestões mais práticas (e
sinceras) que a teoria da "curiosidade", o
mercado só terá a ganhar. Afinal, como
disse o juiz Hugo Black, da Suprema
Corte dos Estados Unidos: "A luz do sol é
o melhor dos detergentes".
Remédio infalível contra banco voraz
A contração do crédito soltou uma nova assombração
no mercado imobiliário. O cidadão comprou um imóvel,
pagou o que devia durante a
construção e, na hora de receber as chaves, o banco que poderia financiá-lo quer juros
mais altos do que havia proposto meses antes. Disso resulta que uma prestação de R$
900 pode pular para R$ 1.000.
Junto com a facada vem uma
parolagem de crise mundial e
recessão brasileira.
Antes de se desesperar (ou
cair no conto), os interessados
devem saber que há na praça
três bancos que não mexeram
nas taxas dos empréstimos
imobiliários: a Caixa, que tem
69% do mercado, o Santander
(7%) e o Banco do Brasil (1%).
Num financiamento hipotético de R$ 150 mil para um imóvel de R$ 300 mil, quem não
subiu os juros cobra 10,5%
mais a TR. Quem subiu, pede
até a TR mais 12,5% ao ano.
O pedaço da banca que mexeu nos juros fez isso por puro
exagero, pois a taxa de inadimplência do crédito imobiliário é baixa. A da Caixa caiu
de 3,51% em 2006 para 1,96%
em novembro 2008.
CAIXA 2009
O comissariado petista no
Congresso deixou claro: Lula
precisa do Fundo Soberano para
operar sem as amarras do Orçamento e da negociação parlamentar. Trata-se de um caixa de
R$ 14,2 bilhões.
2010
Caiu a ficha no Planalto: o primeiro semestre deste ano receberá um pequeno empuxo do
crescimento de 2008, mas, pelo
mesmo raciocínio, as dificuldades econômicas do segundo semestre contaminarão a primeira metade de 2010. Nosso Guia e
dona Dilma arriscam entrar numa campanha presidencial sem
a carta do crescimento.
QUEM SOIS?
Mais uma aula da "Velha Senhora Grisalha", apelido que os
jornalistas colaram no "New
York Times". Na semana passada ele publicou um longo artigo
assinado pelo jornalista Michael
Lewis e pelo investidor David
Einhorn, presidente do Fundo
Greenlight Capital. Naquela notinha de rodapé onde se qualificam os autores dos textos, o "Times" esclareceu: "Carteiras de
investimentos do Greenlight
podem ter conexão (a curto ou
longo prazo) com papéis discutidos neste artigo". O esclarecimento ajuda a patuleia a saber
com quem está falando.
MARTINO NO BRASIL
O cardeal Renato Martino,
que comparou Gaza a um campo de concentração, é figura
lembrada em Brasília. Serviu na
Nunciatura Apostólica de 1975 a
1980. Ele e o núncio Carmine
Rocco tentaram expulsar da legação um fugitivo da cadeia que
buscava asilo político. Dias depois, o asilado recebeu uma carta-bomba, interceptada pelo
monsenhor e desmontada por
agentes americanos.
ESPERTEZA DEMAIS
A caciquia tucana injetou
uma esperteza tóxica no processo de escolha do candidato
do partido para 2010. Vão devagar, quase parando, na discussão das prévias. Com Aécio Neves empenhado na realização
desse projeto, a asfixia da ideia
será um convite para que em
2010 ele reapareça do outro lado do morro, dando a Dilma
Rousseff o apoio que deu a Lula
em duas eleições.
AVAREZA
Já não se fazem milionários
como antigamente. Os herdeiros de Pamela Harriman botaram no mercado uma parte da
coleção de obras de seu último
marido, o diplomata e político
democrata Averell Harriman.
No lote, vai uma bailarina de
Degas, com direito a tutu. Pedem R$ 40 milhões. Harriman
(1881-1986) herdou uma fortuna do pai, um dos barões das
ferrovias no século 19, foi governador de Nova York e embaixador na União Soviética
durante a Segunda Guerra. A
bailarina de Degas ficava numa
saleta de sua casa, onde havia
um Van Gogh sobre a lareira e
um Cézanne em cima do sofá.
Quando ele soube que o
Masp tinha outro exemplar
dessa escultura, desapontou-se: "Pensei que existissem poucos". Ironia da vida: no Brasil,
um jornalista bucaneiro (Assis
Chateabriand) botou a peça
num museu público, enquanto
a dele irá ao martelo. Harriman
foi um dos homens mais educados do seu tempo, e dona Pamela morreu em 1997. Se alguém somasse o patrimônio de
todos os seus namorados, bateria o PIB de muitos países:
Gianni Agnelli, Elie de Rotschild, Ali Khan e Stavros Niarchos. Duros, só o primeiro marido, Randolph Churchill (o filho cachaceiro de Sir Winston)
e o repórter Ed Murrow.
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